Um dos principais – e mais bonitos – lançamentos de quadrinhos do ano, Conto de Areia, de Jim Henson e Ramon K. Perez, é uma obra surrealista linda e inteligente. Ela chega ao Brasil com uma edição caprichada da editora Pipoca e Nanquim, que imita a original americana.
Obra premiada no Eisner, o principal prêmio dos quadrinhos americanos, conta a história de Mac, um viajante que chega em uma cidade remota no sudoeste americano. Lá ele se vê alvo de uma caçada humana, onde ele precisará chegar em um ponto determinado no mapa, se não será morto.
Dito assim, parece que o leitor está em uma história de suspense e ação, quase um filme do Schwarzenegger ou do van Damme. Não é o caso. Apesar de ser uma grande aventura, a obra é visivelmente surreal, em que Mac é caçado por árabes do deserto, jogadores de futebol americano. Também encontra lugares que parecem maiores dentro do que fora, animais que não deviam estar nos Estados Unidos e muitas outras situações que variam entre o inesperado e o impossível. A ameaça a vida de nosso herói, contudo, parece bastante real.
O roteirista da obra, Jim Henson, foi um roteirista de cinema ganhador do Oscar, mas atingiu o sucesso trabalhando com bonecos de ventríloquos. Foi um dos principais criadores dos Muppets, trabalhou em O Labirinto, filme dos anos 1980 estrelado pelo David Bowie, e também da Família Dinossauro. Conto de Areia foi um roteiro de longa metragem que, devido ao alto custo, acabou arquivado.
A família de Henson decidiu fazer o filme acontecer em quadrinhos. O desenhista escolhido foi Ramon K. Perez, conhecido bastante por uma fase com Jeff Lemire no Gavião Arqueiro. A capacidade de usar estilos de traços diferentes na mesma página, o uso das onomatopéias e de cores belíssimas fazem a arte saltar aos olhos. O elemento onírico da história é potencializado pela arte de Perez. Também por isso foi premiado no Eisner como melhor desenhista.
Conto de Areia é uma obra muito bem feita, que afirma que quadrinhos são sim arte, não um entretenimento barato. Cada um que lê consegue captar algo diferente da obra, como se para cada pessoa ela tivesse um significado diferente, rendendo várias discussões filosóficas. Ou, no mínimo, é um quadrinho muito bonito, com uma arte belíssima. Vale conferir.