Primavera em Tchernóbil é um relato documental da cidade após o desastre nuclear, que vitimou milhões de pessoas. Após a série da HBO, que narrou com brilhantismo todas as irresponsabilidades ao redor do reator em 1986, o artista Emmanuel Lepage mostra como está a cidade de Tchernóbil, na Ucrânia, 20 anos depois.
Lepage era apenas um jovem de 19 anos quando o acidente ocorreu e em 2008 decidiu visitar o local do acidente, entrevistando os habitantes, todos condenados na cidade que ainda sofre com a radiação.
Lançado pelo Geektopia, selo da editora Novo Século, Primavera em Tchernóbil causa um efeito ainda maior quando Lepage adapta sua jornada na cidade abandonada em formato de graphic novel. Há uma linha tênue entre a beleza e a morbidez.
Com sua equipe de pesquisadores, Lepage começa a se envolver de uma forma que nunca esperaria. O local do acidente, os números de mortos ou as consequências sociopolíticas são deixadas de lado. Aqui, o autor faz um relato sobre a vida, que diante de um cenário quase apocalíptico, ainda resta um pouco de esperança para que a vida siga em frente. Difícil não se envolver emocionalmente com os habitantes de Chernobil. Embora tenham perdido pessoas queridas, ainda conseguem ter um sorriso no rosto. É tudo que lhes resta. Se adaptar e sobreviver.
O trabalho artístico está exemplar. O uso das cores é usado de forma eficiente. Ora o preto em branco e ora o tom verde e amarelo, fazendo um paralelo entre os locais mais afetados pela radição e as áreas habitadas, com os moradores seguindo seu curso.
Primavera em Tchernóbil é um quadrinho documentário essencial para os admiradores da nona arte. Um relato honesto sobre uma cidade quase fantasma. Mas, a obra nos ensina bastante. Uma leitura deveras reflexiva.
