Como a trilha sonora influencia nos filmes de terror

A música, sendo ela alta e estridente ou quase inaudível, é um dos elementos chave do cinema. Uma trilha sonora bem composta e utilizada de forma estratégica é um modo efetivo de entregar uma mensagem ou criar um clima de suspense, por esse motivo os filmes de terror utilizam dessa ferramenta para compor suas obras e proporcionar sensações como tensão e medo em seus espectadores.

Os filmes de terror sempre tiveram uma relação intimista com a trilha sonora desde o início do cinema. Apesar da música não fazer parte dos primeiros filmes dos monstros clássicos da Universal, Franz Waxman foi o primeiro à implementar a trilha sonora no filme A Noiva do Frankenstein. A trilha sonora de Waxman foi um marco na história do cinema, e influenciou diversos músicos a começarem a compor músicas para filmes e aplicar a trilha sonora como parte da narrativa.

As músicas compostas para filmes de terror são inspiradas nos movimentos gótico e barroco. Os compositores, geralmente, se baseiam em padrões criando uma camada em cima da outra, construindo suspense e pavor. Pense na progressão de duas notas da música de John Williams composta para Tubarão, ou o pulso repetido dos sintetizadores de John Carpenter em Halloween, ou até mesmo, os sussurros de Sexta-Feira 13 indicando que Jason Voorhees está próximo. E claro, é impossível falar de filmes de terror sem mencionar o violino de Bernard Herrmann na icônica cena de Psicose.

Qual a importância da música para o impacto de um filme de terror?

John Carpenter e seu filho Cody Carpenter falando sobre trilha sonora
John Carpenter e seu filho Cody Carpenter / Divulgação

A música tem uma poderosa habilidade de influenciar a narrativa e criar uma atmosfera distinta em um filme, a trilha sonora também tem o poder de guiar a emoção da audiência. Alfred Hitchcock inicialmente pensou em gravar a cena do banheiro de Psicose sem trilha sonora, mas ele voltou atrás quando escutou o efeito que o violino de seu compositor Bernard Herrmann causava na cena. John Carpenter contou que uma produtora da FOX achou que o corte bruto de Halloween, que foi exibido à ela sem música, não era assustador. Carpenter decidiu usar a crítica de forma construtiva e, inspirado na música de Herrmann, compôs uma das trilhas sonoras mais icônicas do cinema.

Na maioria das vezes as trilhas sonoras são usadas parar criar um clima de romance, enquanto nos filmes de terror a trilha sonora é usada para criar uma sensação de incômodo. A trilha sonora nos filmes de terror consegue gerar uma sensação de ser algo irreal e “fora”, desconstruindo as formas clássicas de composição para enfatizar a dissonância. A trilha sonora também pode ser composta pelo silêncio, elemento esse, que é de enorme importância para criar suspense. O filme Um Lugar Silencioso conseguiu provar que o silêncio, se usado da forma correta, consegue ser muito mais assustador que uma música alta quando um dos personagens do filme está em perigo. Até mesmo em Halloween o silêncio é usado como elemento narrativo em cenas em que só é possível escutar a respiração do assassino Michael Myers.

A centralização da música nos filmes de terror gera discussões sobre o gênero. Alguns críticos acham que a trilha sonora nos filmes de terror pode ser pejorativa, pois ela pode influenciar o espectador à sentir algo, ao invés de deixar as imagens na tela falarem por si. No entanto, a emoção crua em conjunto com o horror significa que os compositores, na maioria das vezes, são forçados à criar trilhas distintas que possam acentuar as emoções presentes na tela. A música nos filmes de terror é um eco do poder desses filmes.