O Gambito da Rainha | Crítica O Gambito da Rainha | Crítica

O Gambito da Rainha | Crítica

Reprodução/Netflix
O Gambito da Rainha | Crítica
Reprodução/Netflix

O Gambito da Rainha é melhor minissérie da Netflix em 2020. Ponto. A produção comandada por Scott Frank a partir do romance publicado por Walter Tevis mistura vício, obsessão e traumas. Misture isso ao mundo xadrez, um jogo não muito popular, mas que a série conseguiu deixar de forma acessível. Você não precisa ser um especialista no jogo para entender as partidas. Mas após assistir a minissérie, você será impulsionado a mover algumas peças do tabuleiro.

O grande trunfo da série estão nas interpretações, com destaque para o desempenho magnético de Anya Taylor-Joy, que despontou anos atrás no drama A Bruxa. A performance da atriz é digna de prêmios Emmy. Seu olhar é sedutor, um convite para acompanhar sua jornada de altos e baixos na minissérie.

A narrativa acompanha Beth Harmon, vivida na infância por Isla Johnson, uma órfã após sobreviver a um acidente de carro que tirou a vida de sua mãe. Sem saber do paradeiro do pai, Beth se muda para uma escola cristã de órfãos. Enquanto está lá, ela desenvolve três coisas: uma amizade com Jolene (Moses Ingram), uma paixão pelo xadrez e uma dependência física e emocional dos calmantes oferecidos para as crianças. Na adolescência, agora vivida por Anya Taylor-Joy, Beth encontra uma família adotiva, trazendo consigo um monte de livros de xadrez, um talento para o jogo considerável, além do vício por remédios que ajuda a se concentrar no xadrez. Com o apoio da mãe adotiva, Beth decide se tornar uma jogadora profissional, encarando desafios dentro e fora do tabuleiro.

O Gambito da Rainha é a jornada de excessos de Beth. O abuso de drogas e álcool, misturados com a vida competitiva no xadrez, começam a cobrar um preço muito alto em sua vida. A série carrega um peso dramático, trata de assuntos delicados. E a narrativa da série só funciona graças a atuação de Anya Taylor-Joy. Xadrez é um jogo silencioso, então o recurso que Taylor-Joy usa para passar seus sentimentos é o olhar profundo e a forma como se posiciona em tela para passar todo o seu desconforto. Desconforto esse pelo vício, ou por ser a única mulher nas competições. Estamos falando da década de 60, onde o xadrez era dominado por homens.

Mas a série abre espaço para outras personagens femininas. Destaque para Jolene, figura fundamental para a jornada de Beth. A série também pontua a mãe biológica de Beth, que se conecta com todo o comportamento abusivo da jovem. Contudo, sua verdadeira mãe (a que cria) é a adotiva. Foi sua incentivadora. A parceria das duas é motivada pelo abandono. Beth foi abandonada desde pequena pelo pai, enquanto sua mãe convive com a solidão, já que o marido é ausente. Ou seja, Beth precisa lidar com dois pais ausentes e uma nova mãe sofrendo por isso. O mais próximo que a garota teve de um pai foi na figura do zelador do orfanato, o senhor Shainel (Bill Camp), que ensinou para ela os primeiros passos do xadrez quando criança.

O Gambito da Rainha, porém, não busca uma rivalidade entre homens e mulheres. Na verdade, Beth conta com ajuda de seus rivais para superar seu grande desafio. Thomas Brodie-Sangster e Harry Melling estão ótimos em cena como dois xadrezistas, cada um com sua particularidade. A relação de Beth com eles é um dos pontos altos. Mesmo contando com a ajuda pontual da dupla, Beth sempre se posiciona de forma independente e que está em busca de seus próprios objetivos na carreira.

Além das incríveis performances, a parte estética da minissérie é um espetáculo. As cenas que Beth visualiza as jogadas, evidenciam as várias probabilidades que o jogo proporciona, o dinamismo e o quanto é necessário a concentração. Um passo em falso pode ocasionar no fim do jogo. Isso é sentido na partida final de Beth, um duelo psicológico e de estratégia.

Por fim, O Gambito da Rainha é uma minissérie gostosa de assistir. Uma grande experiência, principalmente, para aqueles que não entendem nada sobre xadrez (como eu!). Vale a a pena dar uma chance.

https://www.youtube.com/watch?v=cnqV3wsZlpo

5

Excelente

O grande trunfo da série estão nas interpretações, com destaque para o desempenho magnético de Anya Taylor-Joy, que despontou anos atrás no drama A Bruxa. A performance da atriz é digna de prêmios Emmy. Seu olhar é sedutor, um convite para acompanhar sua jornada de altos e baixos na minissérie.