Crítica | Dolittle

Reprodução/Universal Pictures

Filmes com animais parece a receita de bolo para o sucesso nas telonas. Mas não é bem assim. Em pleno 2020, as produções de Hollywood acreditam que piadas infantis e bichinhos carismáticos serão capazes de agradar o público. Dolittle já era um fracasso anunciado. O longa dirigido por Stephen Gaghan não agradou os executivos nas primeiras sessões, sendo retocado e substituído por Jonathan Liebesman. O resultado é um filme todo remendado que não possui brilho e identidade.

Inspirado na série de livros de Hugh Lofting lançada a partir de 1920, o longa foge das versões contemporâneas estreladas por Eddie Murphy em 1998 e 2001. Servindo de reboot do material original, o filme coloca o novo protagonista, Robert Downey Jr., em plena Era Vitoriana. Na trama, Dolittle está arrasado e isolado da sociedade após a morte de sua esposa, com quem dividia com ele a paixão por animais e exploração pelo mundo. Desde a sua morte, há sete anos, ele se afasta completamente do mundo exterior, sendo sua única companhia os animais que vivem em seu santuário. No entanto, quando Dolittle descobre que a rainha (Jessie Buckley) precisa desesperadamente de ajuda para encontrar uma cura para sua doença misteriosa, ele concorda em zarpar em busca de uma ilha mítica que possa conter as respostas.

O início do filme agrada com uma linda animação em 2D exaltando a paixão e respeito de Dolittle pelos animais. Ficou claro que o longa nadaria mais pelo melodramático, já que a interpretação de Downey Jr. tenta dar mais seriedade, um homem em depressão ao lado dos animais. A viagem seria uma ótima oportunidade de se reencontrar. Mas a edição bagunçada já mostra no próximo take o personagem com os trejeitos clássicos do ator, que tenta sair da sombra de Sherlock Holmes e Tony Stark, mas acaba sendo uma mistura dos dois.

O longa sofre com a falta de ritmo com poucas transições de cenas bem-sucedidas. Para piorar a situação, mesmo com a rainha à beira da morte, o filme não passa que há um senso de urgência, já que o Doutor precisa se apressar para encontrar a cura. Mas entre uma tomada e outra, vemos o personagem e seus animais se aventurando e curtindo a viagem pelo desconhecido.

Os animais digitalizados fazem seu papel, muito por conta do elenco caprichado de dublagem. Tom Holland tem uma participação pequena como o cão Jip, Emma Thompson está divertida como a arara organizada Polly, assim como Rami Malek dando voz ao gorila medroso Chee-Chee. Há outras vozes conhecidas como Ralph Fiennes (o tigre Barry), Octavia Spencer (a pata Dab-Dab), John Cena (o urso polar Yoshi) e Marion Cotillard (a raposa Tutu).

Downey Jr. divide o protagonismo do elenco humano com Harry Collett, um jovem garoto que sonha em ser um médico de animais como seu mentor. Sua presença funciona para ser o canal do público mais jovem para o filme. Seu olhar maravilhado e inocente diante do mundo fantástico busca tocar o coração dos aventureiros.

Michael Sheen está divertido como o vilão Müdfly, fugindo ao máximo da performance caricata. O mesmo vale para Antonio Banderas, ator indicado ao Oscar por Dor e Glória, que mostra um personagem amargurado e que possui uma ligação próxima com Dolittle. Confesso que a cena entre Banderas e Downey Jr. foi um dos poucos momentos em que realmente me comovi.

Ao final, Dolittle saiu da proposta de ser um longa para o público de todas as idades, onde havia muito potencial, atirando apenas para as crianças menos exigentes que buscam apenas se divertir com os animais falando. Um filme para ser esquecido após dar o primeiro passo fora do cinema.

2

Regular

Dolittle saiu da proposta de ser um longa para o público de todas as idades, onde havia muito potencial, atirando apenas para as crianças menos exigentes que buscam apenas se divertir com os animais falando. Um filme para ser esquecido após dar o primeiro passo fora do cinema.