Crítica | Você – Segunda temporada

Reprodução/Netflix

A primeira temporada de Você se mostrava mais um drama teen clichê. Mas, a produção de Greg Berlanti e Sera Gamble a partir os livros de Caroline Kepnes, apresentou um incrível drama sobre comportamento humano, psicopatia, lembrando os bons tempos de Dexter. Afinal, Joe Goldberg e Dexter Morgan possuem algumas semelhanças. Ambos acabaram sendo romantizados e reverenciados, quando o comportamento deveria ser o contrário. Contudo, essa é uma incrível artimanha dos serial killers. Eles são predadores e, no caso de Joe Goldberg, sua presa são as mulheres fragilizadas.

A nova temporada se passa alguns meses após os eventos trágicos do relacionamento entre Joe (Penn Badgley) e a escritora aspirante Beck (Elizabeth Lail). Isso força Joe a se mudar para Los Angeles, assumindo uma nova identidade, Will. O serial killer acredita ser capaz de recomeçar do zero, acreditando que terá uma vida normal e sem relacionamentos. Contudo, a natureza do agora Will é mais forte. Ele é como a famosa fábula do sapo e escorpião, que pica o anfíbio quando este oferece ajuda para atravessar um rio. Ao ser questionado, o aracnídeo confessa ser incapaz de fugir de sua própria natureza. Este é Joe, que embora tenta transparecer nos episódios iniciais que será um homem diferente, passa a fixar suas atenções em Love Quinn (Victoria Pedretti), uma aspirante a chef que trabalha como gerente de produtos em um supermercado de alta qualidade. A jovem também está lidando com um sofrimento profundo – e quando conhece Joe Goldberg, ela sente uma conexão compartilhada com o novo empregado.

Os primeiros episódios da segunda temporada mostram aos poucos a infância do protagonista, uma tentativa barata e injustificável de motivar seus atos como adulto. As cenas simplesmente não convencem, mas a temporada força flashbacks até o episódio final. A performance de Penn Badgley é novamente o diferencial. O ator é capaz de passar a natureza destrutiva de Joe, que acredita estar fazendo o certo, já que a narrativa segue sua perspectiva. Mas não dá pra romantizar um personagem que se aproveita da fragilidade de garotas como Beck e Love Quinn. A série coloca o contraponto falho diante da presença de Candace (Ambyr Childers), disposta a desmascarar o ex-namorado. A forma como Candace é tratada na série, representa a forma como a sociedade trata as mulheres vítimas de violência doméstica. Sempre são as culpadas e problemáticas, enquanto o posicionamento frio e metódico de Joe torna-o a vítima. Contudo, a performance de Ambyr Childers soa caricata e suas decisões são as mais inúteis.

A segunda temporada Você apresenta um salto saindo da zona de conforto, quando parecia que a narrativa seria repetitiva. Joe não está mais no controle, ele descobre que está enclausurado quando descobre a verdadeira natureza de Love Quinn, o grande destaque desta temporada. Victoria Pedretti rouba a cena nos episódios finais, trabalhando com eficiência as diferentes camadas de Love, muito mais do que aparenta.

Ao final, Joe Goldberg encontra a punição que não esperava, talvez a mais desconfortável para ele. Fica um interessante gancho para o que esperar da próxima temporada.

 

4

Ótimo

A segunda temporada Você apresenta um salto saindo da zona de conforto, quando parecia que a narrativa seria repetitiva.