Tremembé, nova série do Prime Video, retrata as trajetórias de encarcerados na penitenciária titular, conhecida como “prisão dos famosos”. Marina Ruy Barbosa, Bianca Comparato, Felipe Simas, Kelner Macêdo, Lucas Oradovschi, Carol Garcia, Anselmo Vasconcelos, Letícia Rodrigues e grande elenco estrelam a série ficcional, baseada nos livros de true crime Elize Matsunaga: A mulher que esquartejou o marido e Suzane: assassina e manipuladora, escritos pelo jornalista Ullisses Campbell, que também assina o roteiro ao lado de Vera Egito, Juliana Rosenthal, Thays Berbe e Maria Isabel Iorio.
No dia 20 de outubro, conversamos com Ullisses Campbell e Vera Egito, que contaram detalhes sobre o roteiro e a produção da série. Também entrevistamos os atores Anselmo Vasconcelos (Roger Abdelmassih), Kelner Macêdo (Cristian Cravinhos), Bianca Comparato (Anna Carolina Jatobá) e Lucas Oradovschi (Alexandre Nardoni). Confira o que rolou nesse bate papo:

Bruna Dolores (Poltrona Nerd): A série se baseia nos seus livros, principalmente nas biografias individuais, mas você teve todo um trabalho com uma equipe de roteiristas também. Teve algum aspecto do livro, alguma coisa que você bateu o pé porque queria que fosse mantida exatamente do jeito que você escreveu?
Ullisses Campbell: Eu sempre comento que é uma coisa inusitada, quase que impossível, o escritor participar da adaptação. Geralmente é uma combinação que não dá certo. Na sala de roteiro, eu fui com uma outra missão. Primeiro que eu me desapeguei da obra completamente, até porque eu já tinha consciência que são produtos muito diferentes. Era a minha primeira incursão numa sala de roteiro, no audiovisual, então eu não podia me dar o luxo de bater o pé com nada. Pelo contrário, eu levei essas obras e a pesquisa pra sala de roteiro e eu tava ali aprendendo. Apesar de eu ter feito muitos cursos de roteiro, era meu primeiro trabalho. Então, não, não tive nenhuma cena que eu fazia questão. Como é uma série baseada em fatos reais e o meu papel ali era também trazer… quanto mais realidade melhor. Tudo que tá na série eu tô satisfeito.
Bruna Dolores (Poltrona Nerd): Vera, além de já ter todo o material de pesquisa do Ullisses, vocês ainda demoraram cerca de dois anos pra finalizar os roteiros da série, certo? Durante esse período, você ou algum dos outros roteiristas tiveram contato com essas pessoas que deram origem aos protagonistas da série? Vocês se encontraram? Eles deram algum depoimento ou contaram alguma história que vai acabar sendo exclusiva da série?
Vera Egito: Não. A gente não entrou em contato com nenhuma dessas pessoas. Elas não estão envolvidas com a produção da série em nenhum aspecto, em nenhuma instância. Os roteiros foram inspirados nas pesquisas do Ullisses e também no que é de domínio público, né? Outras reportagens, fontes, o que o próprio Ministério Público deixa disponível dos processos. E aí ficcionalizamos, ou seja, transformamos numa narrativa dramática esses eventos reais, eventos públicos, depoimentos dessas pessoas ou para a imprensa ou para o próprio Ullisses, mas não tivemos, nem procuramos e nem era do interesse de ninguém da produção da série entrar em contato com essas pessoas. Elas não têm nenhuma participação na produção.
Agora, eu acho que sim, acho que o público vai ter acesso a coisas que talvez não saiba ou nunca tenha visto. Então, das relações dessas pessoas lá dentro, do que acontece na prisão, das intrigas, de fatos… Eu acho que quem já assistiu a série no processo de finalização se impressiona com algumas coisas e fala, “nossa, mas isso vocês inventaram?” E a gente sempre fala, “não, isso aconteceu mesmo”, porque são coisas muito surpreendentes mesmo. Parece ficção, mas não é. O que parece ser mais absurdo, tenha certeza de que é real, de que aconteceu mesmo.
Bruna Dolores (Poltrona Nerd): O primeiro episódio apresenta alguns nomes muito conhecidos e casos que foram bastante polêmicos, mas a Suzane von Richthofen é um destaque dele. A estrutura da série consiste em apresentar com mais detalhes um dos personagens por episódio, é isso? Um crime e um personagem?
Vera Egito: Cada episódio tem a reconstituição de um crime. Começa com o crime da Suzane e dos Cravinhos, depois a gente tem o crime da Elize Matsunaga, o crime do casal Nardoni e Jatobá, o crime de Sandrão, que foi uma pessoa que talvez não tenha sido tão divulgado o crime que ela cometeu, mas foi uma pessoa que se relacionou amorosamente, tanto com Suzane quanto com Elize, então ganha um destaque na série. E tem o crime de Sandrão e o crime do Roger Abdelmassih, ele foi condenado por mais de 30 crimes, então o episódio também mostra um pouco do modus operandi dele, de como funcionavam os crimes dele. Esses crimes são todos reconstituídos a partir dos relatórios do Ministério Público, então são os crimes pelos quais oficialmente essas pessoas foram condenadas. Todos eles são réus confessos também, exceto o casal Nardoni.

Bruna Dolores (Poltrona Nerd): Falando nos criminosos, Kelner e Anselmo, como foi o processo de preparação para viver personagens que fizeram coisas horríveis e que são tão conhecidos do público? Como isso mexeu com o psicológico de vocês?
Kelner Macêdo: Bom, o processo de preparação foi bem intenso. Primeiro, a gente já, como a Vera falou, a gente tem uma estrutura dramática que norteia esses acontecimentos e a trajetória desses personagens ali dentro. Segundo, que o que a gente quer tratar aqui é o pós-crime. Essas pessoas condenadas pagando a suas penas. Eu acho que tem muitos pactos que se criam lá dentro que vão dando para a gente informações de quem são esses personagens em relação. E isso guiava muito a nossa construção. Tivemos as preparadoras maravilhosas, Maria Laura e Carol Fabri, num dia a dia bem forte, bem profundo, bem complexo, porque são personagens baseados em pessoas reais. Então, tem uma tentativa de aproximação dessas pessoas, de visual e de tudo, mas também tem um espaço de criação artística que é nosso, que segue uma estrutura dramática, que tem um roteiro, que tem como base os livros do Ullisses, que dão muitas informações para a gente de quem são essas pessoas. Então, acho que foram processos bem intensos, acho que cada um teve o seu particular, o Anselmo pode falar um pouco do dele, mas para mim foi bem intenso.
Anselmo Vasconcelos: Para mim foi muito confortável, porque encontrei desde o início uma organização de produção muito bem estruturada, muito carinhosa com a nossa aventura pessoal de mergulhar nesse equilíbrio de ambivalências, do contraditório que a série procura se desenhar. A gente tem a vida dentro da prisão que é muito além daquilo que o espectador aprendeu a julgar pelas informações na mídia. Então eu tive, como já foi descrito, todo o apoio para fazer um trabalho seguro, consciente e tocar essa partitura com precisão, com consciência. E, ao mesmo tempo, me foi dada uma liberdade de poder assinar esse personagem sem procurar nenhum tipo de imitação. A minha semelhança com o personagem surgiu a partir do próprio teste que fiz para fazer o personagem. Isso facilitou muito pra gente visualizar o Roger e poder desenhá-lo dentro do que o roteiro pretendia fazer.
Acho que um dos momentos mais culminantes da série é quando o Roger sai da cadeira de rodas e encontra a mulher dele do lado de fora do presídio. Ele levanta, revelando que tudo aquilo que ele fez era uma grande mentira. Isso é muito interessante, muito revelador para o espectador, de como ele precisa ampliar a consciência quando julga alguma coisa pelos fatos que são chegados a ele, pelos fatos que são divulgados. Há muito mais do que isso. É um oceano.
Então, foi muito confortável. Além da preparação, a gente teve coordenações. Por exemplo, quando eu representei os crimes do Roger, eu tinha uma coordenadora que me ajudava a abordar as minhas colegas ali, as atrizes que estavam fazendo as vítimas, sem que eu precisasse ultrapassar nenhum limite da confortabilidade que o ator precisa para fazer uma coisa terrível como essa. É muito comum para nós, atores, inverter o sentido das coisas. Então, por exemplo, se você tem que fazer uma cena de violência, você tem que estar relaxado. Senão, essa violência não é violência, ela é verdade. E a gente está representando. Representar é muito bonito. É muito próprio dos seres. Todos os seres representam. Não é só o homem. A natureza é uma representação. Quando você vê o colorido das flores, elas estão representando o desejo da perpetuação da sua espécie.

Bruna Dolores (Poltrona Nerd): Bianca e Lucas, como foi se olhar no espelho e ver uma pessoa tão conhecida do público por ter feito uma coisa tão horrível? Porque vocês ficaram muito parecidos com a Anna e o Alexandre.
Lucas Oradovschi: Foi duro, foi desafiador. Ao mesmo tempo, muito interessante quanto trabalho de ator. Poder fazer esse mergulho nesse universo de muita dureza, de muito horror, de muitas sombras e precisar carregar essas energias que a gente precisou acessar durante muitos meses é um dos desafios do trabalho. Mas acho que, enquanto desafio, é uma excelente oportunidade para a gente amadurecer, se expandir, se autoconhecer, tanto quanto no ofício de ator, quanto como ser humano. Poder ter essa possibilidade de olhar, de encarar essas sombras da mente humana, das possibilidades que o humano pode ser. Isso é muito interessante, mas muito difícil, muito duro. Ninguém nunca tinha falado, comentado nada de semelhança. Então, de repente, quando eu entendi… Chegou o teste, fiz o teste, entrei em preparação, caracterização e realmente foi muito impactante para mim estar tão parecido. Não só no aspecto da visualidade, da composição, da caracterização, mas na composição do trabalho do ator mais fino, da energia, do olhar, das pequenas nuances que eu precisei carregar e viver com profundidade durante esses meses todos que o trabalho aconteceu.
Bianca Comparato: Fico feliz quando você menciona isso, Bruna, porque eu já fiz alguns personagens reais e tem essa responsabilidade de você se parecer com aquela pessoa minimamente para o público se relacionar, lembrar dela. Só que nesse caso tem um contexto ainda maior. A gente está falando de uma pessoa que foi condenada por um crime desses e a gente também está falando de uma pessoa viva, que tem família, filhos e está aí. Então, também, como que eu fico parecida, mas sem ficar imitando? E também tem poucas imagens dela falando recentemente, então eu tive que pegar umas imagens do passado, tentar compor como que ela estaria agora, exatamente como que ela estava em Tremembé, enfim. Então tem um lado meu que fica muito feliz, mas por outro lado eu fico um pouco assustada porque são pessoas envolvidas numa coisa muito densa e complexa e trágica, então tem essa carga também pesada nesse personagem.
Bruna Dolores (Poltrona Nerd): Eu imagino que tem sido um trabalho que mexeu bastante com vocês, que deve ter levado um tempo para desapegar completamente do personagem. Qual foi a cena mais desafiadora de gravar?
Bianca Comparato: Para mim foi a cena do crime mesmo. No primeiro episódio parece só um flashzinho do crime ali, mas que já chamou a atenção de várias pessoas. As pessoas já comentaram, as pessoas que já assistiram no Festival do Rio e outras cabines que já tiveram, que é a cena dele segurando a mão de uma criança ali na rede. E para mim essa cena foi muito difícil, por vários motivos, não só os mais óbvios da carga de tristeza desse acontecimento, mas também como atriz normalmente eu crio uma linha de raciocínio para as coisas acontecerem. O personagem está com sede, bebe água, para de ter sede. Sei lá, eu penso logicamente nas coisas. Esse não fazia sentido para mim, nada fazia sentido. Tipo, eu não conseguia juntar o sentido daquilo. Porque eu, Bianca, não penso daquela forma. Vamos supor que houve um acidente com uma criança. Você joga da janela ou você liga para a ambulância? Você liga para a ambulância! Sei lá, eu não sei, eu não consigo pensar nessa sucessão de eventos.
Então foi muito difícil, eu não conseguia, eu tinha muita resistência. E também é isso, como que traz vida para uma situação que a gente sempre vê reproduções muito ascéticas dessa situação. Quase como um manual de aeronave em caso de emergência, é tudo muito lento. As reproduções são um policial falando, veio aqui, pingou aqui, ali andou. É tudo muito frio. Ou imagens feitas por máquina, é tudo meio lento. Então como que traz isso para o real? Eu fiquei pensando, o real não pode ter sido uma coisa calma e tranquila, obviamente. Foi muito difícil, depois também a carga emocional de tudo. A gente obviamente teve muito cuidado com a vítima, de não aparece em momento nenhum. Isso para mim foi uma coisa que me deu calma, de falar, não, a gente não está expondo uma criança a nada.
Como artista, como cidadã, como mulher, enfim. Então tiveram vários cuidados que a Vera e a equipe toda tiveram com a gente. Mas sem dúvida foi a cena que eu saí assim, acabada. Eu e o Lucas, no final até se abraçou, a gente teve que aguardar em uma escada de emergência, que era para a gente não aparecer em um plano, a gente ficou em um canto, e a gente se abraçou, chorou muito juntos. Foi muito pesado para nós, eu acho.
Lucas Oradovschi: É, pois é. Só de reviver essa sequência narrada pela Bianca, eu já fico até mexido, porque realmente foi muito duro. O trabalho foi todo muito denso e de situações muito duras, mas essa sequência foi uma coisa que realmente, acho que eu nunca tinha vivido nessa intensidade, nessa densidade de uma carga emocional. Mas, além dessa carga emocional, eu sentir o meu corpo, eu ter que colocar o meu corpo, a minha sensibilidade para reproduzir os gestos que foram realizados nessa sequência de ações que culminou com esse crime, eu ter que pegar, cortar a tela, fazer o gesto, isso me dilacerou por dentro.
Eu fiquei num lugar que eu acho que nunca tinha ficado. Entre um take e outro, eu chorava, porque eu estava trabalhando num lugar mais frio, menos emotivo, evidentemente, então eu tinha que secar para ir para a ação. E aí, quando dava o corte, eu ficava sempre na beira de um desabamento, sabe? Acho que isso mexeu muito comigo, é uma coisa que continua reverberando muito, mas, enfim, minha terapia está aí, está em dia, meus cuidados terapêuticos, espirituais, tudo está encaminhadinho.
Então, o trabalho é técnico, a gente entra e sai. A gente tem que ter essa habilidade de entrar e sair. Mas, enfim, a gente não sai ileso. Então, são desafios muito profundos que a gente viveu nesse trabalho. Agradeço muito poder fazer isso em companhia da Bianca, que foi sempre muito parceira, muito generosa, deu muita força.
Bianca Comparato: Eu também, hein? O Lucas foi um parceiro impecável. Obrigada, amigo.
Bruna Dolores (Poltrona Nerd): Ainda bem que vocês puderam contar com pessoas que deram apoio, porque realmente parece ter sido muito difícil. Esse gênero do true crime, ele tem muitos fãs, mas ele também deixa parte do público muito apreensiva de que essas pessoas vão ser romantizadas. De que algumas pessoas vão virar fã dos criminosos e não do produto em si. Isso foi uma questão que vocês consideraram na hora de construir os personagens? E como tem sido a reação do público com o fato de vocês interpretarem essas pessoas?
Bianca Comparato: Bom, esse cuidado do romantizar, do glamourizar essas histórias, esses personagens, estava desde o princípio, desde os primeiros ensaios, do texto, da conversa com a direção, com todo mundo. Então, isso foi uma preocupação geral, vamos dizer assim, e também individual de cada um de nós. Por exemplo, o nosso roteiro não tem a história pregressa desses dois. Se a Anna Carolina Jatobá teve uma infância sofrida ou não, isso não veio ao caso. Isso é um perigo, eu acho, às vezes, de romantizar ou de dar uma desculpa. Tipo o Dahmer, né? Aquela série, ela cria uma história que você fica quase que com dó daquele tipo de homem que é um problema. Nesse roteiro, a gente não tem isso.
Outro ponto. O tom da série, tirando os momentos dos crimes, o tom de Tremembé e a gente dentro de Tremembé, tem um humor ácido. Tem um pouco disso. Então, essa coisa do humor, eu acho que ajuda a distanciar, para você também não ficar entrando e ficar com dó, com pena, desses personagens. Porque você consegue ali falar “ah, isso aqui é uma crítica, isso aqui é uma série, a gente está criticando essas pessoas”.
Eu acho que foi muito acertado da direção essa escolha. Ah, e outro ponto também. A gente faz uma coisa que a maior parte das séries, principalmente americanas, que eu tenho visto de true crime, a gente não mostra as vítimas. Então, não tem aquela coisa de você ver uma pessoa com os miolos estourados. Mostra só os assassinos. Então, isso também dá um outro tom para a coisa. Então, esse cuidado que a gente teve, muito.
Mas eu sei que é uma coisa que não vai agradar a todo mundo. Então, tem gente que ainda vai, mesmo assim, achar que, de alguma forma, teve uma humanização demasiada. Mas humanizar, a gente tem que humanizar porque são seres humanos que cometeram atos perigosos, que têm desvios, às vezes, de personalidade e tal, mas que são humanos. Então, isso a gente não teve como evitar. Eu acho que o público que eu tenho sentido nas minhas redes e no pouco que eu tenho visto de comentários, matérias, críticas, que já têm saído desde essa divulgação esse mês, eu sinto um público bem polarizado. Pessoas que amam e defendem ferrenhamente a história e o direito de contar essa história dessa forma, de se entreter nessa história e outras pessoas que criticam também de uma forma muito forte. Não pode comparar isso a, por exemplo, o Esquadrão Suicida. Gente, pelo amor de Deus, se lembrem dos crimes e tal.
Então, eu sinto que é uma série que veio para polarizar um pouco… Ela tem esses dois polos. Eu sinto que o público já tem essas duas reações ao projeto: de amar ou odiar. A trilha sonora da série é super popular também. E eu acho que, de novo, é uma forma que a gente buscou, que a direção buscou, de distanciar, de você lembrar que aquilo ali é uma série sobre uma história. Então, não entra aí nessa… E não em glamorizar ou deixar as pessoas do lado desses assassinos e criminosos.
Mas é isso. Eu vejo essa série com polêmica nas reações. Não acho que é uma série que vem agradar todo mundo. É uma série que tem muita personalidade, que mexe com coisas muito cruciais para a nossa sociedade. Esses crimes todos mexem com pilares da família. A gente fala sobre filhos, que é o caso aqui do nosso crime. A gente fala sobre pais, que é a Richtoffen. A gente fala sobre cônjuges, que é o caso da Matsunaga. Está mexendo em três tragédias nos três pilares do que é a família. E todos nós somos atravessados por questões familiares, porque todos somos frutos de família, de alguma forma. Seja órfão ou não, você está atravessado pela família. Então, eu acho que essa série inevitavelmente vai mexer muito com o público por se tratar desses crimes e desses temas.
Lucas Oradovschi: A Vera é uma pessoa de muita coerência, de muita sensibilidade. Se você olhar a trajetória artística, as obras da Vera sempre trazem esse pensamento político. Então, acho que nem ela, nem a equipe de roteiro, nem o elenco, ninguém conduziu isso de uma maneira leviana e irresponsável. Muito pelo contrário. O processo foi todo muito cuidadoso nesse sentido. Porque, de fato, não dá para romantizar essas pessoas. Mas também, se a gente só coloca elas como estereótipos de uma monstruosidade que afasta de uma humanidade que também carrega essa monstruosidade, a gente também fica num lugar muito óbvio, superficial. Então, existe uma linha tênue que a gente precisou ficar negociando e lidando o tempo inteiro. Tanto a direção, quanto os roteiristas, quanto o elenco.
Os cinco episódios de Tremembé estarão disponíveis no catálogo do Prime Video em 31 de outubro.