Você pode até não estar procurando por Coragem, livro publicado pela Editora HarperCollins Brasil. É provável que nem saiba sobre sua existência, mas certamente algo nele irá lhe chamar a atenção. Não só a imagem que estampa a capa, como também o jogo de cores escolhido para representar o livro, captam nossos olhos longe na prateleira. Felizmente não precisei ir até uma livraria para conhecer a história publicada pela atriz Rose McGowan. Por mais que conhecesse seu trabalho televisivo e cinematográfico, nem de longe pensava que ela havia passado por tudo o que passou. Trazer Coragem ao Ler é Bom, Vai! é uma espécie de homenagem não apenas a atriz, mas também a todas aquelas que assim como ela, enfrentaram situações machistas na vida. E sem dúvida, saíram delas de cabeça erguida.
Sinopse
Rose McGowan nasceu em um culto e o trocou por outro, mais visível: Hollywood. Ela se tornou uma das atrizes mais desejadas de Hollywood da noite para o dia, quando foi “descoberta” nas ruas de Los Angeles. O estrelato logo se tornou um pesadelo de exposição constante e sexualização. Todos os detalhes de sua vida pessoal se tornaram públicos, e as realidades de uma indústria inerentemente machista emergiam a cada roteiro, papel, aparição pública e capa de revista. Hollywood esperava que Rose ficasse quieta e cooperasse. Em vez disso, ela se rebelou e impôs sua verdadeira identidade e voz. Liderando o movimento de denúncias de assédio sexual na indústria de entretenimento ao expor os crimes de Harvey Weinstein, Rose é hoje um dos rostos do movimento feminista e não hesita ao disparar verdades inconvenientes e exigir mudanças.
Coragem
Autobiografias geralmente trazem os feitos e conquistas de seu autor. Em Coragem não foi diferente, mas este foi um livro que se tornou necessário. A indústria do entretenimento é para muitos um paraíso, um lugar dos sonhos a ser conquistado. Entretanto, muitos foram escolhidos para serem habitantes deste cenário imaginário, e não tiveram a opção de sair de lá.
Rose McGowan ficou conhecida após interpretar Paige Matthews a partir da quarta temporada de Charmed (Jovens Bruxas, no Brasil), seriado de sucesso dos anos 90 nos Estados Unidos. Assim também, aumentou sua popularidade com a jovem Tatum Riley, de Pânico, o primeiro filme da famosa franquia. Esses foram apenas alguns exemplos dos inúmeros trabalhos de McGowan para o cinema e para a televisão norte-americana. Ser uma atriz hollywoodiana, porém, esconde um lado não muito agradável por trás de tanto glamour. Abusos sexuais e psicológicos são frequentes entre as atrizes, que assim como Rose, só querem uma chance de reconhecimento.
A atriz italiana resolveu abrir seu “diário de memórias” para o público, nos contando desde sua infância difícil até os dias atuais. Salvo seus amigos mais próximos, poucos devem saber por exemplo, que Rose nasceu em uma seita religiosa da qual seus pais eram adeptos. Dentre as tradições do grupo, a seita incentivava o sexo entre adultos e crianças, além da prostituição infantil. Não foi de se espantar que Rose tenha fugido para os Estados Unidos em busca de melhor qualidade de vida.
“Você pode dizer “chega”. Você pode dizer “sim” para ser mais livre. Você pode se libertar da armadilha que foi armada para você.”
Imagine chega em um lugar diferente, falando uma língua diferente e se lançando em meio ao destino? Jovem e ingênua, Rose foi tratada como um pedaço de carne por muitos diretores e produtores, que estavam interessados em tudo, menos em seu talento.
Você talvez tenha ouvido falar de Harvey Weinstein, produtor com grande poder na indústria cinematográfica. Contudo, não foi sua importância para o cinema que o trouxe para as manchetes. Rose McGowan foi uma das primeiras atrizes a denunciar os abusos sexuais por parte do produtor. Ela foi seguida por nomes como Lupita Nyong’o, Lena Headey, Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow e muitas outras. Em suma, cerca de 70 mulheres trouxeram os abusos a público. Não, o nome de Weinstein não está no livro, mas você talvez encontre a palavra Monstro em alguns momentos.
Coragem nos traz não apenas o papel do produtor nos abusos expostos em Hollywood no último ano, mas também os relatos angustiantes de Rose. Se relacionar com Marylin Manson certamente não a ajudou em nada com seus problemas, pelo contrário. Por fim, mais nomes são citados em seu livro. O diretor Robert Rodriguez, por exemplo, foi mais do que apenas o companheiro de McGowan, mas também a causa de novos abusos psicológicos.
“Quando coisas importantes e sombrias nos acontecem, demoramos muito mais para nos importar com o resto. Parecia que eu tinha 8000 anos e estava no corpo de uma pessoa pequena, basicamente uma alienígena entre aqueles que entendiam conceitos tradicionais de sociedade.”
Coragem é sem dúvidas, um livro necessário!