Crítica | Invocação do Mal 2

James Wan provou-se para a crítica e para o público; ele é um diretor que consegue trabalhar o terror, fugindo da maioria dos clichês e sempre preocupado em contar uma história. Além disso, provou também saber trabalhar com outros gêneros, trazendo um novo episódio – e quiçá o mais importante – para a franquia Velozes e Furiosos. Agora, ele retorna para a sua saga sobrenatural, seguindo a trilha deixada pelo primeiro filme lançado em 2013.

Invocação do Mal 2 é baseado em fatos verídicos que ocorreram no ano de 1977 na cidade de Enfield, Inglaterra. O caso foi vivenciado por uma família composta por uma mãe, Peggy Hodgson, e seus quatro filhos, sendo duas meninas e dois meninos: Margaret de 12 anos, uma irmã mais nova, Janet, de 11, Johnny de 10 anos e Billy com 7 anos. Segundo relatos da própria família, assim como de policiais e especialistas que foram averiguar os fenômenos que ocorriam na casa, objetos se moviam sozinhos (alguns chegando a levitar), ruídos aconteciam assiduamente, poças de água apareciam sem explicação, assim como o surgimento de incêndios esporádicos que também desapareciam sem deixar marcas. Os acontecimentos da residência de Peggy chamaram atenção da imprensa e tornaram-se um fenômeno na época e um mistério até os dias de hoje.

No primeiro Invocação do Mal, acompanhamos Edward Warren (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga) a uma investigação em um local isolado e claustrofóbico. Na sequência, o terror desenvolve-se em uma casa germinada com presença de díspares residências adjacentes. A diferença de cenário é indubitavelmente clara, mas a forma que o terror é trabalhado permanece a mesma. James Wan apresenta a casa assombrada com um belo – e até longo – plano de sequência, mantendo a sua assinatura de saber como apresentar um cenário para o público em poucos minutos. Com isso estabelecido no início, fica extremamente fácil se identificar e entrar dentro daquela história, pois assim como Peggy (Frances O’Connor) e seus quatro filhos, também fazíamos parte daquele lar.

Edward Warren tenta entrar em contato com qualquer tipo de anomalia que vem atormentando a família de Peggy. A intermediária dessa comunicação é Janet (Madison Wolfe), a filha que seria o alvo preferido da entidade paranormal. Havia uma condição para que o diálogo pudesse iniciar: todos naquele âmbito teriam que estar de costas para Janet. A câmera foca no rosto de Ed, colocando-o em primeiro plano e deixa, em segundo plano, a garota Janet completamente desfocada. O plano em desfoque toma diversas formas ao longo da conversa, deixando oculta a presença maligna que divaga pela residência, trabalhando não somente o tipo de terror jumpscare, mas também o psicológico. Por essa sequência, assim como outras (temos até uma em primeira pessoa, remetendo a jogos de vídeo-game), que a fotografia dirigida por Don Burgess merece destaque. A parte técnica de Invocação do Mal 2 é louvável, a partir da direção de James Wan, da trilha sonora setentista, da excelente fotografia, dos cenários idênticos e até das ótimas atuações do elenco.

O enredo tem dois arcos muito específicos: um girando em torno do casal Warren e outro com a família de Peggy. Essa forma de mover a trama também foi usada de maneira sutil no primeiro filme, mas nesse torna-se essencial para que ela siga adiante, ou seja, um arco não pode se solucionar sem que o outro se solucione. Para alguns, pode tornar repetitivo e, consequentemente, ser um problema. No entanto, quando analisamos os bastidores e o caso real, torna-se totalmente plausível o porquê desse método. Invocação do Mal esbarra somente em três pontos, podendo incomodar uns e outros nãos. O primeiro deles é expectativa de ser um filme melhor que seu antecessor, porque não é. O segundo é tornar a forma personificada do terror, o espírito em si, em algo caricato. Após construir toda tensão psicológica e, quando finalmente podemos ver a figura paranormal responsável por todos os eventos da trama, vemos um personagem completamente destoante do tom do filme, eliminando toda sensação de medo. Isso, para algumas pessoas, pode estragar a experiência por completo. O terceiro e último ponto é: o casal Warren nunca investigou O Poltergeist de Enfield. Tudo que foi documentado e estudado sobre esse caso veio das mãos de Maurice Grosse e Guy Lyon Playfair. Para não dizer que eles não estão nessa história, os Warren foram até Enfield, mas não permaneceram um dia sequer e foram embora. Logo, o caso é real, mas nunca foi investigado pelos protagonistas do filme e só foi escolhido para ser produzido porque o estúdio não tem direito sobre outros casos investigados por Ed e Lorraine Warren.

Invocação do Mal 2 é um bom filme de terror que sabe como trabalhar, reproduzir e respeitar (em boa parte) histórias baseadas em fatos reais. James Wan mantém sua sequência com méritos, preservando seus pontos altos, experimentando novos métodos e o principal: contando uma boa história.

  • Bom
3

Resumo

Invocação do Mal 2 é um bom filme de terror que sabe como trabalhar, reproduzir e respeitar (em boa parte) histórias baseadas em fatos reais. James Wan mantém sua sequência com méritos, preservando seus pontos altos, experimentando novos métodos e o principal: contando uma boa história.