Deuses Americanos é sem sombra de dúvida um dos melhores livros sobre mitologia já escrito, como foi falado em nossa resenha no Ler é Bom, Vai ! A trama possui momentos perturbadores e bizarros descritos à perfeição por Neil Gaiman. Logo que foi divulgado que a história seria adaptada em uma série de TV, os fãs ficaram ao mesmo tempo felizes e receosos por algo que não atingisse as mesmas expectativas da leitura, principalmente por conta dos tais momentos singulares. Uma coisa podemos garantir: quanto a isso vocês não irão se decepcionar!
Assistimos os quatro primeiros episódios da série e as opiniões entre a equipe não poderiam ser as mais diversas. Quem leu o livro (quem vos escreve) gostou e se surpreendeu com a veracidade das cenas e detalhes descritos nas cenas. Por outro lado, quem não leu achou confuso e até mesmo monótono em alguns momentos onde o absurdo predomina. Logo nos primeiros 30 minutos temos a clássica cena onde a deusa Bilquis – a Rainha de Sabá na Bíblia -, ingere homens através de sua vagina para sua adoração, e os diretores não economizaram em detalhes. Essas e outras situações são muito bem retratadas e satisfazem o leitor fã da obra original de Gaiman.
O personagem de Shadow (Ricky Whitle) ainda não me conquistou, assim como sua inspiração demorou alguns capítulos para cair nas graças do público. Shadow é um homem complexo e mesmo após chegarmos ao final temos dúvida de suas origens e personalidades. Whitle parece perdido diante de tanto conteúdo e personagens igualmente complicados, porém que marcam presença – como o caso de Ian McShane no papel de Wednesday. Shane interpreta exatamente aquilo que imaginei para Wednesday, com suas piadas irônicas, sarcasmo e principalmente carisma de sobra. O jeito mafioso do ator encaixou perfeitamente no lado mulherengo e sombrio do Deus, mascarando a personalidade apática de Shadow.
Assim como no livro, não podemos reclamar do detalhamento e dos efeitos pra produção de Deuses Americanos, que utiliza de todos os recursos possíveis para trazer o espectador para dentro das cenas. Seja chuva de sangue ou um passeio psicodélico pela tecnologia, a qualidade da exibição está ao nível do roteiro original – excelente. É a fórmula perfeita para algo de sucesso, mas que talvez não seja atrativa para quem chegou agora. A história parece partir do princípio que você já leu o livro e está apenas vendo seu conteúdo exposto nas telas, não se esforçando para explicar melhor todo o rebuliço que está acontecendo. Ainda não sabemos o que vem por aí, mas a existência do episódio 4 já parece ser uma espécie de “localizador” para quem ainda não conhece a história de Laura (Emily Browning) e pode ter perdido o fio quando tudo foi revelado.
Independente do resultado, não há como negar que as expectativas para Deuses Americanos são as mais altas possíveis e vai depender de cada um serem positivas ou negativas. A série tem fotografia e feitos visuais incríveis e um elenco tão enigmático quanto os personagens que representam. Nos resta esperar para ver o rumo que a trama irá tomar a partir do episódio 4 e torcer para que o trabalho de Gaiman seja honrado com a qualidade que merece. Tudo agora está na mão da emissora responsável pelo programa, a Starz.