Crítica | Dor e Glória

Reprodução/Studio Canal

Ovacionado em Cannes, Dor e Glória ganhou o prêmio de Melhor Ator para Antonio Banderas, que interpreta um diretor de cinema em declínio após um período produtivo. Solitário, ele passa a relembrar sua vida e carreira desde sua infância na cidade de Valência, nos anos 60.

A figura de Salvador Mallo representa o diretor do longa, Pedro Almodóvar. A obra foi classificada pelo diretor espanhol como seu trabalho mais pessoal. É como se Almodóvar estivesse confessando para o seu público suas alegrias e tristezas. O título faz um interessante paralelo com a carreira de grandes artistas. A “Dor e Glória” convivem juntos.

Salvador é atormentado por doenças físicas, depressão e ansiedade. Após a restauração de um de seus filmes clássicos e um convite para um bate papo com o público, Salvador procura seu ator principal, Alberto (Asier Etxeandia), para fazer as pazes, depois de terem brigado 30 anos atrás. Quando Alberto entra na vida de Salvador, ele também compartilha seu vício de heroína. Este demônio recém-descoberto traz um momento de reflexão para o diretor, que nos delírios da droga viaja para o passado buscando uma razão para seguir em frente.

As sequências em flashback seguem a forma não linear, já que a mente de Salvador Mallo está confusa devido ao vício. Mas é fácil notar que o longa está fundamentado no amor. O amor de Mallo pela mãe, pelas artes, por um romance na juventude. É quando Mallo se dá conta que sente uma enorme falta das coisas mais simples que tinha no passado e, talvez, não soube aproveita-las. Mesmo com as recompensas da fama e ter realizado seu sonho de trabalhar com cinema, só lhe interessa no momento a banalidade, o cotidiano, as pequenas coisas que, hoje, escaparam ou simplesmente foram vencidas pelo tempo.

Banderas proporciona uma das performances mais inesquecíveis de sua carreira e da filmografia de Almodóvar. O ator consegue passar não apenas os males físicos, mas os emocionais. A cena do reencontro com um ex-amante é moldada por diálogos simples. Quando a câmera foca em Banderas, os olhos lacrimejantes e um sorriso sem jeito vale mais do que mil palavras.

Outra excelente atuação é de um outro rosto conhecido nos filmes de Pedro Almodóvar. Nas cenas de flashback, a mãe de Salvador é interpretada pela sempre cativante Penelope Cruz, que se torna uma figura essencial para a jornada do diretor. A persona de Cruz é afetuosa e protetora. Uma mãe que se sacrifica para dar uma melhor condição ao filho.

Na parte técnica, Pedro Almodóvar jamais decepciona oferecendo um belíssimo design artístico. Os cenários apresentam cores vibrantes, que fazem um contraponto à angústia física de Salvador.

Dor e Glória é um dos melhores trabalhos de Pedro Almodóvar. Pela figura de Salvador Mallo, o cineasta espanhol abre seu coração como nunca antes em seus filmes. Ao final, é uma bela celebração do cinema e do amor. Uma reflexão de que às vezes precisamos dar alguns passos para trás para seguir em frente.

 

5

Excelente

Dor e Glória é um dos melhores trabalhos de Pedro Almodóvar. Pela figura de Salvador Mallo, o cineasta espanhol abre seu coração como nunca antes em seus filmes. Ao final, é uma bela celebração do cinema e do amor. Uma reflexão de que às vezes precisamos dar alguns passos para trás para seguir em frente.