Deadpool & Wolverine | Crítica

O resgate da Marvel na era da nostalgia

Deadpool & Wolverine chega em um momento crítico para a Marvel Studios. Desde o ápice alcançado com Vingadores: Ultimato, o Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) tem enfrentado dificuldades para manter o mesmo nível de interesse e qualidade que caracterizou suas fases iniciais. Nesta conjuntura, a chegada do Mercenário Tagarela, com sua missão de resgatar o prestígio do estúdio, representa um apelo direto à nostalgia dos fãs. O filme, portanto, carrega uma expectativa enorme de revitalização e, ao mesmo tempo, a pressão de corresponder aos padrões elevados que o público associou à marca.

Deadpool & Wolverine | Crítica

O longa é, antes de tudo, uma ode ao estúdio Fox e ao universo dos X-Men dos anos 2000, liderada por Ryan Reynolds. Com sua assinatura característica de humor irreverente e metalinguagem, Deadpool & Wolverine explora a transição do personagem para a Disney com um arsenal de piadas e quebras da quarta parede. Ryan Reynolds, não apenas como protagonista, mas também como produtor, divide o centro das atenções com Hugh Jackman, que retorna ao icônico papel de Wolverine após sua despedida em Logan (2017). Nesta narrativa, Jackman interpreta uma variante de Wolverine, um personagem atormentado pelo passado, que traz consigo as cicatrizes de suas escolhas e ações.

O filme funciona como um elo entre os filmes dos X-Men da 20th Century Fox e o universo mais amplo do MCU. Servindo como a conclusão da Fase Cinco e encerramento da trilogia de Deadpool, a trama coloca Wade Wilson (Ryan Reynolds) em uma situação inédita: confrontar a AVT, introduzida na série Loki. Para proteger a integridade da linha do tempo, Wade se alia a uma variante de Wolverine (Hugh Jackman). Esta colaboração improvável traz à tona uma mistura de humor, ação e nostalgia, funcionando como um catalisador para explorar temas de lealdade, sacrifício e redenção.

A dinâmica entre Deadpool e Wolverine é o cerne do filme. Reynolds e Jackman demonstram uma química inegável, reminiscente das grandes duplas de comédia, onde o cômico (Deadpool) e o sério (Wolverine) se complementam perfeitamente. Deadpool brilha em seu melhor quando contracena com personagens mais sérios, como visto anteriormente com Cable (Josh Brolin) em 2018. Com Wolverine, esse contraste é intensificado, gerando momentos de humor e ação excepcionais. Essa combinação proporciona cenas de ação que equilibram a comédia e o drama, oferecendo tanto entretenimento quanto profundidade emocional.

Apesar do foco na ação e na comédia, o filme não negligencia o desenvolvimento emocional dos personagens. Wade enfrenta um momento de crise após o término com Vanessa (Morena Baccarin), lutando para encontrar seu lugar em um mundo onde não se encaixa nem nos X-Men nem nos Vingadores. Por outro lado, Wolverine carrega um peso emocional significativo. Ele vive consumido pela culpa, buscando alívio no álcool. Hugh Jackman entrega uma performance comovente, explorando as camadas de um personagem multifacetado que luta contra seus demônios internos.

Emma Corrin se destaca como Cassandra Nova, uma das antagonistas do filme. Apesar do tempo de tela limitado, Corrin infunde sua personagem com uma presença forte e memorável, contribuindo para o conflito central de maneira eficaz e impactante. Sua atuação acrescenta uma dimensão adicional ao filme, estabelecendo Cassandra Nova como uma vilã digna de nota no panteão dos antagonistas do MCU.

Como uma celebração do legado da Fox, Deadpool & Wolverine presta homenagens tocantes com participações especiais que surpreendem e emocionam, corrigindo alguns equívocos passados. As variantes de Wolverine representam um momento de puro fan service, com uma delas atendendo a antigos desejos dos fãs. Essas escolhas não são meramente superficiais, mas refletem uma apreciação genuína pelo impacto cultural que esses personagens tiveram ao longo dos anos.

Além das piadas sobre personagens esquecidos pela Fox, o filme faz uma crítica incisiva à indústria cinematográfica, que frequentemente descarta projetos e talentos sem consideração. Deadpool & Wolverine, através de seu humor ácido, realiza uma crítica audaciosa à própria indústria, destacando as injustiças e desafios enfrentados por atores e cineastas. O clímax do filme evoca uma sensação semelhante à despedida emocional de Toy Story 4, quando nos despedimos de personagens que moldaram nossa infância. Aqui, nos despedimos de figuras que definiram uma era nos anos 2000 e que poderiam ter brilhado ainda mais se tivessem tido a chance.

Sob a direção enérgica de Shawn Levy, o filme é uma montanha-russa de emoções e ação. Levy traz vitalidade à narrativa com seus movimentos de câmera dinâmicos e escolhas musicais que complementam a estética do filme. A sequência de créditos iniciais é um destaque, encapsulando o espírito irreverente e autocrítico de Deadpool. A habilidade de Deadpool de zombar do MCU, da Fox e de suas próprias falhas criativas proporciona um frescor que poucos filmes conseguem capturar.

Deadpool & Wolverine funciona mais como uma conclusão de um ciclo do que como um novo começo para o MCU. Ryan Reynolds percorreu uma longa jornada até encontrar seu lugar entre os grandes do cinema de super-heróis. De Blade Trinity a X-Men: Origens – Wolverine  e Lanterna Verde, até finalmente se consagrar como Deadpool, Reynolds se consolidou como um dos atores mais influentes em adaptações de quadrinhos. Esta primeira incursão na Disney aponta um caminho promissor para a reorganização do universo Marvel, oferecendo esperança de que o MCU possa recuperar seu fôlego e continuar a surpreender e encantar o público global.

4

ÓTIMO

O longa é, antes de tudo, uma ode ao estúdio Fox e ao universo dos X-Men dos anos 2000, liderada por Ryan Reynolds. Com sua assinatura característica de humor irreverente e metalinguagem, Deadpool & Wolverine explora a transição do personagem para a Disney com um arsenal de piadas e quebras da quarta parede.