Publicado originalmente em 1933 nas páginas da lendária revista Weird Tales, A Torre do Elefante surge como a terceira aventura oficial de Conan, o Bárbaro, e rapidamente se consolidou como um marco não apenas dentro do cânone de Robert E. Howard, mas também na consolidação da literatura pulp como um território fértil para experimentações e fusões de gêneros. A genialidade desse conto não reside apenas na brutalidade ou no exotismo típicos das histórias de espada e feitiçaria, mas sobretudo na forma como Howard ousou romper com as fronteiras tradicionais da fantasia, inserindo ali, com destreza incomum, elementos que hoje associaríamos mais facilmente à ficção científica — como seres de outras esferas cósmicas, mistérios interplanetários e uma reflexão incipiente sobre a decadência das civilizações. A Torre do Elefante é um relato que, ao mesmo tempo, celebra e subverte o mito do herói bárbaro: é ação desenfreada, sim, mas também é melancolia, estranhamento e poesia. Não à toa, é considerada por muitos estudiosos e aficionados — com justiça — uma das obras mais emblemáticas de Howard, reverenciada como uma das melhores portas de entrada ao universo de Conan.
Agora, mais de 90 anos depois de sua primeira publicação, essa história ganha uma nova vida pelas mãos de dois mestres latino-americanos dos quadrinhos: o veterano ilustrador argentino Enrique Alcatena, e o roteirista chileno Claudio Alvarez. A escolha de Alcatena para esse projeto não poderia ser mais acertada. Conhecido por seu traço profundamente estilizado, onírico e absolutamente inconfundível, Alcatena já demonstrou em obras como A Fortaleza Móvel e O Mundo Subterrâneo um apuro estético raro, que se traduz em composições vertiginosas, cenários de um exotismo arrebatador e personagens que evocam a tradição das xilogravuras medievais misturadas com a ilustração barroca. Em A Torre do Elefante, seu estilo encontra um terreno fértil: cada página é trabalhada com meticulosidade e fervor artístico, criando uma ambientação que, embora assente na estética clássica da fantasia heroica, reverbera como uma espécie de mito ancestral, como se estivéssemos diante de fragmentos gráficos de uma lenda esquecida por milênios. O traço de Alcatena transforma a adaptação em algo maior do que a simples transposição do texto literário: é uma verdadeira recriação imagética, que injeta novas texturas e uma potência visual renovada ao universo howardiano.
A parceria com Claudio Alvarez, por sua vez, se revela fundamental para o equilíbrio entre texto e imagem. Alvarez, conhecido por sua atuação na revista Heavy Metal e pela graphic novel O Último Detetive, demonstra um respeito absoluto à obra original, preservando os pontos essenciais do conto, mas também realizando escolhas narrativas que ampliam o seu alcance dramático. Ele compreende, como poucos, que adaptar Howard é antes de tudo entender a cadência da aventura, o peso da atmosfera opressiva e o assombro que cada descoberta representa para o jovem Conan. Não se trata apenas de um bárbaro que tenta roubar um tesouro, mas de um homem que, ao ascender à mítica torre, confronta não só perigos físicos como também os limites do seu entendimento sobre o mundo e as forças que o regem. Alvarez e Alcatena, juntos, alcançam o que poucas adaptações conseguem: respeitam a fonte, mas a expandem, como todo grande exercício de recriação deve fazer.
A edição brasileira, lançada com esmero pela editora Pipoca & Nanquim, é um verdadeiro presente para os leitores e colecionadores. O selo já se consolidou como referência incontornável no mercado nacional quando se trata de edições caprichadas de quadrinhos de peso histórico e artístico, e aqui não foi diferente: a obra chega em um elegante formato grande, com capa dura, e um acabamento gráfico que valoriza de forma admirável o preto e branco do traço de Alcatena. São 84 páginas onde o contraste entre sombras e luzes é explorado ao máximo, intensificando a dramaticidade das cenas e oferecendo ao leitor uma experiência estética imersiva. É o tipo de edição que não apenas se lê, mas se contempla, com o prazer quase tátil de folhear uma obra pensada em cada detalhe, desde o papel de qualidade até a diagramação que valoriza cada vinheta.
A narrativa segue o clássico mote que fundou a tradição da espada e feitiçaria: um homem, um desafio e um mundo onde o poder é tanto físico quanto sobrenatural. Conan, ainda jovem, se encontra em uma cidade de ladrões e mercadores inescrupulosos, quando ouve rumores sobre um fabuloso tesouro escondido na misteriosa Torre do Elefante — uma estrutura imponente, protegida por forças sombrias e armadilhas letais que já ceifaram a vida de muitos aventureiros antes dele. Movido por sua audácia típica, mas também por uma inteligência estratégica que Howard nunca deixou de sublinhar, Conan decide tentar a sorte, não apenas pelo ouro, mas também pelo desafio de superar aquilo que parece impossível. No entanto, o que ele encontra no interior da torre transcende em muito a noção de riqueza material: há ali um ser de origem insuspeita, um mistério cósmico que, além de subverter suas expectativas, convida o leitor a uma reflexão profunda sobre opressão, vingança e compaixão. Essa dimensão filosófica, raramente atribuída às narrativas pulp de sua época, é um dos traços mais notáveis deste conto.
Assim, A Torre do Elefante permanece, ainda hoje, como uma das melhores histórias para se conhecer Conan. Não apenas pela eficácia de sua trama — uma aventura redonda, cheia de tensão, mistério e ação — mas, sobretudo, pela maneira como Howard delineia, já nesse início de saga, as múltiplas camadas de seu personagem. Aqui encontramos o bárbaro indomável, movido pelo instinto de sobrevivência e pelo desejo de conquista, mas também o estrategista astuto, capaz de analisar friamente as situações e agir com precisão cirúrgica; o calculista que pondera riscos e o homem de honra que, mesmo em meio à brutalidade, sabe reconhecer a dor do outro e agir com um senso de justiça que desafia o estereótipo do guerreiro selvagem. É essa complexidade que transforma Conan em um ícone literário atemporal, muito além de suas origens pulp.
Em suma, a adaptação de Enrique Alcatena e Claudio Alvarez é uma celebração da potência narrativa e imagética de um dos maiores clássicos da literatura fantástica. Uma obra obrigatória para os fãs de Conan, para os apaixonados por quadrinhos e para todos aqueles que compreendem que revisitar os mitos do passado é, também, reinventá-los para as gerações futuras.
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