Após uma longa espera, mais uma temporada de Black Mirror chegou a Netflix. Para a alegria dos fãs, mesmo com um número maior de episódios, o enredo de cada um nos propicia maratonar tudo de uma só vez. Diferente do que vimos anteriormente, porém, os seis capítulos da nova história são mais leves e sem muito conteúdo emblemático. Ainda há muita qualidade envolvida em cada um, mas depois de White Bear e The National Anthem, conseguimos passar a nova temporada tranquilamente.
Não há como negar que até mesmo as mentes por trás de cada episódio tem limites. Depois de tantas maneiras de lidar com tecnologia e seres humanos, temos a impressão de que o inovador se foi e apenas vemos mais do mesmo em determinados momentos. A particularidade da série, que nos faz esperar ansiosamente por mais cenas, ainda está lá. Ainda temos episódios que serão lembrados no futuro, como Black Museum e Hang the DJ, que de tão bons mascaram os outros.
Black Mirror está mais futurística do que nunca. Se antes podíamos tomar a série como uma espécie de lição para nossa dependência em relação a tecnologia, hoje mergulhamos profundamente em meio a ficção. Telefones que nos permitem dar nota a uma pessoa já podem ser considerados do passado, pois a moda agora são chips implantados na cabeça. Mesmo “ultrapassadas”, as tecnologias anteriores ainda passam a mensagem que todos temíamos: é difícil superar as três primeiras temporadas.
USS Callister
O primeiro episódio da quarta temporada é também o mais colorido. Apesar de não ser considerado o melhor em minha opinião, é o que mais despertou interesse no espectador, razão pela qual pode virar uma série independente. Com uma temática inspirada em Star Trek, talvez seja também o que de mais exótico temos na atual temporada. Centralizado nos personagens de Jesse Plemons (Breaking Bad) e Cristin Milioti (How I Met Your Mother), o enredo evidencia a “dupla personalidade” de pessoas no mundo real e virtual. Um gênio da computação obcecado por uma série de televisão, vê na ficção uma oportunidade de ter tudo o que sempre quis, reconhecimento. Com um desfecho em aberto e podendo ser melhor abordado, o episódio traz de volta a sensação de que os vilões na verdade, somos nós mesmos.
Arkangel
Esse é o episódio que mais pode representar o bordão “isso é muito Black Mirror”. A sensação de Déjà vu me acompanhou durante todos os minutos de duração do capítulo. Trazendo à tona os perigos da superproteção parental, a trama nos mostra uma versão exacerbada do controle que alguns pais tem sobre seus filhos hoje em dia. Controlar o que é visto em tablets, buscar a pessoa pelo GPS e até mesmo instalar uma espécie de “babá eletrônica” para uma adolescente, são alguns dos exemplos. A novidade de Arkangel está na direção de Jodie Foster, que procurou centralizar seu foco no relacionamento conturbado entre mãe e filha. Apesar do ótimo trabalho de Foster, o episódio não destacou em meio aos outros e ficou na categoria “ok”.
Crocodile
Esse foi em minha opinião, o episódio parado e desnecessário dessa temporada – afinal, todas tem um desse. Com uma temática repetitiva e sem muita emoção do início ao fim, o desenvolver da trama acontece de maneira lenta e monótona. A protagonista da vez tenta manter sua reputação acima de tudo, utilizando artimanhas pra lá de ilegais para tal. O grande destaque está na maneira encontrada para investigar o crime inicial: uma máquina composta por (adivinhem?) um objeto colocado na cabeça da pessoa, que permite o investigador invadir até as memórias mais profundas da pessoa. Uma agulha no cérebro e o trabalho de milhares de policiais se torna inútil, fornecendo toda a prova necessária para a criação de um caso. As atuações de Andrea Riseborough e Kiran Sonia Sawar salvam o episódio de ser totalmente dispensável.
Hang the DJ
Um dos grandes destaques da quarta temporada, o quarto episódio foi o melhor dentre os seis. Usando a tecnologia associada a comédia romântica, a trama faz uma crítica sucinta a aplicativos de relacionamento como Tinder e muitos outros. O que mais me agradou na história do diretor Tim Van Patten foi o que ficou em aberto após o final do episódio. Não pense que o final é inconclusivo no sentido negativo, mas deixa aquela pulga atrás da orelha. Diferente do que acontece nos aplicativos convencionais, o “sistema” em questão mostra a validade de cada relacionamento – sem exceções. Já tivemos histórias similares na série, mas nenhuma se desenvolveu de forma tão intensa e original como essa. Tudo acontece muito rápido a partir do momento em que o plot twist é revelado e estamos até agora com um grande ponto de interrogação na testa. Mas a química entre o casal protagonista faz tudo valer a pena e ansiamos por mais no final do episódio.
Metalhead
O quinto episódio nos surpreende logo de cara por ser filmado em preto e branco e em diversos momentos chega a lembrar White Bear. Aqui voltamos a ter um protagonista fugindo de sua realidade, mas a ausência de diálogos numerosos torna tudo extremamente desesperador. A história é tensa e frenética, repleta de ação e com o ritmo mais acelerado de toda a temporada. No final, temos algo sombrio, misterioso e real, mas que não chega a altura de seus episódios anterior e posterior.
Black Museum
Não, o nome não é uma piada ou ironia, o episódio se trata literalmente de um museu de Black Mirror. Caso a sua memória seja boa, esse é o seu episódio! Cheio de referências, o último capítulo da quarta temporada traz um museu repleto de objetos macabros, carregados de histórias iguais ou piores no quesito terror. Qual a melhor maneira de homenagear uma série sobre tecnologia, do que usando-a para relembrar momentos importantes de outras histórias ligadas a ela? Isso é mesmo muito Black Mirror, não? Confesso que não esperava pelo plot twist do episódio, principalmente após tantos momentos de tensão. Só encerrou tudo com chave de ouro, colocando Black Museum ao lado de Hang the DJ como grandes destaques da temporada.
Resumo
Mesmo com a mesma qualidade característica da série, Black Mirror retorna com uma quarta temporada morna e sem muitos episódios de tirarem o fôlego.