O que está acontecendo com a Netflix? Enquanto a qualidade de suas séries só aumenta, os filmes parecem estar seguindo o caminho contrário. Nos últimos meses, o serviço de streaming lançou em seu cardápio uma série de produções originais. Mesmo que haja uma alternância na temática entre elas, todas nos oferecem aquela sensação de dejà vu. Além disso, todas parecem ter medo de se aprofundar mais em suas próprias histórias, resultando em roteiros rasos e fracos. Uma vez que abordam temáticas importantes, como em Alex Strangelove e Dude, produzir algo apenas por produzir pode ser um verdadeiro tiro no pé. E foi exatamente isso que Ibiza: Tudo Pelo DJ fez.
Lançado no dia 25 de maio, o longa tinha tudo para destoar do romance adolescente dos últimos dois filmes citados. Com protagonistas adultas e repleto de drogas lícitas e ilícitas, o longa aparenta oferecer uma trama mais adulta nos primeiros minutos, mas não demora para entregar a que realmente veio. Por fim, o que temos é mais um filme sobre um grupo de amigas, que embarcam numa viagem a um lugar paradisíaco. Lá, esquecem das responsabilidades, usam o máximo de entorpecentes que conseguem e obviamente, se apaixonam. Não é preciso muito para encontrar premissas parecidas em Hollywood. Mas vamos ao filme.
Ibiza: Tudo pelo DJ
A história gira em torno de Harper, uma publicitária prestes a viajar para Barcelona pelo seu trabalho. Ela tem a clássica chefe chata, rude e mal educada, que praticamente lhe entrega um ultimato. O objetivo da viagem é recrutar novos clientes para sua empresa, e Harper sabe que terá de conseguir fechar o negócio ou perderá o emprego. Ela sabe também, que quando suas duas melhores amigas Nikki e Leah, decidem acompanhá-la, a jornada irá tomar outro rumo. Solteiras e desimpedidas em uma das cidades mais badaladas da Espanha, não demora para acharem as festas. Ao passo que deveria estar se preparando para reuniões, Harper resume sua vida em drogas, bebidas e tentativas de sexo.
O que nenhuma das amigas imaginou, porém, é que iriam se apaixonar. Enquanto Nikki e Leah se envolvem com dois homens aleatórios que conhecem na noite, Harper honra o papel de protagonista e decide gostar de um dos DJs mais famosos de Barcelona. E é claro que de todas as centenas de pessoas na festa, Leo West a vê em meio a multidão. E é claro também, que ele logo se encanta por ela. A partir desse momento, Ibiza: Tudo pelo DJ sofre uma mudança em sua trama. A viagem no maior estilo “girls night out” se torna um romance e uma busca incansável de Harper por seu querido DJ. Por consequência, não é muito difícil imaginar o que acontece no final.
O Que Achamos?
A única parte positiva de Ibiza: Tudo Pelo DJ, é a fuga do tradicionalismo masculino em filmes do gênero. Estamos acostumados a ver personagens homens embarcarem em jornadas do tipo (vide Se Beber Não Case!). Quando o assunto se relaciona a um grupo de amigas, geralmente as festas são em casa, recheadas de sorvete e filmes românticos. Pois fique aí a novidade: mulheres também ficam bêbadas, usam drogas, falam palavrão, fazem piadas idiotas e fazem sexo sob total influência dos dois primeiros argumentos. É realmente confortante ver essa fuga do estereótipo, mas é uma pena que seja em uma produção tão fraca.
O roteiro de Lauryn Kahn é quase inexistente. Ao final da trama, temos a sensação de que ela apenas reuniu informações e jogou tudo em frente as câmeras. Nada faz sentido. As cenas são aleatórias e dependem da interação entre as personagens para se desenvolver. O filme tenta ser engraçado, mas as piadas ruins são tão infantis que nem é possível esboçar um sorriso. Além disso, diversos arcos de cena são completamente desnecessários, e fica evidente que só estão ali para ocupar tempo. A partir do momento em que o enredo toma um novo rumo, o filme parece que vai melhorar. Mas só parece mesmo. O relacionamento entre Harper e Leo é tão vazio quanto o roteiro, e não sustenta a pressão de levar o longa nas costas.
Como se não bastasse tudo isso, o final é ainda pior. O filme simplesmente acaba, sem direcionar a história para um possível futuro. Sem dúvida o desfecho perfeito para uma produção completamente sem sentido.
O Elenco
O fracasso de Ibiza: Tudo Pelo DJ não pode ser atribuído ao elenco. Gillian Jacobs praticamente repete seu papel na série Love, da Netflix. Engraçada e despreocupada com a vida, ela entrega aquilo que sua personagem exige. A medida que Harper pede seu lado aventureira e se torna uma mulher dependente do encontro com Leo, é visível a queda na qualidade de atuação da atriz. Mais uma vez, Jacobs apenas interpretou o que sua personagem precisava.
Vanessa Bayer e Phoebe Robinson dão vida as melhores amigas que todos queríamos ter. O problema está no destaque de Bayer, que acarreta em um total esquecimento da personagem de Robinson. As duas poderiam ter sido melhor aproveitadas, ao invés de apenas uma ter importância para a trama. Por fim, Richard Madden está ali apenas por seu rostinho bonito. O ator, que ficou conhecido por interpretar Robb Stark em Game of Thrones, aparece em pouquíssimos momentos. Quando pensamos que Leo foi o responsável pela mudança de rumo da série, certamente Madden deveria ter tido mais destaque. Sabemos do talento do ator, mas o mesmo foi ignorado pela produção do filme.
Resumo
O que temos em Ibiza: Tudo Pelo DJ é mais um filme sobre um grupo de amigas, que embarcam numa viagem a um lugar paradisíaco. O roteiro de Lauryn Kahn é quase inexistente. Ao final da trama, temos a sensação de que ela apenas reuniu informações e jogou tudo em frente as câmeras. Nada faz sentido.