Ler é Bom, Vai! Meu Amigo Kim Jong-un Ler é Bom, Vai! Meu Amigo Kim Jong-un

Ler é Bom, Vai! Meu Amigo Kim Jong-un

A ousadia de Keum Suk Gendry-Kim em explorar uma figura complexa

As tensões geopolíticas entre as Coreias sempre foram terreno fértil para narrativas marcantes e profundas, e Keum Suk Gendry-Kim vem demonstrando, com maestria, sua capacidade de abordar temas tão sensíveis quanto urgentes. Após nos impactar com obras-primas como Grama e A Espera — ambas dolorosamente humanas e reveladoras —, a autora retorna com Meu Amigo Kim Jong-un, sua obra mais polêmica. Mas aqui, a polêmica está longe de ser o que parece à primeira vista.

Ler é Bom, Vai! Meu Amigo Kim Jong-un

O título ousado pode sugerir uma aproximação ou simpatia pelo Líder Supremo da Coreia do Norte, mas essa ideia é rapidamente desconstruída pelas primeiras páginas. A proposta de Keum Suk não é venerar ou vilanizar, mas investigar. E ela faz isso com o rigor de uma jornalista e a sensibilidade de uma artista. Entrevistando desertores norte-coreanos, estudiosos da região, amigos de infância do período em que Kim Jong-un viveu na Europa, e até figuras de renome como o ex-presidente sul-coreano Moon Jae-in, a autora traça um retrato multifacetado e inquietante de uma figura cercada por mistério, controvérsia e, acima de tudo, poder.

A narrativa se constrói com uma habilidade impressionante de entrelaçar história pessoal, dados biográficos e reflexões coletivas. Desde a infância de Kim Jong-un em Pyongyang, passando por sua educação europeia em escolas suíças, até os momentos históricos de negociações com Donald Trump, Keum Suk nos guia por um mosaico de memórias e análises. Cada capítulo é impregnado por suas próprias vivências, conectando a experiência sul-coreana de viver sob a constante ameaça do Norte às histórias de seus entrevistados.

Mas Meu Amigo Kim Jong-un vai além da biografia. É, sobretudo, um apelo pacifista. O quadrinho é um grito contra a iminência de um conflito que pode ultrapassar as fronteiras coreanas e repercutir em escala global. A autora nos lembra que as cicatrizes da Guerra da Coreia ainda estão abertas e que uma nova guerra poderia trazer consequências devastadoras para o mundo inteiro. A obra reflete a necessidade urgente de diálogo e compreensão, mesmo entre inimigos históricos.

Com uma arte tão impactante quanto sua narrativa, Keum Suk Gendry-Kim mantém a capacidade de emocionar e informar de maneira simultânea. O traço em preto e branco é carregado de simbolismo e peso emocional, imergindo o leitor na tensão, nos medos e nas esperanças de cada personagem e da própria autora.

Meu Amigo Kim Jong-un consolida Keum Suk como uma das autoras mais relevantes da atualidade. Seu trabalho transcende os limites do quadrinho e se posiciona como um registro histórico e uma reflexão sobre os caminhos que queremos trilhar enquanto sociedade global. Para mim, conhecê-la como criadora e voz artística é um privilégio, e sua passagem pelo Brasil, durante a CCXP24 com a editora Pipoca & Nanquim, reforça o quanto seu trabalho é essencial.

Este é um quadrinho que exige coragem para ser lido e, mais ainda, para ser criado. Um lembrete de que, mesmo nas histórias mais sombrias, há espaço para uma mensagem de esperança.


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