Após terminar de ler Com Amor, Simon, de Becky Albertalli, não imaginei que a história iria continuar. Mesmo que a adaptação da trama para o cinema tenha alcançado grande sucesso, o desfecho concluiu bem o roteiro. Entretanto, sempre ansiamos por mais e confesso ter ficado feliz ao saber que a autora estaria escrevendo uma possível continuação. Publicado no Brasil pela Intrínseca, o livro recebeu o título de Leah Fora de Sintonia. Caso você tenha lido e/ou visto a história de Simon com atenção, deve lembrar-se do nome da protagonista. Leah Burke é a melhor amiga de Simon Spier, interpretada no filme por Katherine Langford (de 13 Reasons Why).
Embora o filme tenha mudado o alvo de sua paixão, a desilusão amorosa de Leah se tornou esquecida após a grande revelação de Simon. Não é atoa, por isso, que Albertalli achou necessário contar um pouco mais sobre a menina para o mundo. Após terminar de ler Leah Fora de Sintonia, porém, não sei ao certo se tal história deveria ter sido contada. As vezes precisamos saber a hora de parar e é provável que o enorme sucesso de sua primeira adaptação tenha influenciado – e muito – na decisão da autora. A trama não é ruim, na verdade está bem longe disso. Contudo, algumas mudanças nas características dos personagens me incomodaram bastante, principalmente quando pensamos nos mesmos em Com Amor, Simon.
Sinopse
Leah odeia demonstrações públicas de afeto. Odeia clichês adolescentes. Odeia quem odeia Harry Potter. Odeia o novo namorado da mãe. Odeia pessoas fofas e felizes. Ela odeia muitas coisas e não tem o menor problema em expor suas opiniões. Mas, ultimamente, ela tem se sentido estranha, como se algo em sua vida estivesse fora de sintonia. No último ano do colégio, em poucas semanas vai ter que se despedir dos amigos, da mãe, da banda em que toca bateria, de tudo que conhece. E, para completar, seus amigos não fazem ideia de que ela pode estar apaixonada por alguém que até então odiava, uma garota que não sai de sua cabeça.
O Livro
Aparentemente, após o final da primeira história, Leah ganhou uns quilos a mais e se tornou extremamente insegura sobre seu corpo. Além disso, a menina meiga deu lugar a uma garota geniosa, sem papas na língua e muito reservada. A paixão de Simon por Harry Potter não é nada comparada a Leah, que certamente não entende pessoas que não gostam da história de J.K. Rowling (a gente te entende Leah).
“Abby acha Harry Potter legal. Isso é como dizer que a Oprah é legal. Que o Kendrick Lamar é legal. Não se pode achar Harry Potter legal. A pessoa tem que ser completamente obcecada por Harry Potter.”
“E sou o pior tipo de Sonserina, aquele que está tão perdidamente apaixonado por uma Grifinória que nem consegue raciocinar direito. Sou o Draco de alguma fanfic Drarry bosta que o autor abandonou depois de quatro capítulos.”
Leah mora com a mãe, que está longe de ser um exemplo materno como a mãe de Simon. Ela ama demais a filha, mas não percebe os problemas da menina que estão bem na sua frente. Ela está num relacionamento com um homem chamado Wells, e Leah não consegue dar-lhe uma chance.
Leah Fora de Sintonia
Estar no último ano do ensino médio já é um desafio por si só. Precisamos deixar a adolescência para trás e começar a pensar no futuro universitário. Diferente do que acontece no Brasil, nos Estados Unidos os alunos esperam ansiosamente pela carta de aceite nas universidades, e com Leah não foi diferente. Ansiosa pelo amanhã, mas com medo de perder o hoje, ela vive em frequente tensão com si mesma. Seus amigos estão com os planos encaminhados e pensar em viver longe de Simon é desesperador. Como se já não bastasse, suas dúvidas sobre sua sexualidade começam a ser sanadas em sua cabeça. E a resposta é mais assustadora do que a menina desejava.
Leah é bissexual, e no momento presente do livro está nutrindo uma paixão secreta por ninguém menos do que Abby Suso. Sim, a mesma Abby que termina o primeiro livro namorando com Nick. O casal ainda está junto em Leah Fora de Sintonia, o que só dificulta ainda mais os sentimentos da protagonista. Tendo de lidar com os questionamentos de sua própria consciência, Leah se vê obrigada a lidar com os amigos. Ter se apaixonado por uma menina é mesmo algo tão surreal assim?
O Que Achamos?
Leah Fora de Sintonia foi ao mesmo tempo um dos melhores e um dos piores livros que li esse ano. E não me refiro a qualidade da escrita, pois os elementos que nos fazem amar tanto Becky Albertalli estão todos ali. A história é cheia de referências e tem um vocabulário simples, nos permitindo lê-la em poucas horas. Mas a história adentrou por um caminho que me deixou extremamente decepcionada. Quando a autora optou por fazer uma continuação da história de Simon, ela deveria ter seguido as características de seus personagens. Não é porque estamos diante de um novo livro, que alguns pontos podem ser mudados e/ou esquecidos. Pareceu extremamente fácil mudar a personagem de Abby completamente.
Depois de passar Com Amor, Simon quase inteiro tentando unir a menina a Nick, o relacionamento dos dois se desfaz facilmente. Afinal, a protagonista se apaixonou por Abby e precisava de um final feliz não é mesmo? Sabemos que tal mudança de comportamento é muito plausível, mas uma vez que a construção dos personagens se deu no primeiro livro, pra que mudá-la tanto no segundo? Além disso, Albertalli escolheu resolver o relacionamento amoroso de forma quase que idêntica ao de Simon e Bram. No último segundo, com uma cena bem romântica e clichê. Mas confesso que torci para as duas e terminei Leah Fora de Sintonia com um sorriso no rosto.