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Stan Lee: o Quarteto Fantástico e sua importância para os quadrinhos

SAN DIEGO, CA - JULY 19: Comic book writer Stan Lee attends Day 2 of The Samsung Galaxy Experience on July 19, 2013 in San Diego, California. (Photo by Michael Buckner/Getty Images for Samsung)

Stan Lee foi em vida uma figura carismática e polêmica, idolatrada por uns e desprezada por outros. Existe quem diga que ele surfou no talento de desenhistas muito mais criativos que ele, roubando os créditos de gente com Jack Kirby e Steve Ditko, por exemplo. Outros o consideram como uma das figuras mais criativas da cultura pop, capaz de criar um mundo enorme e interligado.

É inegável que ele sempre gostou de autopromoção. Stan Lee sempre soube se vender, usar sua personalidade magnética e bom humor para cativar os fãs. Cedo se tornou o rosto da Marvel Comics, criando uma ligação com os diversos personagens que ajudou a criar.

Seu auge criativo foi nos anos 1960, quando junto com Kirby, Ditko e outros, criou os principais nomes da Marvel: Quarteto Fantástico, Hulk, Thor, Homem-Aranha, Homem de Ferro, Vingadores, Demolidor, X-Men etc. Desde aquela época existem disputas sobre quem criou o que, e hoje isso virou quase disputa de torcida de futebol. No fim das contas, a verdade é que foi o somatório de todas essas figuras e seus diferentes interesses que possibilitaram o surgimento da Casa das Idéias.

A importância de Stan Lee para os quadrinhos começa junto com o próprio Universo Marvel que conhecemos hoje: com a criação do Quarteto Fantástico. Nesse quadrinho, desenhado brilhantemente por Jack Kirby, vemos as principais inovações que Stan criou para os quadrinhos, com elementos que seriam repetidos outras vezes:

Um exemplo da linda arte de Jack Kirby no título

Heróis brigando

Diferente do tom polido e respeitoso que a Liga da Justiça assumia enquanto seus membros interagiam, a Primeira Família da Marvel passava o tempo resmungado entre si, principalmente com o Tocha Humana e o Coisa implicando entre si.  Isso se tornou marca registrada da editora: quando heróis se encontram, eles lutam, geralmente por motivos simplórios e que facilmente poderiam ser resolvidos com dois minutos de conversa.

Conflitos entre membros da mesma equipe atingiram seu auge nos Vingadores. Parecia que seus membros passavam metade da revista lutando e discutindo entre si e o resto da história enfrentando os vilões.

O surgimento de Galactus e do Surfista Prateado mudaram o Universo Marvel como um todo

Cronologia

Nos primórdios dos quadrinhos, as histórias eram pensadas como individuais. Os heróis começavam no ponto zero, eram apresentados ao problema, o resolviam e voltavam ao ponto zero, para comemorações. A maioria das histórias eram resolvidas na mesma edição, as vezes com mais de uma história por edição. Algumas histórias referenciavam outras, é verdade, mas isso era algo raro.

No Quarteto Fantástico, as histórias se ligavam umas as outras. Eles encontram pela primeira vez o antigo super-herói, e agora vilão, Namor, o Príncipe Submarino na edição quatro. Na quinta edição é o primeiro confronto com o Doutor Destino. E na sexta edição, os dois se unem para acabar com o quarteto. Isso se tornou ainda mais comum com longas sagas, como o Quarteto Sinistro, o surgimento dos Inumanos, a chegada de Galactus. Uma revista deixava de ser o suficiente para contar uma história, você precisava acompanhar todos os meses.

Impossível os heróis e vilões não se encontrarem o tempo todo

Universo Compartilhado

O Superman e o Batman se encontravam algumas vezes, mesmo fora da Liga da Justiça. Mas um morava em Metrópolis, o outro em Gotham. No universo Marvel, todos os super-heróis moravam (pelo menos no princípio) em Nova York. Eles se esbarravam seguidamente, o mesmo com os seus supervilões. Na primeira edição da revista do Homem-Aranha, ele encontra o Quarteto Fantástico. Edições depois, o Doutor Destino decidiu usar o Aranha para derrotar seus inimigos, enfrentando o Cabeça de Teia no lugar. Foi na revista da Primeira Família que o Pantera Negra surgiu, para provar o status que eles recebiam.

Foi um plano de Loki para vencer seu irmão Thor que reuniu no mesmo lugar ele, o Homem de Ferro, Hulk, Homem Formiga e a Vespa. No final da edição eles se reúnem e se tornam Os Vingadores. E na terceira edição do título, o inimigo foi Namor.

Essas possibilidades de encontros eram tão altas que são motivo de piada na primeira edição anual do Homem-Aranha (Amazing Spider-Man Annual #1, de outubro de 1964), onde ele sai esbarrando com Doutor Estranho, Thor e outros.

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Heróis Imperfeitos

A grande contribuição de Stan Lee para os quadrinhos, no final, foi a criação de heróis falhos e imperfeitos. Diferente dos heróis de antes, espécimes exemplares de seres-humanos (ou alienígenas), física e mentalmente perfeitos, os heróis criados na Marvel tinham problemas. Destaque desde cedo nos quadrinhos do Quarteto Fantástico, o Coisa era um homem forte e bonito que se transforma em um monstro de pedra. Sem conseguir aceitar sua nova aparência, ele passa as histórias melancólico. O homem virando monstro foi reprisado na criação seguinte da dupla Lee e Kirby, o Incrível Hulk.

O Homem-Aranha, com o tempo, se tornou o clássico exemplo do herói falido, mas foi o Quarteto Fantástico o primeiro a conhecer a bancarrota. Ostentando na capa a provocativa mensagem “O que acontece com os heróis de uma revista em quadrinhos quando eles não podem pagar suas contas e não tem para onde ir? Não perca o novo e mais original conto de todos… O Fim do Quarteto Fantástico” na capa, Fantastic Four #9 (dezembro de 1962) narra nossos heróis ficam pobres e precisam sair do Edifício Baxter. Eles são salvos no final por Namor, cujo plano para vencer seus inimigos acaba dando errado.

Os personagens eram todos diferentes entre si, e nenhum deles era perfeito. Longe disso.O Senhor Fantástico era um sabichão, que precisava falar muito e explicar tudo para todos, algo que todos reclamavam; o Coisa uma combinação de durão velha guarda com  – que dizem até hoje ser bastante baseado na figura do próprio Jack Kirby – com momentos de melancolia; o Tocha Humana era um adolescente impulsivo e irreverente, sempre provocando tudo e todos.

O caso de Sue Richards, a Mulher Invisível (na época, Garota Invisível) precisa ser melhor explicado, até por ser uma das grandes falhas de Stan Lee como roteirista. Sue, e a grande maioria das mulheres escritas por Lee, era uma menina ingênua e covarde, sempre sendo raptada, ou se atrapalhando sozinha com seus poderes. Ela mais atrapalhava que ajudava seus colegas. Isso era uma constante com as outras personagens, como a Vespa, que estavam lá para serem alívios cômicos, ou ferramentas para a trama andar, mas nunca como membros vitais. Quantas vezes Sue foi sequestrada, ou o vilão decidiu se casar com ela.

A Primeira Família

A Melhor Revista em Quadrinhos do Mundo

No fim, o Quarteto Fantástico se tornou tão grandioso pela combinação da arte de Kirby, que criava naves, aparelhos, monstros e planetas diferentes, sempre inovadores, com o texto de Lee, que dava a cada personagem uma personalidade diferente e cativante. As cem primeiras edições do grupo, que a dupla assina, são sensacionais.

A obra de Stan Lee foi gigantesca nos quadrinhos, e uma parte importante dela veio nos quadrinhos da Primeira Família, a pedra fundamental do Universo Marvel.