Ler é Bom, Vai | Geekerela é uma ótima mistura entre o clássico e o moderno

Não é difícil imaginar sobre o que se trata um livro chamado Geekerela. Logo quando tomei conhecimento de seu lançamento, ficava contando os dias para o mesmo chegar, uma vez que reune o melhor dos dois mundos, em minha opinião. De um lado, o clássico francês de 1697 do autor Charles Perrault, contado e recontado através dos anos pela produção de Walt Disney.

Do outro, o enorme e maravilhoso universo Geek, englobando boa parte do que meu dia gira em torno. E é exatamente isso que Ashley Poston quis transcrever em sua história, uma Cinderela nerd e divertida, passando por boa parte dos problemas que milhares de jovens enfrentam ou enfrentaram até os dias de hoje.

A capa escolhida pela autora não podia ser diferente, colorida e com ilustrações claras e objetivas, retratando exatamente o que o leitor espera ao pegar o exemplar para ler. O efeito ‘3D’ presente no nome foi um toque sútil para fechar com chave de ouro os atrativos do livro, tornando-o presença obrigatória no Ler é Bom, Vai!

“Quando Elle Wittimer, nerd de carteirinha, descobre que sua série favorita vai ganhar uma refilmagem hollywoodiana, ela fica dividida. Antes de seu pai morrer, ele transmitiu à filha sua paixão pelo clássico de ficção científica, e agora ela não quer que suas lembranças sejam arruinadas por astros pop e fãs que nunca tinham ouvido falar da série. Mas a produção do filme anunciou um concurso de cosplay numa famosa convenção valendo um convite para um baile com o ator principal, e Elle não consegue resistir.

Já Darien Freeman, o astro adolescente escalado para ser o protagonista do filme, não está nada ansioso para o evento, embora o papel seja seu grande sonho. Visto como só mais um rostinho bonito, o próprio Darien também está começando a achar que se tornou uma farsa. Até que, no baile, ele conhece uma menina que vai provar o contrário.”

Não há muito o que inventar, então não espere encontrar algo extremamente surpreendente. O livro é previsível? Sim, afinal estamos falando de uma releitura de um clássico de 1697, o que não necessariamente é um ponto negativo. Poston soube usar as palavras para trazer as lembranças de Cinderela à tona, a medida que ia lapidando a história e transformando-a na mais original possível. Danielle Wittimer é órfã de pai e mãe, criada por sua ‘pessimadrasta’ Catherine e suas filhas gêmeas Calliope e Chloe.

Como típica ‘gata borralheira’, a menina é obrigada a fazer todos os serviços braçais da casa, não recebendo nada em troca além de reclamações e xingamentos. Elle trabalha na Abóbora Mágica, um food truck vegano que honra seu nome nas características físicas – grande e laranja -, além de ser pilotado por Hera, uma jovem de cabelos verdes que termina por se tornar a melhor amiga da menina. Cada centavo arrecado no serviço é destinado ao plano de Wittimer: completar 18 anos e sair da casa onde mora, levando Franco (o cachorro gordo do vizinho) e todas as lembranças que conseguir, sendo a maior parte relacionada a Starfield: a série de TV favorita da família.

A série foi a responsável pelo casamento entre seus pais, e por mais que tenha poucas memórias de sua mãe, é através do programa que recorda-se com clareza dos momentos maravilhosos que teve ao lado do pai. O mundo de Elle vira ao contrário quando ela descobre que Starfield ganhará um remake hollywoodiano, tendo o astro teen Darien Freeman no papel do herói Carmindor. Fanática pela série, a jovem não fica nem um pouco feliz com a escolha do protagonista, acreditando que para Freeman não se passa de interesses monetários.

“Sou a princesa perdida. A vilã da minha própria história, e a heroína também. Sou um pouco da minha mãe e um pouco do meu pai. E existo neste universo. Sou o possível e o impossível.”

Alternando os capítulos, temos a narração de Darien Freeman e seu ponto de vista de tudo aquilo narrado por Elle. Diferente do que pode parecer pra ela, ele é um grande fã de Starfield e apenas por isso aceitou o trabalho. Esgotado por toda a pressão feita por seu pai/empresário, o diretor do programa e seus milhares de fãs, Darien só quer viver como um garoto normal de sua idade e curtir tudo aquilo que a série lhe trará. As expectativas dos fãs são as piores possíveis, principalmente após um certo site criticar a atuação de Freeman a cada cena nova divulgada, desde a tonalidade do azul de sua roupa até os trejeitos e furos em cada cena vazada por uma fonte anônima. A dona do site? Elle, lógico.

É uma convenção e um concurso de cosplay que acabam por reunir o casal protagonista. Ela só quer uma chance de voltar ao local criado por seu pai e ganhar a oportunidade de ir ao lançamento da série, enquanto ele se vê obrigado a cumprir o contrato e vai contra sua vontade.

Por obra do destino ou não, Darien e Elle acabam por se encontrar na pior situação possível e quase jogam o conto de fadas por água abaixo. Não é difícil imaginar, porém, como tudo irá acabar no final do livro…mas é a trajetória percorrida pelos personagens que nos prende em cada capítulo. Geekerela foi um dos livros que li todo em um único dia, pois apesar de ser previsível, não consegui deixar o lado adolescente guardado e precisei acabar o mais rápido possível

Por meio de uma leitura fácil e fluida, Poston foi extremamente feliz ao lançar sua história. Mesmo sendo uma releitura, Geekerela é original de sua própria maneira, trazendo os elementos joviais e modernos capazes de atrair qualquer jovem que dê uma chance a obra.

A trama é tão envolvente que não conseguimos parar de ler, além de nos apaixonarmos cada vez mais por Elle e Darien. Ele é o sonho de toda menina nerd, e ela apresenta a coragem e representatividade que todas buscamos em nosso dia a dia. As dificuldades enfrentadas pela princesa da Disney estão presentes na vida da menina, adaptadas para o século XXI e nos mostrando que existem maneiras de atingir nossos sonhos apesar dos empecilhos.

“Até podemos ser diferentes, torcer por casais diferentes, ou ser fãs de histórias diferentes, mas, se aprendi alguma coisa nestes vinte e três dias enfiado num uniforme da cor errada, interpretando um personagem que eu nunca pensei que seria capaz de interpretar, foi que, quando nos transformamos nesses personagens, partes de nós se acendem como fogos de artifício. E brilham. Nós brilhamos. Juntos.”

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