Crítica | Metal Gear Solid V: The Phantom Pain

Após quase 30 anos de história, Metal Gear Solid ainda está vivo e a lenda de Big Boss continua aos olhos daqueles que vivem no campo de batalha. Porém, com infelicidade, o ciclo deve morrer. Metal Gear Solid V: The Phantom Pain é a peça que faltava na franquia e chega para explicar tudo que estava aberto – ou deixar você mais confuso ainda, pois conta com uma das reviravoltas mais elegantes e malucas de toda a franquia. É imprescindível dizer que um jogo com tantos problemas de produção quanto The Phantom Pain já teria acabado antes de começar. Primeiro, a saída de David Hayter – voz original de Solid Snake e Big Boss realmente não está no jogo – abalou as fundações e deixou muitos fãs frustrados. Por essa parte, não tema. Um legado estava nas costas de Kiefer Sutherland e é necessário admitir: o homem fez jus. Além disso, Hideo Kojima quebrou laços com a Konami e não voltará. Um filho sem seu pai. É basicamente sobre isso que a trama se trata.

Metal Gear Solid sempre possui o roteiro mais intrincado e complexo de todos os jogos existentes por aí. Aqui não é diferente. Levando a história de maneira sucinta e deixando o jogador sempre querendo mais, Kojima sabe onde está indo. E sabe os motivos. Ao apresentar pela primeira vez os gêmeos ainda jovens, vemos a raiva de Liquid – tão falada em Metal Gear Solid – e a relação pai e filho que parece, por um momento, existir. Tudo isso é agregado a fatores como Ocelot idolatrar Boss e carregar seu legado, a relação cortada de Boss e Miller, além de coisas já sabíamos e são melhores explicados. E, no final, fique certo de que Kojima vai explodir sua mente.

Enquanto isso, devemos notar que o clássico Snake já se foi. Existem incontáveis novas habilidades – e novas funções quais não estavam presentes em Ground Zeroes – que variam desde CQC até aparecer de surpresa dentro da famosa caixa de papelão. A jogabilidade de The Phantom Pain, como um Metal Gear Solid, superou tudo que a franquia já viu e elevou o nível dos jogos de espionagem até um lugar em que dificilmente será alcançado por outros desenvolvedores, contudo, não mudou o mundo dos jogos como fez seus antecessores. Existem ainda as areias do Afeganistão, uma das partes mais bonitas e bem polidas do jogo. Com certeza, a paisagem vista em The Phantom Pain enquanto se cavalga a cavalo é um dos momentos mais belíssimos já feitos na franquia em termos de in-game. Pouco é necessário comentar sobre a trilha sonora, qual sempre – nos jogos de MGS – é apresentada em momentos derradeiros e feita com pura maestria.

Apesar de trazer sua marca registrada, Metal Gear Solid deixou de ser o que era. O mapa aberto é uma das novidades do game e fará o jogador perder incontáveis horas – são mais de duzentas horas de jogos – vagueando pelo Afeganistão e outros países. Hoje em dia, é inteligente que um jogo faça o consumidor gastar tanto tempo investindo nele. Existe também, em matéria jogabilidade, uma inteligência artificial mais avançada do que antes e uma fauna selvagem para explorar, além de métodos de infiltração antes inexistentes. Cabe a você decidir como ser um espião. E, com isso, aquele elemento cinematográfico morreu. The Phantom Pain não apresenta cenas intensas e nem longas, sendo que maior parte da história decorre em missões principais e diálogos com Miller e Ocelot, parecido com Metal Gear Solid: Peace Walker. Certamente, Peace Walker tinha uma razão para isso, afinal, era um jogo portátil. A razão de The Phantom Pain esquecer suas origens vem da tentativa de ser um jogo melhor do que todos e, dentro deste quesito, falhou. The Phantom Pain não conseguiu, mesmo com todas suas infinitas melhorias, alcançar o status de melhor jogo da franquia.

Metal Gear Solid V: The Phantom Pain deixa as intenções de Hideo Kojima claras. Este é o final de uma era e o final de um legado. A trama termina fechada e seria incrivelmente difícil abrir. No entanto, Kojima focou-se muito em ser melhor e esqueceu certas marcas deixadas no passado. Talvez, do contrário, isto fizesse The Phantom Pain ter mais alma e não ser apenas um fantasma. Entretanto, The Phantom Pain  é da família MGS e passará seu legado adiante. Para os fãs de verdade é, com certeza, imperdível.

Metal Gear Solid V: The Phantom Pain está disponível para PlayStation 3, PlayStation 4, Xbox 360, Xbox One e PC.