Extermínio: A Evolução. Extermínio: A Evolução.

Extermínio: A Evolução | Crítica

Extermínio: A Evolução prova que as melhores histórias de zumbis são aquelas em que eles não são o foco.
Divulgação.

Em 2002, o cineasta britânico Danny Boyle e o roteirista Alex Garland revolucionaram o gênero de zumbis usando apenas uma câmera digital. Um projeto de baixo orçamento, com um jovem e então desconhecido Cillian Murphy no papel principal, se tornou uma das maiores referências para produções pós-apocalípticas, ao adotar novos tipos de infectados e uma violência até então nunca vista. Com uma sequência pouco inspirada lançada em 2006, sem Boyle e Garland na produção, Extermínio acabou ainda mais consolidado como um projeto à frente do seu tempo — seja pelas clássicas cenas das ruas de Londres vazias ou pela ousada decisão de filmar com uma câmera Canon XL-1 Mini DV, em vez de rolos de filme.

Agora, 24 anos depois da estreia do primeiro longa, Danny Boyle e Alex Garland retomam a parceria de sucesso ao retornarem ao universo em Extermínio: A Evolução. Mas, como de costume, Boyle não quis repetir fórmulas: desta vez, o diretor britânico decidiu filmar com um iPhone 15 Pro Max, modificado com acessórios e lentes profissionais.

A história se passa 28 anos após o surto causado pelo vírus da Raiva. Somos levados até uma comunidade isolada em uma ilha, que aprendeu a sobreviver após a Inglaterra ter sido devastada e colocada em quarentena. Ali, conhecemos uma família composta por Jamie (Aaron Taylor-Johnson), sua esposa Isla (Jodie Comer) e o filho de 12 anos, Spike (Alfie Williams), que realiza sua primeira expedição até o continente. Ao descobrir os perigos, maravilhas e segredos desse novo mundo, os três se veem diante de uma missão arriscada — e talvez sem volta.

O mais interessante nesta nova proposta é o quanto Boyle e Garland compreendem que os infectados são apenas pano de fundo. O mundo é vivo, pulsante, e se transformou ao longo de quase três décadas. Códigos culturais, linguagem, comportamento — tudo evoluiu. A história não depende exclusivamente de seus protagonistas para gerar interesse, e isso torna o universo ainda mais rico.

O vírus da Raiva também evoluiu. Agora, manifesta-se de formas diferentes em cada organismo: alguns infectados desenvolvem abdomens inflados, rastejando como criaturas deformadas; outros ganham força, altura e inteligência sobre-humanas, como se estivessem sob efeito de esteroides. Mas não foram apenas os infectados que mudaram — os humanos também.

Boyle e Garland enxergam esse cenário como uma oportunidade de explorar temas como amadurecimento, violência e afeto — discutindo tudo isso a partir das ferramentas que o gênero zumbi oferece. Na comunidade onde vivem os personagens, crianças são treinadas desde cedo para lutar e sobreviver, em um ambiente que parece constantemente se preparar para uma guerra. O diretor insere imagens e vídeos reais ao longo do filme, traçando paralelos com a história militar do Reino Unido e reforçando a hostilidade daquele mundo. A trilha sonora se entrelaça com essas cenas, provocando um desconforto constante, que nunca dá ao público a chance de relaxar.

Escolher um pré-adolescente como protagonista é um dos maiores acertos do filme. É como se estivéssemos na pele de Spike, sentindo a perda da inocência e o peso de viver em um mundo que o caça antes mesmo que ele possa entender quem é. Em contraste, o Dr. Kelson, interpretado com sensibilidade por Ralph Fiennes, traz uma visão mais esperançosa e cultural, adicionando uma camada inesperada de emoção ao filme. Poucas histórias dentro do gênero conseguem realmente emocionar — essa consegue. Destaque para a poderosa e emocionante atuação de Jodie Comer, que em muitas cenas, é o principal força emotiva da trama.

Todos esses elementos se encontram sob a direção revigorante de Danny Boyle, que mais uma vez não se contenta com o lugar-comum. Em Extermínio: A Evolução, poesia visceral e vínculos familiares coexistem como dois lados de uma mesma moeda. Seja congelando disparos antes e depois de atingir o alvo, criando tomadas diagonais ou apostando em uma fotografia crua e intensa, Boyle aposta novamente na hibridização visual para intensificar um roteiro que exige atenção total do espectador. Isso já fica claro na psicodélica e assustadora cena de abertura.

Danny Boyle e Alex Garland mostram que, independentemente de quantos dias, semanas ou anos se passem, contar uma boa história exige coragem para experimentar — seja no conteúdo, seja na forma. Em Extermínio: A Evolução, a dupla entrega o que esse gênero tem de melhor, sem recorrer a clichês batidos ou depender exclusivamente da violência gráfica. Desde o início, o filme entende que, para contar uma grande história sobre zumbis, eles não precisam estar no centro de tudo.

Extermínio: A Evolução chega aos cinemas em 19 de junho, com distribuição da Sony Pictures.

4.5

Ótimo

Em mais uma experiência visceral e emocionante, Danny Boyle e Alex Garland provam de vez que as melhores histórias sobre zumbis são justamente aquelas em que eles não são o foco.