A Própria Carne, primeira produção com selo Jovem Nerd nos cinemas, é uma criação de Deive Pazos, Alexandre Ottoni e Ian SBF – que abandona o humor pelo qual ficou conhecido para mergulhar em um terror denso, sujo e muito brasileiro. O filme, que se passa em 1870, tem a Guerra do Paraguai como pano de fundo. Nele, acompanhamos três desertores do Exército Imperial Brasileiro: Gabriel (Pierre Baitelli), Gustavo (Jorge Guerreiro) e Anselmo (George Sauma). Para não serem pegos e fuzilados, eles assassinam o Coronel (Camillo Borges). Durante a briga com o homem, Gustavo é baleado e isso faz com que eles procurem desesperadamente um local onde possam ser ajudados.
Depois de vagarem pela floresta, encontram uma casa isolada na fronteira, habitada por um fazendeiro (Luiz Carlos Persy) e uma garota (Jade Mascarenhas), além de um estranho visitante (Eber Inacio). De cara os desertores já notam que as coisas não são normais naquela casa. O que parecia ser um refúgio se transforma em um pesadelo quando eles descobrem que o local esconde segredos.
Apesar de demonstrar certo domínio estético em sua execução, ainda é muito imaturo em ritmo e dramaturgia – falta pulso narrativo. A Própria Carne é um filme tecnicamente competente, mas carece de alma, ritmo e propósito. Visualmente, o longa chama atenção com sua fotografia que usa tons terrosos, sombras e luz natural, criando um ambiente claustrofóbico que parece respirar junto com os personagens. A trilha tenta sustentar uma tensão constante, mas acaba exagerando em alguns momentos.
O filme se propõe a a fazer algo diferente para o terror brasileiro e não se apoia apenas nos sustos, mas busca uma atmosfera pesada, simbólica, que dialoga com a história e a estrutura social. Ele também tem um elenco talentoso, mas se afoga em um roteiro que confunde densidade com excesso. O que vemos é um produto frio, irregular e emocionalmente distante. Tudo se arrasta, sem ritmo, sem revelações que justifiquem o mistério inicial. O roteiro tenta abordar racismo, fanatismo religioso e trauma histórico, mas o faz de maneira didática e rasa. Os personagens não evoluem, servem apenas como veículos para ideias. O resultado é um filme que parece sempre prestes a engrenar, mas nunca chega a lugar algum.
A Própria Carne chega aos cinemas em 30 de outubro, com distribuição do Jovem Nerd e da Cinemark, que também exibe o filme com exclusividade em todo o país.
Regular
A Própria Carne é visualmente interessante e foi feito com uma base de boas ideias, mas o produto final é narrativamente falho e incapaz de sustentar o terror ou a crítica social que promete.