Crítica | Sex Education – 2ª temporada

Reprodução/Netflix

Sex Education, criação de Laurie Nunn, foi umas da séries originais mais interessantes e relevantes da Netflix nos últimos anos. Era o tipo de série que faltava no serviço – dialogar com o público jovem sobre as descobertas da sexualidade. Ter dúvidas é absolutamente normal. Escondê-las por insegurança ou medo pode trazer consequências quase que irreversíveis. É neste ponto que a segunda temporada começa. Mais uma vez com uma narrativa direta e que flui a cada episódio, o novo ano de Sex Education já começa chacoalhando com o tema da desinformação, algo comum entre os adolescentes e, por muitas vezes, nas escolas.

SPOILERS!!!

O primeiro episódio da 2ª temporada alerta sobre a falta da discussão sexual, sobre a ausência de debates mais profundos de DST’s nas escolas. Com isso, a volta às aulas começa com um surto de clamídia assustando os alunos. Otis (Asa Butterfield), que passou a primeira temporada dando conselhos em troca de dinheiro, agora começa a lidar com as consequências ao perceber que não é tão genial como a mãe, a terapeuta Jean (Gillian Anderson), convidada para debater sobre o assunto na escola. Distante de Maeve (Emma Mackey), expulsa da escola, Otis decide focar no namoro com Ola (Patricia Allison). Embora tenha passado o ano anterior sendo o “expert” sobre sexo, Otis não consegue avançar com a namorada, uma personagem mais segura como adolescente do que ele, que começa a ter dúvidas sobre a primeira relação sexual e como satisfazer sua companheira.

A partir deste ponto que Sex Education mostra que é diferente de todas as séries atuais. Nesta nova temporada, a série discute a forma quase que pré-histórica que os livros abordam o prazer feminino. Para surpreender Ola, Otis decide praticar algumas práticas sexuais presentes em livros temáticos e o resultado é frustrante para a namorada. Durante esta cena é possível ouvir o som do ponteiro de um relógio, uma referência não apenas a técnica do relógio que Otis tenta praticar em Ola, mas um simbologia dos jovens em serem imediatistas na prática sexual quando pensam em já dar o segundo passo antes mesmo de começar o primeiro.

Otis é o personagem que pode irritar por algumas atitudes nesta temporada. Afinal, ele percebe que seu trabalho clandestino de conselheiro sexual não continuou, sua mãe assume um relacionamento, Maeve está distante e seu namoro com Ola está no ponto frio. A série é hábil em não transforma-lo num simples garoto mimado. A ausência do pai Remy (James Purefoy) ajuda a explicar seu comportamento. O episódio que Remy, Otis e Eric decidem acampar é um dos melhores da temporada por mostrar as consequências sobre o muro existente no relacionamento entre Remy e Otis.

Já Maeve (Emma Mackey) é a personagem que mais passou por transformações. A mudança da cor de cabelo para castanho escuro não foi por acaso. É um sinal de amadurecimento, mas não pensem no lado clichê. A jovem busca se distanciar da mãe viciada e não repetir os mesmos erros que ela, que abandonou a escola e hoje enfrenta os problemas de largar o vício ao mesmo tempo que precisa criar a filha bebê. Há um momento que a mãe de Maeve lembra que também usava o cabelo colorido como a filha. Daí, a série mostra Maeve pintando o cabelo e decidindo retornar à escola.

Eric (Ncuti Gatwa), um dos personagens mais queridos da série, tenta superar a ausência de Adam (Connor Swindells). Mas ele encontra um novo affair, o jovem Rahim (Sami Outalbali). Embora haja uma torcida para que o relacionamento entre os dois evolua, fica visível que Eric não é o mesmo quando está com o namorado. Sua própria mãe percebe e diz que o filho não brilha quando está ao lado de Rahim. Com a volta de Adam após ser expulso da escola militar, Eric fica dividido. A série é sutil na aproximação entre Eric e Adam, que está no início de uma jornada de autoconhecimento.

Além das discussões e dúvidas sobre sexo, Sex Education também abre o leque para o assédio sexual. Um episódio é destinado ao trauma vivido por Aimee (Aimee Lou Wood), assediada durante o trajeto do ônibus para a escola. Na perspectiva de Aimee, sentimos o medo e o trauma vivido pela garota todos dias que precisa encarar novamente o ônibus que foi assediada. A experiência traumática de Aimee acaba unindo todas as garotas. Há uma linda cena da união feminina. Embora cada uma pertence a uma tribo diferente, elas percebem que tem algo em comum quando também já viveram experiências semelhantes como de Aimee.

A série também foca em novas parcerias como Jackson (Kedar Williams-Stirling) e Viv (Chinenye Ezeudu). Embora sejam de mundos diferentes, nasce uma amizade verdadeira entre os dois, quando um tenta ajudar o outro no que é melhor. Jackson vive um importante dilema com as mães, que continuam pecando na falta de diálogo com o filho e forçando um sonho de natação que Jackson não deseja mais. A série reserva um lindo momento de conciliação e pontua a falta de diálogo existente entre pais e filhos.

Sex Education também abre espaço para as discussões e práticas LGBT. O quanto estamos desinformados quando o próprio professor de biologia da escola não tem noção alguma que significa chuca.

O último episódio da temporada fez de Isaac (George Robinson), um dos novos personagens, o mais odiado da série pelos fãs. Contudo, é o primeiro personagem que apresenta uma sintonia com Maeve, já que ambos enfrentaram os mesmos tipos de dificuldade durante a infância. Embora o comportamento de Isaac com Maeve demostra ser abusivo, algo que pode debatido no próximo ano, foi legal a série mostrar um cadeirante de forma normal e sem o típico coitadismo de outras produções. Isaac é autoconfiante e lida com sua incapacidade de forma bem humorada. Foi um personagem bem construído.

A 2ª temporada de Sex Education mostra que não é uma série somente para o público jovem, mas importante e necessária para o público adulto. A desinformação sobre o sexo está presente desde os adolescentes, com suas dúvidas e inseguranças, como também para os mais velhos. Importante a série ter discutido o sexo da meia-idade, visto ainda como algo de outro mundo.

Com uma linguagem divertida e usando o típico humor britânico, a série toca nos temas mais sérios de forma profunda e intensa, explorando-as de forma eficiente.

4

Ótimo

Com uma linguagem divertida e usando o típico humor britânico, a série toca nos temas mais sérios de forma profunda e intensa, explorando-as de forma eficiente.