Todo Dia Todo Dia

Crítica | Todo Dia entrega uma adaptação satisfatória

David Levithan está entre os autores mais renomados e lidos pelo público infantojuvenil nos últimos tempos. Autor do livro Will & Will, ao lado de John Green, ele ficou conhecido principalmente por seu trabalho em Todo Dia. Trazendo uma história original e divertida, Levithan conseguiu agradar não apenas ao público jovem, mas todo e qualquer um que lhe desse uma chance. A trama em questão é daquelas que uma vez começada a leitura, torna-se impossível largá-la.

Quando foi anunciado que Todo Dia ganharia uma adaptação para o cinema, primeiramente fiquei empolgada. Depois de um tempo, confesso ter ficado apreensiva com o que viria pela frente. Quantas vezes perdemos o encanto por um livro ao vê-lo mal interpretado numa tela? Felizmente, o trabalho de David Levithan permanecerá intacto para mim. Entretanto, a produção criada está longe de alcançar o encanto que tive ao ler sua história em uma página. Ao final dos quase 100 minutos de filme, temos a sensação de estar vendo mais um romance adolescente norte-americano. Os relacionamentos estabelecidos entre a protagonista e A são rasos e superficiais, diferente daquilo que vemos no livro. Só podemos agradecer pelo fato de que o material final não foi ruim, mas sim satisfatório.

Todo Dia
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O Filme

Baseado no livro homônimo, Todo Dia nos traz uma história fictícia com um leve requinte de realidade. Rhiannon é uma jovem adolescente, e cumpre todos os requisitos de sua faixa etária. Ela está apaixonada por um dos atletas populares de sua escola, e acredita que ele é o grande amor da sua vida. Embora saiba que ele é uma pessoa fria e não amorosa, ela não estranha quando um Justin romântico aparece numa manhã. Pelo contrário, Rhiannon acredita que ele finalmente mudou. Quando ele a convida para passar um dia especial, ela realmente acredita que ele é seu namorado. O que a menina não imagina porém, é que Justin na verdade é outra pessoa.

Do outro lado da história temos ‘A’ . Ele/Ela é responsável pelo grande destaque da trama de Levithan, uma vez que é o que a torna única. ‘A’ acorda todos os dias em um corpo diferente, sem variar muito a idade e o local de seu corpo anterior. Quando Rhiannon acorda naquela manhã, jamais imaginaria que o corpo de Justin estava sendo habitado por outra pessoa. Mas não pense nisso como algo mórbido ou típico de filmes de terror, possessão e exorcismo. Levithan conseguiu transformar tal característica em algo romântico e natural. Talvez até mesmo um pouco natural demais.

O lado mais bonito de Todo Dia está no quão verdadeiro é o sentimento que Rhiannon sente por A, seja lá o que ele/ela seja. Ela se apaixona pela alma que habita cada corpo, independente da cor da pele, sexo, etnia…Não seria isso o certo a se fazer em nossa sociedade? Por que julgamos ou deixamos de gostar de uma pessoa por uma característica física? Caso você tenha se feito essas perguntas ao final do filme, então o objetivo de Levithan foi cumprido.

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O Que Achamos de Todo Dia?

O maior problema do filme está na ausência de variação do ritmo. Do início ao fim parece que estamos seguindo uma linha horizontal, sem variações ou grande momentos de tirar o fôlego. Sustentar um roteiro morno começa a se tornar complicado no meio da produção, onde segui assistindo apenas por já saber o final. Não ficamos ansiosos e/ou instigados com o que irá acontecer. Tal fato não deve ser interpretado como um ponto negativo, mas não sei bem se pode ser classificado como positivo.

Mesmo que seja baseado na história original, da qual não foge tanto, Todo Dia não dá ao leitor a chance de imaginar. Está tudo ali, explícito na tela e contado rapidamente pelos personagens. Além disso, a naturalidade com a qual Rhiannon lida com o fato de ‘A’ existir chega a ser engraçada. Ao mesmo tempo em que o relacionamento é bonito e puro, se torna superficial. É difícil acreditar nos sentimentos que ambos dizem estar sentindo.

A relação que a menina tem com a família também fica presa na falta de aprofundamento dos temas. Assim como aconteceu durante todo o filme, o assunto é apenas jogado na tela, salvo momentos em que história parece se lembrar que existiram. Visto que seria praticamente ignorado pelo roteiro, tal relacionamento podia não ter aparecido.

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O Elenco

Com um roteiro fraco, fica difícil exigir um grande trabalho do elenco. Entretanto, é atuação de seus protagonistas que salvam o filme. Angourie Rice é graciosa e juvenil em seus trejeitos, criando a Rhiannon que imaginei ao ler o livro. A menina tem a dose certa de inocência e perspicácia que sua personagem exige, e se encaixa muito bem no papel. Embora contracene com inúmeros atores, ela transparece ao público cada pedaço de sentimento.

‘A’ é interpretado(a) por diversos atores e atrizes, cada qual com seus breves minutos de fama. O grande destaque fica por conta de Owen Teague. A química entre ele e Rice é incrível, e mal posso esperar para vê-los contracenando juntos novamente. Mesmo que já soubesse o final da trama, me peguei torcendo para que seu personagem ficasse com Rhiannon até o fim. Justice Smith entrega um bom Justin, sem grandes destaques e/ou defeitos. É uma boa oportunidade que temos de ver seu lado bad boy, após conhecer o nerd de Jurassic World: Reino Ameaçado.

  • Bom
3

Resumo

Quantas vezes perdemos o encanto por um livro ao vê-lo mal interpretado numa tela? Felizmente, o sentimento criado ao lermos Todo Dia, de David Levithan, permanecerá intacto para mim. A produção criada entretanto, está longe de alcançar o encanto que temos ao ler sua história em uma página.

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