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Ler é Bom, Vai | Munique, de Robert Harris, é uma grande aula de história

Sempre me interessei por assuntos relacionados às Guerras Mundiais. Estudei em escola alemã, e por isso pegava para ler toda e qualquer matéria que envolvesse o país durante tais períodos. Quando li o título de Munique, livro de Robert Harris publicado pela Editora Alfaguara, sabia que iria gostar. A obra não apenas traz uma série de conteúdos históricos, como consegue encaixá-los em um thriller impressionante. Diferente das tramas habituais de aventura fictícia que compõe o Ler é Bom, Vai!, essa relata momentos reais na história. E não há nada melhor do que aprender se divertindo.

Sinopse

Setembro de 1938, Hitler está desesperado para começar a guerra. Chamberlain quer manter a paz a qualquer custo. O desfecho da disputa acontecerá em Munique, em um dos momentos decisivos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. Hugh Legat é uma estrela em ascensão no serviço diplomático britânico, servindo como secretário do primeiro-ministro, Neville Chamberlain. Paul von Hartmann é membro do time de relações exteriores da Alemanha, mas secretamente pertence a um grupo anti-Hitler. Os dois foram amigos em Oxford durante a década de 1920, mas perderam o contato com o tempo. Agora, enquanto Hugh viaja com Chamberlain de Londres para Munique e Paul acompanha Hitler em sua viagem noturna de Berlim, o caminho dos dois amigos está fadado a uma colisão desastrosa. 

O Livro

Apenas pela sinopse já dá para ter um gostinho do que vem por aí. A trama nos transporta para um momento decisivo na história do mundo. Enquanto trincheiras eram cavadas, mulheres e crianças corriam dentro de casa para se protegerem dos efeitos da guerra. Hitler estava disposto a recuperar tudo aquilo que havia perdido até então, independente das consequências. Neville Chamberlain, primeiro ministro britânico, propôs a Política do Apaziguamento, na qual buscava devolver a paz ao continente europeu. Disposto a alcançar a tranquilidade a qualquer custo, assinou o tratado proposto na Conferência de Munique em setembro de 1938. Nele, concordava com as exigências de Hitler, desde que fosse sua última reivindicação territorial. Em troca, o tratado confirmava a entre da Checoslováquia para Alemanha. Vale lembrar que o estado em questão não foi convidado para a reunião.

” – O secretário do Exterior acaba de nos fornecer argumentos fortes e talvez convincentes contra a minha proposta, embora este seja, a meu ver, a última chance real de que dispomos. – Ele olhou para os ministros. – Mas se for este o ponto de vista geral dos colegas… – Ele fez uma pausa carregada de expectativa, como um leiloeiro esperando um lance decisivo. – Se for este o ponto de vista geral – repetiu – , estou pronto para aceitar que assim seja.”

Munique
Divulgação/Editora Alfaguara

Robert Harris descreve minuciosamente cada parte deste momento histórico. Através de fatos, personagens e discursos, expõe ao leitor ambos os lados da moeda. Independente de sua opinião política – embora se você apoie Adolf Hitler, recomendamos um psicólogo -, o livro traz informações. Para quem não é fã de livros didáticos, é uma ótima chance de descobrir os nomes responsáveis por certas decisões. Chamberlain, por exemplo, sacrificou toda uma população em prol do restante da Europa.

Não e preciso muito esforço para encontrar sites que descrevam o primeiro ministro como covarde. Entretanto, ao nos colocarmos no lugar dele, teríamos feito diferente? Após a morte de milhares de britânicos na primeira guerra, tudo que ele quer no momento é arrumar tempo. Embora o poderio militar da Inglaterra fosse numeroso, era apenas um terço do que acreditava-se ser necessário para defender Londres. Por analogia, o sistema aéreo de defesa também encontrava-se desfalcado.

Os objetivos de Hitler eram bem claros, assim como sua falta de empatia e excesso de autoconfiança. O alemão estava disposto a tudo para seguir seus ideais, por mais que mais vidas fossem perdidas.

“O documento continuava lá dentro. Ele abaixou a cabeça, aliviado. Sentiu o corpo pender para um lado. Houve lá fora um guincho de metal, um ligeiro tremor debaixo dos seus pés. Ele ergueu os olhos. O sol brilhava nas paredes das casas e dos prédios de apartamentos. Havia suásticas penduradas em algumas janelas. Estavam chegando a Munique” 

Munique
Knopf

Não podemos esquecer que Munique é uma obra de ficção, com elementos verídicos. Os dois personagens fictícios adicionados por Harris nos ajudam a ter uma visão de expectador de tudo aquilo. De um lado um britânico, do outro um alemão, cujas vidas se separaram após serem colegas de classe em Oxford.  Hugh Legat agora é o secretário de Chamberlain, escolhido pelo alemão fluente. Paul von Hartmann está na comitiva de Hitler, embora faça parte de um grupo secreto de militares diplomáticos em Berlin. Juntos, pretendem conseguir derrubar o líder alemão. Durante a conferência, Hartmann fornece ao amigo britânico informações sobre os planos de Hitler, que poderiam vir a ajudar Chamberlain.

As informações histórias não são, contudo, os únicos elementos do livro. Buscando aliviar um pouco o clima tenso, Harris cria um arco de cenas envolvendo as amadas de cada um de seus dois protagonistas. Até mesmo o nome de Eva Braun é mencionado.

Em suma, Munique nos dá uma grande aula de história, com elementos fictícios que a tornam mais atrativa. A criação de seus personagens ajuda o expectador a não se perder em meio a tantos nomes e informações. Para quem gosta do assunto é um prato cheio, enquanto para quem não curte, é uma ótima oportunidade de passar a gostar.