Mais um passo dado em direção ao terror. Assim podemos chamar “Amor e Morte” na Saga do Monstro do Pântano, lançada lá nos Estados Unidos em The Saga of the Swamp Thing #29 (outubro de 1984), escrita por Alan Moore e desenhada por Stephen Bissette, com arte-final de John Totleben.
O início desta história é perturbador. Abigail Cable, personagem recorrente e cada vez mais alçada ao posto de protagonista, se vê de tal forma perturbada que se esfrega com palha de aço. Tudo para remover um cheiro de insetos. Desde as edições anteriores, é seguidamente falado em insetos. Mesmo em O Enterro eles foram mencionados.
Parece que a vida de Matthew Cable mudou. Ele surpreende Abby, sua esposa, com uma casa nova, um emprego em uma empresa chamada Rio Negro Recorporações. Parece um novo homem. Abandonou a bebida, parece muito mais forte, muito mais seguro de si.
O problema, e Alan Moore fica o tempo todo batendo nessa tecla, é o cheiro de insetos mortos. Assim como, ao entrar na Rio Negro, Abby vê a sala cheia de zumbis, não pessoas. E o cheiro de podridão pesteando o lugar. Ainda assim, é apenas por um segundo, mas o cheiro continua.
Uma das funcionárias da empresa, Sally Parker, possui um nome familiar para Abigail. E é esse nome que vai trazer a tona a terrível verdade. Sobre quem são os funcionários, e quem agora é Matt.
Os insetos são repetidos o tempo todo. E não só no texto. Stephen Bissette fica inserindo insetos o tempo todo. Seja nas sombras, onde eles se tornam vermelhos e ameaçadores, seja nos quadros, que eles preenchem. Existe uma sensação claustrofóbica, com eles sempre presente, sempre cercando Abby.
O legado de “Amor e Morte”
Como foi com a trilogia de Etrigan (O Sono da Razão, Uma hora de Correr e Movido por Demônios), o personagem principal da história é Abigail. O Monstro do Pântano, como vocês podem ver, mal aparece. Num recurso que o Will Eisner usava em seu The Spirit, o personagem principal não precisa aparecer na história. Basta estar lá. O Monstro é um coadjuvante de luxo. Aqui já ficou clara uma das grandes predileções de Alan Moore: escrever personagens femininas fortes.
Outro ponto gigantesco sobre “Amor e Morte” é o fato de que é a primeira história da Saga do Monstro do Pântano a não possuir o selo do Comics Code Authority na capa. Esse órgão regulador e de censura foi por décadas a trava que impediu que quadrinhos fossem mais maduros. Claro que nem sempre era respeitado, os quadrinhos underground faziam o que queriam, outros, como a Warren Publishing e suas revistas de terror, Creepy e Eerie, acharam maneiras de o burlar. Mas as gigantes Marvel e DC Comics sempre respeitaram o código, salvo uma ou outra exceção memorável.
Apesar dos temas polêmicos, o Monstro do Pântano de Alan Moore até então sempre respeitou as regras. Claro que sempre forçando seus limites. Nessa história os limites foram ultrapassados. Mesmo assim a DC Comics comprou a briga e publicou sem o selo – algo que 10 anos atrás teria sido impensável – ajudando a acabar com a censura nos quadrinhos americanos. Censura que ela mesmo ajudou a criar, mas isso é outra história.
Próxima edição: Auréola de Moscas