Muitos fãs lembram onde estavam e o que faziam no momento da transmissão de The Last One, último episódio da aclamada série Friends, criada por David Crane e Marta Kauffman, que angariou 52,46 milhões de espectadores em uma única noite, marcando para sempre os nossos corações conforme a câmera fazia aquele último close no olho mágico do apartamento de Monica.
É, galera. Já se vão 30 anos desde que o primeiro episódio estreou em setembro de 1994.
Uma rápida olhada nas comunidades sobre a série na internet (que veio para aumentar a base de fãs de qualquer produto) e descobrimos que muita gente ainda assiste Friends todos os dias de suas vidas em seus horários livres, reprisando o seriado dezenas de vezes. Acredite: faço o mesmo. Às vezes, simplesmente não há nada bom na televisão ou já encerramos todos os episódios de outras séries, mas os seis amigos vão estar lá para nós. É uma atração natural. Essa galera da pesada consegue nos tirar muitas gargalhadas inúmeras vezes.
Por que ainda nos identificamos com eles, mesmo que o tempo passe?
Friends é uma base para qualquer seriado televisivo de comédia que queira se relacionar com seus espectadores. Existiram outros bem sucedidos, porém, nem tanto. Two and a Half Man falhou em diversos outros aspectos e The Big Bang Theory não tem metade do carisma. O mais próximo que tivemos nos últimos anos foi How I Met Your Mother, mas ainda faltava algo. Faltava aquela carisma em cada personagem e a identificação individual com cada um dos amigos, suas personalidades e trapalhadas.
Friends consegue captar a essência das pessoas em cada momento de suas vidas. O inicio do seriado mostra um grupo de solteirões falhando em amores e ralando para conseguir o trabalho de suas vidas. Em dez anos, a série evoluiu grandiosamente, apresentando problemas reais sem utilizar piadas ofensivas (racistas ou sexuais) como a grande maioria dos sitcoms faz apenas para conseguir uma ou duas gargalhadas. O seriado, por não fazer uso desse humor forçado, se tornou apropriado para todos amarem. Enquanto, pensando bem, é difícil realmente se importar com o destino da maioria de personagens e seriados de comédia por aí, Friends fez os fãs se preocuparem e ainda clamarem por uma volta triunfal. Afinal, não é à toa que muita gente ainda quer um filme.
Em dez anos corridos, acompanhamos a relação amigável e amorosa entre Ross e Rachel. Acompanhamos o crescimento de Joey como um homem mais decente com as mulheres e a perspectiva de ser um ator de verdade. O amadurecimento de Chandler e seu relacionamento com a problemática Monica e, claro, Phoebe deixar para trás um passado sombrio e ser realmente feliz com Mike (um dos personagens introduzidos de forma mais inteligente na trama). E sabe a verdade sobre tudo isso? Essas coisas realmente acontecem no cotidiano de milhares de pessoas. Batalhar, trabalhar, amar, casar e ter filhos faz parte da vida e é por isso que Friends deu certo.
Com essa genialidade no desenvolvimento, palpada pela nossa vida – sendo uma paródia tragicômica, uma verdadeira comédia grega -, Friends conseguiu finalizar do jeito certo. Acertou tudo como deveria ser, deixando Ross e Rachel para tentar mais uma vez, Chandler e Monica com suas crianças, Phoebe casa e Joey passar a ser o verdadeiro solteirão. Tudo com a mística do olho mágico e uma última piadinha sobre onde tomar café.
Claro que o seriado errou, inclusive em algumas temporadas com personagens e arcos desnecessários servindo apenas para dar audiência e aumentar a vida da série, contudo, sempre iremos assistir. Quando precisamos relembrar o passado e a vida festeira podemos procurar os episódios anteriores à quinta temporada, mas quando é necessário algo mais familiar no domingão procuramos os episódios finais. Ou quando bate aquela insônia no meio da noite, basta ligar o Max e assistir “The One With the Embryos” para ver se finalmente acertamos o trabalho de Chandler Bing (analista de estatística e processador de dados).
Sabe por que conseguimos assistir Friends de novo, de novo e de novo? Porque eles estarão lá para nós quando a chuva parar.