Serra Das Almas, novo filme do cineasta Lírio Ferreira, estreia em 24 de abril nos cinemas brasileiros e acompanha um grupo de desajustados que se envolve em um roubo de joias em Pernambuco. A narrativa não-linear começa com muita ação e suspense. As primeira cenas do filme nos mostram alguns personagens dentro de uma Kombi em fuga, enquanto um rock se sobrepõe aos gritos a plenos pulmões dessas pessoas. O resto da trama vai e volta nos mostrando o que aconteceu para que esses personagens chegassem até esse momento e o que vem depois disso, a partir dos pontos de vista de cada um deles, também vamos descobrindo, aos poucos, qual a conexão entre esses personagens.
Tudo começa quando Samanta (Julia Stockler), uma jornalista, descobre uma informação que pode desmascarar um senador e outros figurões da cidade que estão ligados ao tráfico de pedras preciosas. Sabendo dos riscos, mas extremamente determinada, ela vai investigar acompanhada da estagiária Luiza (Pally Siqueira), de um cinegrafista e de um jornalista experiente, mas que resolve dar pra trás quando a coisa fica feia. Era pra ser um furo de reportagem, mas dá tudo errado e ambas acabam sequestradas por uma dupla de capangas do senador, Gislano (Ravel Andrade) e seu amigo Charles (David Santos), enquanto o cinegrafista é baleado.
Durante a fuga, mais um homem (Vertin Moura) é pego e levado junto. Todos eles vão para Serra Das Almas, onde as mulheres são mantidas trancadas na casa do casal Ricardo (Jorge Neto) e Vera (Mari Oliveira), sem saber qual será seu destino. Mas a verdade é que todos eles estão presos ali, já que os bandidos estão foragidos e não podem ser vistos por aí. A trama parece, a princípio, um thriller de sequestro convencional, mas quando o tédio e a falta de perspectiva batem, a violência começa a crescer entre os próprios sequestradores. Obrigados a confrontar seus próprios passados, os fantasmas desses homens tomam conta.
Enquanto isso, as mulheres tem um foco maior em sobreviver, ainda que durante o tempo juntas em cativeiro, a tensão entre as jornalistas também seja notável, já que Samanta revela ser amante do dono da rede de televisão para que trabalha, pai de Luiza. A figura da esposa do dono da casa também parece estar o tempo todo com medo dos amigos de seu marido, mesmo assim ajuda as reféns com comida e medicamentos.
É possível separar Serra Das Almas em núcleos masculino e feminino, afinal os homens têm uma parceria estabelecida desde o começo, mesmo com o homem que foi levado por eles. Essa aparente amizade vai escalando para uma violência extrema. Enquanto as mulheres, que não tem muita conexão, vão encontrando pontos em comum e cuidando umas das outras, até que essa união se torne a possível salvação delas.
A fotografia, trabalho de Pedro Von Krüger, é eficiente para escancarar o isolamento da casa na Serra das Almas onde todos se encontram e aumentar o nível de tensão sentido pelo espectador. Mas, apesar disso, da mistura de gêneros que conversam muito bem entre si e das críticas sociais que envolvem Serra Das Almas, as duas horas de duração repletas de flashbacks são cansativas. Essa desconstrução da narrativa pode acabar afastando o público, já que acaba ficando difícil se conectar, tanto com a trama, quanto com os personagens. É um filme que deixa um gostinho de que não alcançou o potencial que tinha.
Serra Das Almas estreia em 24 de abril nos cinemas, com distribuição da Imagem Filmes.
Bom
Serra Das Almas faz uma mistura de gêneros, trazendo muita tensão, suspense e até mesmo humor para a história do sequestro de duas jornalistas. Com uma narrativa não linear, o filme tem momentos ousados, mas também acaba sendo cansativo em outros.