Marvel e a polêmica com os X-Men

É muito triste e revoltante a postura que a Marvel está adotando com os Filhos do Átomo. Se voltássemos no tempo dez anos, era impossível pensar, que a Casa das Ideias poderia colocar um de seus principais títulos de lado, mas, hoje a realidade é outra. Nos últimos meses, parece que a disputa dos direitos cinematográficos dos mutantes está abalando as histórias dos X-Men. Entre as principais rixas com a Marvel e a Fox podemos citar: a mudança da origem de Mercúrio e da Feiticeira Escarlate; o adiamento de Uncanny X-Men #600, que marca o fim do run de Brian Michael Bendis a frente dos títulos X e as declarações de Axel Alonso sobre o futuro dos mutantes nas HQs depois de Guerras Secretas.

A postura da editora é uma afronta a todos os fãs dos mutantes e, sem falar o desrespeito que a mesma está fazendo com grandes roteiristas e desenhistas como: Stan Lee, Jack Kirby, Roy Thomas, Neal Adams, Lein Wein, Dave Cockrum, Chris Claremont, John Byrne, Jim Lee, Fabian Nicieza, Scott Lobdell, John Romita Jr., Grant Morrison, Joss Wheedon e tantos outros, que ajudaram a transformar os X-Men em um dos principais títulos da editora.

Stan Lee, Chris Claremont, Scott Lobdell, Joss Wheedon, Jack Kirby, John Byrne, Jim Lee e Grant Morrison

Tratar com desdém uma propriedade intelectual tão interessante como os Filhos do Átomo é um suicídio criativo. O que transforma a trama dos X-Men em algo tão único, é poder tratar de temas como: preconceito, puberdade, minorias e aceitação com metáforas e de uma forma extremamente interessante e cativante. A figura de Professor X e de Magneto são embasadas em nomes importantes da luta dos direitos civis dos negros nos EUA, os ativistas Martin Luther King e Malcom X, entretanto o diferencial das histórias dos mutantes é que os temas não se limitam a isso, pois é possível usar os mesmos plots para tratar de sexualidade ou puberdade, por exemplo.

Professor Xavier falando sobre “a causa” em Uncanny X-Men #299 (roteiro de Scott Lobdell e arte de Brandon Peterson)

Apesar de a ideia original de Lee e Kirby ser interessante, foi apenas no run de Lein Wein e Dave Cockrum com Giant Size X-Men #1, que as histórias saltaram para o patamar de cima. Esse sucesso só ocorreu, por que os autores transformaram a equipe em multicultural e não apenas em cinco garotos brancos dos Estados Unidos e, dessa forma abraçaram a diversidade na HQ. Depois o Dream Team (Chris Claremont e John Byrne) usou os mutantes para contar histórias incríveis como a Saga da Fênix Negra e Dias de um Futuro Esquecido, que trabalham em cima de temas como: ditaduras, futuros despóticos e autocontrole.

Os Novos X-Men eram formados por: Ciclope (norte-americano), Wolverine (canadense), Tempestade (africana), Noturno (alemão), Colosus (russo), Banshee (irlandês) , Solaris (japonês) e o Pássaro Trovejante (nativo americano)

O cinema influenciar as HQs é um caminho perigoso, pois as grandes histórias estão nos quadrinhos assim, sem boas histórias a sétima arte não vai ter o que contar. A Marvel já fez a mesma artimanha com o Quarteto Fantástico e agora os X-Men são a próxima vítima na briga dos direitos cinematográficos. O resultado dessa briga é o pior possível: a tristeza dos fãs ao verem seus heróis se perdendo dentro da própria Casa.