Quando se fala em Tartarugas Ninja, é impossível não associar imediatamente ao fenômeno global que explodiu nos anos 80 e 90, atravessou gerações e se manteve vivo nas mais diversas mídias — de quadrinhos a desenhos animados, de filmes live-action a videogames. A responsabilidade de reintroduzir esses ícones da cultura pop ao público brasileiro não é tarefa simples, mas a editora Pipoca & Nanquim, após concluir com primor a publicação da clássica fase de Kevin Eastman e Peter Laird, abraça agora um novo e audacioso capítulo na história dos quelônios mais carismáticos da cultura pop: a coleção da IDW Publishing, que desde seu lançamento em 2011 ganhou reconhecimento por reimaginar com respeito e frescor a mitologia dos personagens. Um reboot que equilibra reverência ao legado com ousadia narrativa.
A edição nacional, em capa dura, com respeitáveis 428 páginas, é uma verdadeira joia editorial. Este Volume 1 reúne os primeiros 12 números da nova fase (Teenage Mutant Ninja Turtles #1-12), os especiais de cada personagem (Raphael, Michelangelo, Donatello, Leonardo e Splinter) e ainda uma história publicada em comemoração aos 30 anos da franquia — um conteúdo robusto que proporciona uma experiência de leitura contínua e envolvente. O cuidado gráfico e a tradução fluida reforçam o esmero da Pipoca & Nanquim em não apenas apresentar uma nova fase, mas eternizá-la como um marco no colecionismo nacional.
Narrativamente, Tartarugas Ninja – Vol. 1 parte da missão arriscada de reconstruir a origem dos personagens. A trama, coescrita por Tom Waltz e pelo próprio Kevin Eastman, abraça uma nova mitologia que, de início, soa quase herética aos olhos dos fãs mais puristas: a rivalidade com o Clã do Pé e o Destruidor agora tem raízes ancestrais, remontando a vidas passadas. Uma reinterpretação que, à primeira vista, parece deslocada, mas logo se mostra engenhosa, orgânica e coerente com os tons mais espirituais e dramáticos que esta nova fase propõe. É uma releitura que respeita o espírito original, mas se permite ser mais sombria, complexa e até filosófica em determinados pontos.
Na nova cronologia, o acidente que gera a mutação continua sendo o catalisador dos eventos, mas é em sua consequência emocional que o quadrinho brilha. Rafael, separado dos irmãos no momento do caos, caminha solitário pelas ruas enquanto Leonardo, Donatello e Michelangelo o procuram desesperadamente. Esse arco de busca é conduzido com grande sensibilidade, e a introdução de Casey Jones, que aqui ganha uma profundidade dramática com a presença de um pai abusivo, reforça o tom mais maduro da obra. A amizade entre Casey e Raph nasce da dor, mas floresce como uma aliança poderosa — e, por vezes, comovente.
O momento do reencontro entre Rafael e seus irmãos é um dos ápices emocionais deste volume. A partir dali, os heróis se reencontram não apenas fisicamente, mas em propósito — e isso dá início à construção de mundo que tanto diferencia essa nova fase. Enfrentando o Clã do Pé, mutantes grotescos e dilemas internos, as tartarugas são moldadas como indivíduos com vozes e conflitos próprios. Os capítulos solo dedicados a cada personagem são um respiro criativo que aprofunda suas personalidades e solidifica seus laços familiares. Aqui, há ação, há humor, mas acima de tudo há coração. Tartarugas Ninja – Vol. 1 é um quadrinho sobre identidade, pertencimento e escolhas.
A arte de Dan Duncan cumpre bem o papel de revitalizar visualmente os personagens. Seu traço é energético, expressivo e moderno, equilibrando cenas de ação vibrantes com momentos íntimos e tocantes. A paleta de Ronda Pattison ajuda a acentuar o clima urbano, sujo e pulsante da história, enquanto o uso de sombras e tons frios reforça a atmosfera de perigo e urgência. É um trabalho visual que dialoga com o roteiro em sintonia constante, e contribui para a imersão total do leitor.
Se o primeiro volume é uma porta de entrada para novos leitores, também é um tributo respeitoso para os veteranos. Ao atualizar o mito das Tartarugas sem abrir mão de sua essência — os laços fraternos, o senso de justiça, a luta contra a opressão —, a IDW e a Pipoca & Nanquim conseguem algo raro: renovar sem apagar. Isso é talvez o maior mérito desta obra. O segundo volume já está prometido ainda para este ano, e se a qualidade se mantiver nesse nível, será difícil não aguardar cada lançamento com ansiedade e entusiasmo.
Tartarugas Ninja – Vol. 1 é um presente para os fãs antigos, uma excelente porta de entrada para novos leitores, e uma leitura obrigatória para quem gosta de reboots feitos com inteligência, emoção e um profundo respeito pela memória afetiva dos leitores. As Tartarugas estão de volta. E talvez, mais afiadas do que nunca.
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