Batman: Ano Um de Frank Miller

É indiscutível que Frank Miller é um dos maiores quadrinistas de todos os tempos. Suas obras abalaram a indústria de quadrinhos e contribuíram para a modernização do conceito dos super-heróis. O primeiro trabalho de destaque de Miller foi com o Demolidor, o artista norte-americano conseguiu transformar um personagem, que não tinha muitos holofotes na Marvel em um dos mais interessantes e profundos super-heróis da Casa das Ideias.

Frank Miller

Embalado por esse sucesso, Miller desembarca na DC, onde escreveria e desenharia Ronin, uma série autoral que teve bastante repercussão positiva na época, mas seu maior trabalho ainda estava por vir. Em 1986, o quadrinista roteirizou e desenhou O Cavaleiro das Trevas, uma das HQs mais importantes no cânone do Batman e que abalou o status quo dos quadrinhos.

The Dark Knight e Ronin

No mesmo ano, a DC buscava modernizar seus personagens, pois acreditavam que seus heróis estavam datados. Os editores já sabiam o que fazer com o Superman e a Mulher-Maravilha, mas o Homem Morcego ainda era um problema. Ele era perfeito como estava. A origem pensada por seus criadores, Bob Kane e Bill Finger, ainda se encaixava com perfeição na sociedade da época.

Bob Kane e Bill Finger

Foi nesse cenário, que Frank Miller se voluntariou para refinar a história de origem do Cavaleiro das Trevas uma vez que, já que tinha feito seu epitáfio na HQ de 1986. Então, um ano depois, a genialidade desse cidadão de Maryland e os ótimos desenhos de David Mazzuchecchelli (artista que já tinha trabalhado com Miller em Demolidor) atacam de novo e, assim nasce Batman: Ano Um. Nessa HQ, vemos todo o inicio da carreira de vigilante do Cruzado Encapuzado em contrapartida com o começo de Jim Gordon no Departamento de Polícia de Gotham City.

Batman e Gordon

Uma das melhores cenas da HQ é logo a do começo: a chegada de Bruce Wayne e Jim Gordon à Gotham City. Enquanto Bruce chega de avião e se arrepende por não poder ver seus “inimigos de perto”, Gordon conjectura sobre chegar à cidade de trem e, sua mulher, Barbara, estar vindo de avião e não precisar encarar toda a podridão da cidade, pois de um avião a cidade até parece civilizada. Essa introdução já mostra toda a dicotomia que permeará a HQ, os pontos de vista de Batman e Gordon, que não deixam de ser dois lados da mesma moeda.

Logo no primeiro capítulo da história, Bruce já procura qual seria o método correto para enfrentar os criminosos (como ele mesmo diz tem centenas de métodos) e Jim Gordon já chega mostrando a que veio e não se compactua com os métodos corruptos da polícia mesmo com ameaças a sua mulher grávida. Buscando o método de combate certo, Bruce faz muitas coisas erradas, mas depois de se encontrar com a futura Mulher-Gato, o melhor partido de Gotham percebe que sua ferramenta mais eficaz é o medo que ele pode infligir nos criminosos. Nesse mesmo encontro, o milionário se machuca gravemente e não sabe como utilizar o medo a seu favor até que, um morcego racha a janela do estúdio de seu pai e o nascimento de Batman está completo.

Nascimento do Batman

A primeira saída de Batman é desastrosa e tudo parece dar errado para o herói, isso demonstra como o Cavaleiro das Trevas não está pronto para ser o símbolo que ele tem de ser para enfrentar os problemas de Gotham (isso é praticamente o resumo do Ano Um). Depois de aprender com seus erros, o Cruzado Encapuzado faz uma declaração de guerra contra a máfia e toda a criminalidade de Gotham. Esse é um dos melhores quadros da HQ, pois mostra muito o que viria a ser o modus opernadi do herói, que inclui teatro, fumaça e luzes.

Declaração de guerra

Mais a frente na história, Batman quase morre mais uma vez e percebe que não pode fazer tudo sozinho. Dessa forma, o herói resolve se aliar a Gordon e Harvey Dent, o promotor público. Jim Gordon é o exemplo moral que o Cavaleiro das Trevas não consegue ser, pois o policial não precisa se esconder e faz as coisas dentro do sistema por isso, Gordon é uma das peças fundamentais na cruzada do herói.

Batman: Ano Um, foi adaptada para outras mídias e, destacam-se: a excelente animação de mesmo nome produzida pela Warner, o desenho animado dos anos 90 de Bruce Timm e Paul Dini e a série Gotham, que mesmo com mudanças no cânone do Homem Morcego é uma boa releitura. A HQ também serviu de base para Batman Begins de Christopher Nolan. Outras adaptações já foram mais além e imaginaram o segundo ano do herói como: o game Batman Arkham Origins e a HQ de Jeph Loeb e Tim Sale, Batman – O Longo Dia das Bruxas, ambos buscam dar continuidade a HQ de Miller.

Frank Miller reimaginou o Batman de uma forma espetacular e contribuiu inegavelmente para a modernização de um dos personagens mais icônicos da cultura pop. Agora, só podemos torcer para que a recém-anunciada minissérie The Dark Knight III: The Master Race encerre de forma magistral a carreira do mestre.