Ambientado na década de 1970, O Agente Secreto mergulha o público em uma trama de suspense e mistério na cidade de Recife. O enredo acompanha Marcelo, interpretado por Wagner Moura, um especialista em tecnologia que, após um longo período ausente, retorna à sua cidade natal em busca de tranquilidade. No entanto, ele rapidamente descobre que o local esconde segredos e perigos perturbadores, sendo forçado a confrontar um passado que não esperava reencontrar. A produção, dirigida por Kleber Mendonça Filho, conhecido por sucessos como Bacurau e Aquarius, obteve aclamação internacional em sua passagem pelo Festival de Cannes, onde foi o filme mais premiado da edição. Além disso, é o filme escolhido para representar o Brasil na próxima edição do Oscar.
No dia 28 de outubro, tivemos a oportunidade de ver uma sessão do filme para a imprensa, seguida por uma coletiva com a presença do diretor Kleber Mendonca Filho, da produtora Emilie Lesclaux e de Wagner Moura, Gabriel Leone, Alice Carvalho e Tânia Maria, que fazem parte do elenco do filme. Confira o que rolou nesse bate papo.
Para começar, Kleber Mendonca Filho falou sobre a turnê do filme e as campanhas para premiação, que já estão acontecendo há algum tempo. “Eu acabei de chegar de uma viagem de 38 dias, que começou em 19 de setembro, e essa viagem me levou à França, à Alemanha, à Suíça, aos Estados Unidos, ao México, à Inglaterra. E, geralmente, o que eu falo é que eu vou onde o filme vai. Eu acho que tem sido uma viagem, muitas viagens, onde a Neon, que é a distribuidora do filme nos Estados Unidos, preparou uma turnê onde não só nós atendemos a convites que são muito prestigiosos para o filme, no Festival de Nova Iorque, no Festival de Toronto, Telluride, Festival de Londres, Festival de Morelia, o filme de abertura em São Sebastião, onde a gente estava também para fazer sessão para a Academia Espanhola, para os votantes espanhóis da Academia Americana, fazer sessões para a Academia em Los Angeles, em Nova Iorque, em Londres”.
Ele continua, “então, tudo isso faz parte desse trabalho e, felizmente, estou de bom humor. É uma viagem que foi… Você conhece muita gente, não é? É uma experiência mesmo de muito prazer, é cansativo muitas vezes. E agora eu estou muito feliz porque estou no Brasil para apresentar o filme no Brasil para o lançamento brasileiro. O filme está entrando no Brasil em 6 de novembro, mas ele também estreia em Portugal e na Alemanha em 6 de novembro. Então, são vários lançamentos em um lançamento. E sobre prêmio, eu vou onde o filme me leva. E hoje a gente tem essa notícia muito boa, muito forte do Gotham, que é talvez a… Não sei, talvez a primeira premiação que acontece em Nova Iorque dentro da temporada de prêmios. E o Wagner [Moura] indicado e o roteiro original também, que, da parte que me toca, eu fico feliz. Eu gosto muito do roteiro do filme”.
O ator Wagner Moura, que também fez parte dessa turnê, completa “acho que a gente está fazendo com os nossos parceiros aqui, com a Vitrine, com a Neon, com o Mubi, uma parceria que está dando muito certo, porque o filme está nos festivais certos, está indo nos lugares certos, está sendo divulgado de forma bem feita. Kleber… o bichinho, não dorme. Vive o mundo todo viajando. Então, o nosso trabalho, a gente tem feito acho que muito bem feito, sabe? De promoção e divulgação do filme. E as coisas estão chegando. E quando as pessoas ficam me perguntando esse negócio de Oscar, não sei o que lá, eu digo que a gente está fazendo tudo direito, mas acho que a gente tem de ter calma, respirar”.
Alice Carvalho falou um pouco sobre sua perspectiva ao descobrir estar em um filme cotado para o Oscar, “as pessoas têm me perguntado muito nas coletivas e nos lugares sobre a expectativa de Oscar também, essa coisa que perguntam para Wagner, perguntam para nós todos ali, meus colegas todos também recebem as mesmas perguntas. Acho que o que tem acontecido de mais importante é que, talvez, em algum lugar, essa coisa que se chama de hype, validado por essas chancelas internacionais, tem feito com que o público brasileiro olhe mais para o nosso filme. E, óbvio, esse Oscar de Melhor Filme Internacional do Ainda Estou Aqui também pavimenta um caminho para a gente. E gosto muito de falar sobre isso e reconhecer isso, a campanha bonita que Fernanda fez. Mas acho que é isso. Eu não imaginei nenhum momento que ia estar rolando essa circulação toda quando a gente gravou, porque nem fazer esse filme eu ia. Então, caí muito de paraquedas no filme. Enfim, tive a compreensão da cena exatamente. Minha participação no filme é a compreensão da cena. Fui lá e, quando assisti em Cannes, fiquei embasbacada com o filme que eu estava fazendo parte. Meu Deus, é massa mesmo. Achei que eu estava fazendo um filme do brother”.
“A gente nunca faz pensando no que vai acontecer depois, na consequência, a gente faz porque… Você topa porque quer contar essa história, porque quer participar. Vi esses dias, no universo da internet, uma figurinha superinteressante, que é um cara cavando um túnel. Ele descobre uma superfície diferente da que ele estava cavando, mas parece pequena. Na imagem seguinte, essa superfície, na verdade,era gigantesca e o cara botava lá Cinema Nacional.Então eu torço muito para que isso, como a gente está falando, o Ainda Estou Aqui como um marco, e agora a campanha lindaque O Agente Secreto está fazendo, não só atraia as pessoas a assistirem esses filmes,como a revisitarem o cinema nacional gigantesco,que é filmes do Kleber, filmes do Wagner,enfim, há tantas e tantas décadas que a gente faz um cinema de alto nível e que talvez não tenha sido tão… não tenha tido tanta atenção quanto merecia.Tomara que agora siga tendo cada vez mais,por nós, brasileiros”, complementa o ator Gabriel Leone.

O diretor revelou que gostaria que seu filme mais recente fosse visto por todos os tipos de público e o motivo para que filmes como O Agente Secreto serem tão relevantes. “É claro que eu quero que o filme seja visto por um público grande no Brasil, mas eu tenho um desejo muito especial de que esse filme seja descoberto por gente muito jovem, estudantes, meninos e meninas, que vão ao cinema ver um filme brasileiro, que contam a história brasileira, e que, talvez, como estudantes, como jovens, possam descobrir alguma coisa nova, algum ponto de vista interessante sobre o nosso país. O Brasil é um país que tem algumas questões com memória, é um país que tende a esquecer de muita coisa, e eu acho que o cinema é um instrumento muito bom, porque um bom filme prende a sua atenção, ele te diverte, ele te mantém entretido, mas ele também pode ter uma carga de informação de verdade sobre o lugar onde a gente mora. Ano passado, saí de uma sessão do Ainda Estou Aqui, no Recife, e, na minha frente, saíram duas meninas muito jovens, uma falando para a outra, não pareciam saber que o regime militar tinha sido tão ruim daquele jeito. Então, acho que são pequenas informações, pequenos sentimentos que acho que um filme, principalmente um filme brasileiro, pode trazer sobre o nosso país”.
Wagner Moura falou sobre como a caracterização ajuda a entrar no clima do período retratado no filme e sobre suas próprias memórias da época. “Qualquer ator, na hora que bota uma roupa, é uma coisa que você começa a se olhar e vai tudo ganhando uma dimensão. E o trabalho de Rita foi muito incrível. E os detalhes também, que fez esse trabalho de arte maravilhoso. Eu nasci em 1976. Apesar da ditadura ter acabado em 1985, a ditadura não acabou, os ecos da ditadura ficaram ali. Então, eu me lembro de ainda menino, de viver uma coisa meio… Eu me lembro de meus pais falando baixinho coisas. Por que eles estão falando baixinho? Essa época está muito na minha memória. Aquela camisa que ele usa, aquela camisa que os caras deixam meio aberta aqui no começo, com o peito meio cabeludo aparecendo assim… Meu pai sempre botava aquelas camisas e metia o Hollywood Continental no bolso esquerdo. Então, eu tenho uma memória emotiva muito grande dessa época. E tem Marighella, porque, quando eu fiz Marighella, esse mundo… Eu explorei demais essa época, visualmente e do ponto de vista político, de conteúdo. Então, acho que, nesse sentido, quando o filme começou, eu estava já bem dentro desse universo estético e de conteúdo dele”.
“Eu tive grandes colaboradores, o Thales Junqueira, a Rita Azevedo e as minhas memórias, porque eu tinha 10 anos em 1977. Então, tem coisas que me marcaram muito por ser criança. Então, eu tinha lembranças muito claras que a pesquisa confirmou, os jornais confirmaram, porque uma coisa é você lembrar, outra coisa é você ver a pesquisa te confirmando. Não, você estava certo, o carro realmente tinha esse detalhe aqui. E acho que é muito interessante o filme ser feito a partir de um sentimento muito pessoal, porque, se você deixar correr solto, o cinema passa a ser feito só por procedimentos técnicos. E é isso que eu não quero. Eu não quero que a fotografia, que a direção de arte, que a reconstituição sejam só uma série de protocolos. Ah, perseguição, então é assim. Não, fazemos do jeito que tem de ser feito para esse filme. E acho que todo mundo estava nessa mesma sintonia fazendo o filme”, completa Kleber Mendonca Filho.

Uma coisa interessante que aconteceu no lançamento de O Agente Secreto foi a inversão na ordem em que os filmes costumam chegar no Brasil, já que normalmente eles são exibidos primeiro no Sudeste, chegando ao Norte e Nordeste posteriormente. “A Mostra Internacional em São Paulo é uma âncora na programação cinematográfica do país. O Festival do Rio também é uma âncora na maneira como a gente olha para a programação de exibições especiais no país. E, como eu queria que o filme fosse exibido pela primeiríssima vez no Brasil, que fosse no Recife, então o Recife terminou sendo a primeira exibição no país, Brasília veio depois por causa do Festival de Brasília, e, naturalmente, o Rio e São Paulo vieram por causa do Festival do Rio e da Mostra Internacional em São Paulo. E aí terminou acontecendo uma coisa interessante que, de fato, foi invertida a ordem. Então o Recife, o Nordeste, mas também Manaus e Belém viram o filme antes. E acho que termina sendo uma ordem interessante também, mas hoje a gente vai ter uma das mais importantes exibições do filme no Brasil, que é na Mostra. A Vitrine Filmes levou, se não me engano, foi em 8 ou 9 de setembro, 110 exibidores brasileiros de todas as regiões do paíspara ver o filme no Recife, na primeira exibição do filme no Recife.Então isso foi uma inversão maravilhosa também da lógica, porque, normalmente, um filme faz uma sessão no Itaim ou no Leblon,mas, dessa vez, a gente levou todo mundo para o Recife para ver um filme pernambucano, acho isso chique”.
Recife é sempre uma personagem nos filmes do diretor, que sempre demonstra seu amor por seu local de nascimento em seus trabalhos. Kleber Mendonca Filho falou um pouco sobre como foi escrever sobre a cidade em seu roteiro. “Eu acho que se você cria um roteiro e um universo que é uma cidade, e essa cidade existe na realidade, que é a cidade onde a gente vive, mas a cidade também tem o lado do cinema, da fantasia, você consegue trazer ideias que talvez sejam inesperadas no filme. Mas acho que O Agente Secreto deixa muito claro que, se é que você está falando da perna cabeluda, fica muito claro que algumas coisas a gente lê, e a gente lê numa revista em quadrinho, num jornal, numa revista, num livro, e isso capta a nossa imaginação, captura a nossa imaginação, e, por que não, a gente pode se ver imaginando coisas ou tendo um tipo de… pegando emprestado memórias de outras pessoas.E acho que o cinema é muito isso, você pode fazer o que você quiser no cinema,mesmo que o filme que você estava vendo seja realista, mas que realismo é esse?Acho que o realismo é o cinema também.Então, a fronteira entre realidade e ficção, para mim, é sempre um tema muito fascinante no cinema”.
Ele também falou sobre o processo de escrever os personagens e a escolha do elenco, ” eu acho que o roteiro é o início de tudo, mas, quando eu escrevo, por exemplo, Dona Sebastiana, eu já pensava em Tânia, Maria, porque nós trabalhamos em Bacurau. Quando eu escrevi o personagem principal, eu estava pensando em Wagner, com quem eu queria fazer esse filme. E vendo toda a trajetória de Wagner como ator, no teatro, no cinema, na televisão, eu tinha uma boa ideia do que ele poderia fazer e tinha também uma ideia do que eu acho que talvez ele não tivesse feito tanto e que eu queria muito que ele fizesse nesse filme. E a coisa dele ser um astro e ser um grande ator e carregar o filme com o rosto dele. Mas, quando o Gabriel Leone entra no filme, o Bob já se transforma numa outra coisa. Quando o Alice entra no filme, eu acho que Fátima já se transforma numa outra coisa. E todos eles e elas são caras de cinema. Eu não sei exatamente como descrever uma cara de cinema, mas acho que basta olhar para essas pessoas e são pessoas que têm caras de cinema. E tudo isso, para mim, é cinema, porque são grandes corpos e grandes expressões que entendem a lógica do nosso país, do Brasil. Eu falei muito com a Alice. Essa cena sua é curta, mas você entende a lógica desse país. Tem muito da lógica do Brasil ali, que não é uma lógica muito boa, inclusive, mas tem uma lógica do nosso país ali que ela entendeu muito bem. Todo mundo naquela mesa entendeu muito bem.Do Gregório, que é o filho do Girote, ao Luciano, que faz o Girote e o Wagner,acho que todo mundo ali não estava de inocente, não.Aquela cena é uma cena muito sobre o nosso país”.
Apesar de ser um filme muito brasileiro e que mostra o jeitinho do nosso povo, O Agente Secreto é uma co-produção do Brasil com outros países. A produtora Emilie Lesclaux revelou como funcionaram algumas dessas parcerias. “Acho que a gente,meio que desde o início do projeto, tinha uma coprodução com a França, um país que a gente já trabalhou algumas vezes.E, à medida que a gente foi entendendo também o tamanho do filme, a gente precisava de um orçamento mais importante, foram se agregando outros coprodutores,mas a coprodução foi muito bem dividida. A gente fez a parte de produção…Tirando a participação da Evgenia Alexandrova, que é a diretora de fotografia,que foi a contribuição da França na equipe de produção,foi uma equipe muito brasileira,no sentido de construir a equipe, o universo do filme.A produção foi muito brasileira, com, claro, as devidas contribuições dos outros coprodutores, e a gente, desde o início,sabia que passando para a fase de pós-produção ia ser tudo mais com os coprodutores na Europa,então cada um tinha um papel muito importante nas diferentes fases da produção do filme.A gente fez o som na França e na Holanda, fez a pós-produção de imagem em Berlim e em Potsdam, na Alemanha. Então, foram os efeitos especiais também entre a Holanda e a França,e foram coisas que a gente vinha conversandodesde o início com eles,mas muito bem divididas”.
Como já mencionado, O Agente Secreto fala muito sobre memórias. Quando questionado sobre quais memórias ele gostaria de deixar com esse trabalho, Wagner Moura disse que “em primeiro lugar, a memória de um bom filme. Um filme bom, mais um produto cultural brasileiro, que tem relevância, que faz as pessoas pensarem.Eu me vejo muito tendo que defender…A gente vive um momento de ataque à lei de cultura e à artista.Estou tão cansado dessa conversa,tenho uma preguiça de falar disso,mas é tão ruim você ver um ataque coordenado. Eu sou fruto das leis de incentivo à cultura.Eu existo porque, na Bahia, nos anos 1990,houve leis que possibilitaram que atores do teatro baiano, eu, Lázaro, Vladimir, pudéssemos existir como artistas. E não só isso. Um país precisa se ver na sua cultura, precisa se olhar.Nenhum país se desenvolve sem se olhar, sem se ver.Quando vamos para fora com esse filme e as pessoas veem o Brasil, é um plus, é um negócio a mais, é um bônus,porque as pessoas lá fora também estão vendo. É uma imagem que estamos levando para fora, mas, sobretudo, somos nós aqui nos vendo. Como Kleber disse, são colocadas em uma prateleira estranha da história do Brasil.Kleber tem essa pegada muito de historiador,de documentar as coisas. Nosso filme começa com cara de foto.Ele fez uma obra extraordinária, que é Retratos Fantasma. Enfim, a memória é importante,porque, se não tivéssemos, por exemplo, a Lei da Anistia,que foi uma lei que apagou a memória do Brasil,não teríamos tido o presente que tivemos, esse que está preso.Então, a memória é uma coisa importante,e não só a cultura, o cinema. O jornalismo, a universidade, a sociedade como um todo, temos a obrigação de preservar a nossa memória para que cresçamos, para que nos entendamos,para que nos vejamos“.

Tânia Maria, artesã do Rio Grande do Norte, começou a atuar após os 70 anos e vem conquistando o coração dos que já viram O Agente Secreto. A intérprete de Dona Sebastiana falou um pouquinho sobe como foi trabalhar com nomes tão relevantes do cinema nacional. “Foi muito bom. Foi muito bom trabalhar com o Wagner. E Kleber, como diretor, é incomparável. É um ótimo diretor. E com o Wagner, ele é humano, ele é igual, ele ensina muito, ele é um professor”.
Wagner Moura se derreteu com os elogios da colega, “as primeiras cenas que eu fiz eram eu e a dona Tânia.A primeira cena que eu filmei era a dona Tânia mostrando o apartamento para mim. A gente já tinha ensaiado e tudo, já estava vendo. Essa mulher é muito maravilhosa. Mas, quando começaram as cenas, você vê que, na cena, estou só assim, olhando para ela e pensando que mulher incrível é essa.Impressionado, abestalhado, apaixonado por ela. Eu sou louco por ela.Essa mulher é uma loucura”.
E quando questionada sobre se tonar famosa na terceira idade, dona Tânia mandou a real, “a idade é o que a pessoa quer.Se você quer ser velha, fica velha.Eu não sou velha. Porque, se eu sou velha, não sei decorar mais nada, não sei mais fazer nada. Eu costuro, eu decoro as coisas. Então, eu trabalho, não sou velha“.
Os atores mais jovens do elenco nasceram após o fim da ditadura e foram questionados sobre o que aprenderam sobre o período para seus papéis em O Agente Secreto, além do que já tinham lido na época da escola. “Eu fiz uma série chamada Os Dias Eram Assim. E o meu personagem estava, de alguma forma, do lado oposto do Bob, no caso de O Agente Secreto. Eu fazia um artista, um cantor, um compositor da época que, como tantos dos nossos ídolos, foi preso, torturado, exilado, enfim. E pega trauma com a música, com a sua própria arte, por ter sido obrigado a tocar para os militares, enfim. E depois vive uma depressão enorme. E foi uma série longa, onde eu tive um mergulho bem intenso nesse período. Foi um período que eu lembro desde antes de ser ator. Eu lembro na escola ainda, estudando História. Era o período que mais me fascinava, a nível de entender melhor o que tinha acontecido. Porque, se de alguma forma eu estava vendo e lendo, estudando sobre coisas de uma década que eu não vivi, mas foram décadas que meus pais viveram e que eu escutava algumas referências, não me parecia tão longe, sabe? Porque, no fundo, não era e não é. Vide o que a gente viveu recentemente. A gente volta para a história de memória. Mas eu acho que… O Brasil até teve um período de filmes retratando o período, mas eu confesso que acho que essa leva recente que a gente teve, e falar do Marighella, do Wagner, do Ainda Estou Aqui e do Agente Secreto, pontos de vistas diferentes sobre essa mesma temática, a nível de pesquisa… Uma das coisas mais interessantes que eu escutei do Kleber desde o início foi sobre como não é dita a palavra ditadura no nosso filme. Então, é um filme, acima de tudo, sobre a atmosfera daquela época, sobre o que era viver, pessoas comuns que viveram naquela época. Então, acho um momento muito importante, como o Wagner falou, uma resposta, uma reação, de alguma forma, muito fundamental a tudo que a gente viveu. E acho que é isso. Meu personagem no filme representa um pouco desse lado podre, desse lado opressor, agressivo, agressor, de algo pesado, mas foi um processo muito divertido, muito leve”, revelou Gabriel Leone.
Já Alice Carvalho revelou que foi criada pelos avós e que “meu avô é um professor universitário e viveu muito esse tempo. Eu cresci ouvindo falar do que era a ditadura em casa. Não esqueço nunca dele me levando para a escola com um CD pirata de O Sambista, de Chico Buarque. E eu perguntando para ele por que o cabra chamava ladrão. Por que chama ladrão e não chama polícia? Eu lembro do meu avô. Eu sempre tive esses papos dentro de casa. Mas, quando fui fazer O Agente Secreto, eu troquei muito uma ideia com ele sobre… Ele já estava na universidade naquela época. Ele e minha avó já eram militantes progressistas e tal. Minha avó costureira, cabeleireira, e meu avô professor. E ele me falou muito, para eu prestar atenção nessa… que a cena certamente deveria estar falando sobre isso, que era a relação de promiscuidade do poder econômico com os que estavam no poder naquela época, no intuito de desfarcelar ou enriquecer através do uso das instituições públicas, que é algo que ele conhece muito. Eu ouvia muito ele falando sobre isso, mas sabe quando você precisa ouvir de novo para escutar? E aí aquela cena lá em questão, onde a gente está… Eles assistiram essa semana lá em Natal, meus avós assistiram essa semana lá em Natal. Aí eu liguei para a minha avó depois da sessão. E aí, o que você achou que ela fez? Ela disse assim, menina, eu e teu pai todinho. Fiz pronto, então deu certo. Acho que foi mais por aí, nesse lugar, de como é que era dentro da academia, como é que isso aparecia, como é que essa linha tenda ia aparecer dentro da academia”.
A estreia nacional de O Agente Secreto acontece no dia 6 de novembro, com patrocínio master da Petrobras, que em 2025 comemora 30 anos de apoio ao cinema brasileiro. A distribuição é a Vitrine Filmes.