Nada tira os méritos da primeira Invocação do Mal (2013). Muitos fãs o consideram pioneiro de uma nova forma de narrar o terror. James Wan já havia se provado com o surpreendente e violento Jogos Mortais (2001) e, ao lado de Patrick Wilson e Vera Farmiga, criou talvez o material mais referenciado quando o assunto são histórias sobrenaturais. Com orçamento de apenas US$20 milhões e lucro de US$320 milhões, o título virou mina de ouro para o estúdio. As sequências eram inevitáveis. O problema da franquia, porém, não é ter mais um ou dois filmes, mas insistir na fórmula, como se o nome bastasse para sustentar um “grande filme”.
Onze anos após a estreia do primeiro longa, chegamos ao quarto capítulo da saga de Ed e Lorraine Warren (Wilson e Farmiga). Com uma abertura tensa, o filme nos leva a 1986, quando o casal está aposentado da vida de demonólogos. Depois de manifestações horríveis começarem na casa da família Smurl, na Pensilvânia, a filha dos Warren, Judy (Mia Tomlinson) — agora adulta — parece ter ligação com os acontecimentos. É o suficiente para o casal sair da aposentadoria em uma última missão.
Baseado em fatos reais, o caso Smurl ficou conhecido justamente por ser aquele que Ed e Lorraine não conseguiram resolver. Combinando isso ao fato de o longa encerrar a franquia, era natural esperar o capítulo mais perturbador. Só que não é bem assim.
A falsa promessa do marketing não chega a ser o maior problema. Assim como os anteriores, Invocação do Mal 4: O Último Ritual tropeça no ritmo irregular e em uma montagem pouco convincente. A estrutura repete a fórmula: primeira metade arrastada, manifestações sutis, sustos ocasionais e, depois, um clímax previsível. O diferencial aqui é a tentativa de dar aos Warren uma história própria, ocupando grande parte da trama. Wilson e Farmiga funcionam, a química é inegável, mas Michael Chaves erra ao acreditar que esse era o coração do filme. Em longos diálogos sobre “nunca vamos voltar” — que sabemos que vão voltar — o tempo se perde, é o caso central demora a engrenar.
O longa inteiro parece disperso: não sabe se foca no sofrimento da família Smurl, no drama de Judy e seu namorado Tony (Ben Hardy), nas preocupações maternais de Lorraine ou nos motivos da aposentadoria de Ed. Vários subplots correm paralelamente, mas sem convergir. Em alguns momentos, chegamos a ver Tony jogando tênis de mesa com Ed — cenas que dão a sensação de estarmos diante de dois filmes distintos, sem uma narrativa coesa.
O terror ainda está presente e alguns “jumpscares” funcionam, mas fica a dúvida: sentimos medo ou apenas levamos sustos? Comparando com A Hora do Mal — outro terror de 2025 que, mesmo com clichês, trouxe tensão genuína e deixou o coração acelerado —, aqui tudo parece reciclado de Invocação do Mal 2 (2016). O resultado é previsível, sem o frescor que tantas outras produções recentes vêm buscando.
Para os fãs de Ed e Lorraine, pode até ser um encerramento emocionalmente satisfatório, afinal é inegável a importância que os filmes tiveram. Mas, mesmo sem ser a maior decepção do ano, Invocação do Mal 4: O Último Ritual prova que, sem reinvenção, é melhor deixar o passado descansar do que ser assombrado por ele.
Invocação do Mal 4: O Último Ritual já está em cartaz nos cinemas.
RUIM
Mesmo sem ser a maior decepção do ano, Invocação do Mal 4: O Último Ritual prova que, sem reinvenção, é melhor deixar o passado descansar do que ser assombrado por ele.