Ler é Bom, Vai | Procurando Gobi, de Dion Leonard

Livros sobre cachorro são, antes de mais nada, um ótimo motivo para lavar os olhos. Quando recebi o livro Procurando Gobi, escrito por Dion Leonard e publicado pela Editora HarperCollins Brasil, sabia que não poderia lê-lo em qualquer lugar. Afinal, ninguém merece chorar em público, certo? Entretanto, sentimentos mistos surgiram a medida em que as páginas se desenvolviam. Desde felicidade a uma angústia tremenda, o livro traz uma importante lição de companheirismo e amizade. Confesso que em diversos momentos da leitura parei, chamei meu cachorro e fiquei um tempo abraçada com ele. Sem dúvidas é um livro que merece ter sua história contada aqui no Ler é Bom, Vai! 

Sinopse

Procurando Gobi é o relato milagroso de Dion Leonard, um ultramaratonista que atravessa longos percursos com um cachorrinho vira-lata enquanto compete em uma corrida de 155 milhas através do deserto de Gobi, na China. O adorável cãozinho provou que o que ele não tinha em tamanho, tinha em coração, enquanto seguia Dion, acompanhando-o por 77 milhas. O objetivo principal de Dion já não era mais ganhar a corrida, mas sim garantir que sua amizade com Gobi continuasse forte.

Embora não tivesse cruzado a linha de chegada em primeiro, Dion sentiu que ganhara algo ainda maior – uma nova visão da vida e um novo amigo que ele planejava trazer para casa assim que possível. No entanto, antes que isso pudesse acontecer, Gobi desapareceu na grande cidade chinesa. Dion, com a ajuda de estranhos e da internet, começou a rastreá-la e se reuniu para sempre com o incrível animal que mudou a sua vida.

O Livro

Apenas por ler a sinopse já podemos imaginar a quantidade de emoção que as páginas carregam. Procurando Gobi traz uma história verdadeira, mas que de tão bonita parece fictícia. A vida de Dion Leonard é daquelas que nos faz rever os conceitos do que chamamos de problema. Antes de tudo o que é narrado no livro, ele passou por poucas e boas em seu passado. Enquanto teve de lidar com a perda do pai de criação, viu sua mãe se entregar ao luto. Por consequência, acabou vivendo em um albergue. Sem o apoio familiar, buscou esperanças na escola e nos amigos. Não apenas foi desacreditado por professores e colegas, como também pensou não ter mais forças para nada. Felizmente, Dion conseguiu ignorar a dor e se encontrou no esporte. Era o início de sua carreira como maratonista.

“As pessoas me chamavam de grandão, e com razão. Eu pesava 108 kg, o maior peso que atingi na vida. Não me exercitava, era um fumante esporádico, e o sofá do estúdio onde eu assistia as transmissões esportivas já estava com a marca da minha silhueta. Eu tinha 26 anos e estava cavando a minha sepultura comendo daquele jeito”. 

Em Procurando Gobi, o autor abre seu coração e expõe a vida aos milhares de leitores que lerão sua trajetória. Para entendermos seu relacionamento com a cachorrinha, é essencial compreendermos tudo o que ele passou. É provável que ele nunca tenha pensado que seu destino iria cruzar com o de Gobi quando embarcou para a Ultra Maratona na China. Mas quem foi que disse que a vida é algo previsível?

Dion

Enquanto lia a história do autor, parecia que ele estava me contando os fatos naquele exato momento. A maneira como ele escreve é verdadeira e extremamente orgânica, sem a necessidade de “encher linguiça”. Ele nos conta sobre os bastidores de uma ultra maratona, e por mais que seja possível imaginar o clima de tensão, há algo diferente no relato de Dion. Os sentimentos neste tipo de competição são os mais diversos possíveis, e ele nos descreve os seus. O autor fez questão de destacar seus defeitos e desconfianças, e por consequência, conseguimos nos identificar com ele. Em virtude de suas dificuldades, Leonard foi um dos autores mais humanos que tive a oportunidade de ler. Seu objetivo com Procurando Gobi não era se vangloriar de nada, muito pelo contrário. Ele quis contar sua história, para assim, conseguir inspirar muitos ao redor do mundo.

Procurando Gobi

Este pode parecer ser aquele livro lento e detalhado, que irá nos custar semanas para ler. Isto é provavelmente um dos maiores absurdos de se pensar dessa trama. A história de Dion é gostosa de se ler, e uma vez que engatamos no nível emocional, é impossível largar o livro. Quando Gobi se perde na cidade de Urumqi, por exemplo, fiquei angustiada até o momento em que ela voltou a aparecer. Sentimos a agonia e tensão nas palavras de seu dono, e mesmo que saibamos o final, nos pegamos torcendo para tudo dar certo.

Eu nunca tinha ouvido falar de Gobi – e muito menos de Dion -, mas minha vida se tornou melhor graças aos dois. Certamente uma das leituras mais bonitas e surpreendentes de 2018.

“Em parte, o problema dos cachorros abandonados na China está ligado à compra de animais de pedigree; as pessoas levam o animal para o apartamento e depois ficam irritadas quando ele suja o chão ou estraga a mobília. Em um país onde a riqueza é abundante, os cães muitas vezes são tratados como acessórios de moda – temporários e descartáveis. A Gobi merecia bem mais do que isso.”