O Legado dos Snakes

Este artigo contém spoilers sobre Metal Gear Solid V: The Phantom Pain.

Metal Gear Solid acabou. E temos que encarar essa simples realidade. Nenhuma obra consegue continuar sem seu criador original. Podemos ver isso ao apenas analisar a franquia Resident Evil, qual perdeu Shinji Mikami há anos, no lançamento de Resident Evil 4, o último jogo realmente aclamado. Seria diferente com Metal Gear apenas porque está há mais tempo no ramo? Não.

As razões da saída de Hideo Kojima são incertas e dificilmente serão realmente esclarecidas ao público. Os rumores dizem que era tudo uma questão de dinheiro, enquanto outros falam que era controle criativo. Como disse certa vez Stan Lee, o mestre dos quadrinhos: “não se pode controlar muito pessoas criativas”. E apesar de todos os desentendimentos, a saída de David Hayter da voz de Big Boss e tudo o que sabemos, Metal Gear Solid V: The Phantom Pain foi lançado e causou imensas controvérsias. Foi um jogo bom? Sim. É tudo aquilo? Não.

The Phantom Pain traz o melhor final possível dentro das circunstâncias apresentadas e isso é óbvio. Hideo Kojima não iria deixar pontas soltas para que outros finalizassem por ele, apesar da própria Konami declarando a continuação da franquia. Entretanto, apesar de todos os erros de Phantom Pain, existe uma mensagem clara ali. O jogo não fez tanto jus aos seus antecessores e nem conseguiu ser o melhor da franquia. De longe, Metal Gear Solid e MGS 3: Snake Eater conseguem ser os melhores jogos (até mesmo Guns of the Patriots, qual me fez jogar mais de cinco vezes a campanha em uma sequência de dias consegue superar o feito), mas nenhum deles desafiou os próprios fãs e foi além do limite. Este artigo não se trata sobre defender The Phantom Pain, mesmo porque não ousaria. The Phantom Pain traz questões pouco resolvidas e deixa outras abertas devido ao tempo curto, além de ser enjoativo após muitas horas de gameplay. Contudo, este artigo é sobre o legado dos Snakes.

Dizer que The Phantom Pain falhou miseravelmente em tudo é pura ignorância e irá provar apenas desconhecimento da saga. O jogo conseguiu, de forma estranha, encerrar as coisas e deixar os jogadores querendo remakes como esclarecimentos. Jogada inteligente. Seria melhor, em uma visão de criador, que a Konami fizesse remakes do que tentasse abrir a história novamente. Afinal, como podemos entender que Big Boss não era realmente Big Boss? E como podemos compreender a lenda do homem? A mensagem está aí. Uma lenda é apenas isso. Uma lenda. A grande mensagem e a grande cortina por trás de tudo, retirada por Kojima após inúmeras missões repetitivas, dá ao jogador um perfeito soco no estômago. Não somente ao jogador como em outros personagens. Ocelot, Zero e Eva são exemplos perfeitos. O próprio Big Boss, ao final de MGS 4, reitera que o mundo está melhor sem nenhum Snake.

E é isso que acontece.

Uma lenda está apenas aos olhos de quem vê. Ao jogar um substituto na cova dos leões, Big Boss prova algo que Solid Snake clama desde o primeiro game, lá em 1997. “Não sou páreo para a lenda”. Qualquer homem capaz de encantar as pessoas, leva-las com seu discurso promissor de mudanças drásticas e políticas, é capaz de se tornar uma lenda aos olhos do povo. Big Boss precisava que alguém fosse a lenda em seu lugar ou acabaria, provavelmente, no mesmo caminho de sua mentora. Uma lenda morre tão fácil quanto é criada. E no momento em que Venom Snake – o pobre coitado que acabou nos sapatos de Boss – é morto pelo novato Solid Snake em Metal Gear, a lenda passa a ser outra. O clone vira lenda e Big Boss vira história. No final das contas, Kojima diz que Big Boss é apenas uma sombra perto de sua mentora.

E nós, os jogadores, somos a verdadeira lenda. Os únicos capazes de manter o legado dos Snakes vivo.

 

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