Vidas Passadas Vidas Passadas

Vidas Passadas I Crítica

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Vidas Passadas foi um grande sucesso recente do cinema independente. O longa produzido pela A24 tem conquistado vários prêmios desde que fez sua estreia no Festival de Sundance e esteve na mostra competitiva do Festival de Berlim. O longa foi indicado em duas categorias no Oscar: Melhor Filme e Melhor Roteiro Original.

O filme começa com três adultos bebendo em um bar: uma mulher asiática, um homem asiático e um homem branco. Duas vozes, que estão fora do quadro, ficam se perguntando qual o tipo de relacionamento entre as três pessoas. Mas esses julgamentos precipitados de estranhos não conseguem transmitir nem a superfície do que a histórias desses três personagens irão significar.

Então, flashbacks mostram Na Young (Moon Seung-ah), uma pré-adolescente coreana de 12 anos que está vivendo seu primeiro amor com o melhor amigo, Hae Sung (Leem Seung-min). Eles brigam sobre quem é o melhor da classe, também se encontram para brincar e viver esse romance inocente. Porém, os planos deles são interrompidos quando a família de Na Young resolve se mudar para o Canadá – afinal, “os coreanos não ganham o Prêmio Nobel de Literatura”.

Anos se passam e Na Young, que agora atende por seu nome ocidental, Nora (Greta Lee), agora na casa dos 20 e poucos anos, está trabalhando para se tornar uma dramaturga em Nova York e agora, o desejo é de ser ganhadora de um Pulitzer. Enquanto isso, seu antigo amor está cumprindo o serviço militar obrigatório e estudando engenharia na Coreia.

Um dia, ela acaba encontrando Hae Sung (Teo Yoo) no Facebook e descobre que ele passou todo esse tempo buscando por ela. Eles voltam a conversar por videochamadas e acabam ficando completamente presos um ao outro novamente, percebendo que o vínculo que tinham quando crianças não foi perdido, mesmo com a distância.

Como público, certamente ficamos torcendo para que eles arrumem uma forma de ficarem juntos, já que essas conversas são inundadas de felicidade e muita química. Mas não é o que acontece. Nora percebe que esse relacionamento a distância não é saudável para sua carreira, então decide pedir para que eles deem uma pausa nas conversas.

Nora vai para um retiro de escritores em Montauk e Hae Sung resolve viajar para a China para aprender mandarim. Ambos começam novos relacionamentos durante essa pausa e acabam ficando sem se falar por mais muitos anos novamente.

O filme cita algumas vezes o conceito coreano de “in-yun”, que significa “providência” ou “destino”, especificamente sobre relacionamentos entre pessoas. É a reunião cármica de pessoas que foram amantes em vidas passadas. Isso nos leva a crer que a vida passada que eles tiveram juntos quando crianças é o que faz com que eles tenham esse tipo de carinho especial um pelo outro quando mais velhos.

Então, Hae Sung viaja para Nova York alegando ser um bom local para passar férias, mas a verdade é que ele finalmente tomou coragem de ir encontrar cara a cara com seu amor de infância – e o marido dela, Arthur (John Magaro). Agora mais velha, Nora está muito mais pé no chão e já não sonha mais em ser uma escritora premiada, – talvez ganhar um Tony não seja tão ruim – apenas quer viver sua vida da melhor maneira possível.

O tempo que Nora passa com Hae Sung em Nova York é curto, mas o suficiente para que Arthur suspeite, com razão, que ela está profundamente apaixonada por seu visitante coreano. Ainda mais quando ele percebe que o visitante é um herói romântico, que deixou tudo para trás em busca de se encontrar com a mulher amada, mesmo que por alguns instantes.

Vidas Passadas, longa de estreia vagamente autobiográfico da diretora Celine Song, é um filme minimalista, mas que trata de maneira direta questões fundamentais sobre amor e sobre possibilidades, onde os três personagens principais estão interligados em uma situação estranha, mas que não tem ninguém certo ou errado.

Como poderia ter sido a vida desses dois personagens caso Nora nunca tivesse saído da Coreia? Migrar cria uma série de realidades alternativas passando nas mentes dos que deixam tudo para trás. Reencontrar alguém do passado pode fazer com que esses pensamentos venham à tona com mais força. E as lembranças podem funcionar como algo que projetam no outro nossas expectativas.

Muitos filmes falam sobre amores perdidos, mas Vidas Passadas faz de uma forma com que os personagens pareçam mais reais e cheios de dúvidas. Qualquer pessoa que já sentiu que a sincronia com alguém que ama não estava funcionando perfeitamente, ficará comovido pelo filme, especialmente por seu final esperançoso, que mostra um certo arrependimento, mas foca muito mais nas possibilidades que a vida pode trazer.

Com distribuição da Califórnia Filmes, Vidas Passadas já está em cartaz nos cinemas brasileiros.

4.5

Ótimo

Queridinho dos festivais e na temporada de premiações, Vidas Passadas fala sobre amores perdidos e sobre o que fica para trás quando fazemos escolhas que mudam nossas vidas.