Vitória é um drama livremente inspirado na história de Joana Zeferino da Paz, uma moradora da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, que denunciou, com uma câmera amadora, os crimes que ocorriam no seu bairro. Suas filmagens levaram à prisão de mais de 30 pessoas, entre eles policiais militares.
Joana Zeferino ficou conhecida pelo nome Dona Vitória, uma identidade falsa cedida pelo Programa de Proteção de Testemunhas, seu verdadeiro nome e sua aparência só foram divulgados em 2023, após sua morte, aos 97 anos, e quando as gravações já tinham sido encerradas.
O filme é inspirado no livro Dona Vitória Joana da Paz escrito por Fábio Gusmão, o jornalista que publicou os casos, que conta sobre os bastidores dessa história e as conversas entre o jornalista e a ativista. Após a publicação do livro e a divulgação da verdadeira identidade, a produção do filme recebeu críticas por escalarem Fernanda Montenegro para interpretar uma mulher negra e, de acordo com os realizadores, essa escolha foi feita para manter a verdadeira identidade em segredo.
Vitória surge de uma história impactante e, infelizmente, atual. No entanto, o filme não consegue abordar esses assuntos de forma profunda e que impacte os espectadores, isso acontece, principalmente, porque o filme não consegue se encontrar dentro de si. Entre o melodrama e a comédia que nunca acerta o timing, o filme não sabe como quer tratar essa história e acaba parecendo um episódio de novela.
O roteiro também evita tratar com maior seriedade e informações sobre o tráfico e sobre a corrupção dentro da polícia militar e governo, tratando esses pontos apenas como “vilões” que querem fazer mal aos “mocinhos”.
Além disso, o filme aposta no fato de ter Fernanda Montenegro como sua protagonista e portanto não precisa ter mais nada.
Felizmente, Fernanda Montenegro e seus complementares no elenco, Alan Rocha, Linn da Quebrada e Thawan Lucas que carregam o filme nas costas e conseguem trazer a empatia e a humanidade que esse tipo de história precisa.
Em especial Linn da Quebrada que mesmo com uma participação curta consegue conquistar o público logo em sua primeira cena, é impressionante seu controle de cena e como ela se torna o centro da atenção quando está na tela. Pelo olhar doce e empático que ela mostra para Vitória é possível entender as nuances de sua personagem e a força que ela carrega na sua vida.
Thawan Lucas também é uma força dentro de cena, assim como Linn, ele consegue transmitir as nuances de seu personagem com pouco, apenas um olhar e uma pequena expressão são suficientes para que saibamos o que está acontecendo com ele e o impacto que o local onde ele vive terá em sua vida.
Apesar desse núcleo que tem maior destaque, todos os outros atores não estão no mesmo patamar que eles e isso evidência ainda mais a falta de tom do filme. Os personagens de apoio se mostram tensos e sem preparação para entregar o que se precisa, as falas são decoradas e postas de forma robótica em momentos que a sensibilidade se tornavam necessários.
A direção de Andrucha Waddington é muito conservadora e pouco inspirada, o filme não cresce em nenhum momento e, como mencionado anteriormente, se escora no talento de seu núcleo principal. Em todo momento parece que estamos vendo uma produção que deveria ter sido feita para a tv, ou para o streaming, e que se viu ganhando uma projeção muito maior do que era esperado e não conseguiu dar conta do recado.
No mais, Vitória se destaca por seu elenco de peso e absurdamente talentoso, mas fica apenas nisso, se tornando mais um filme simplório que falha em trazer uma discussão mais profunda em um tema que tem muita relevância no país e que precisava ser tratado com devida importância.
REGULAR
Vitória se destaca por seu elenco de peso e absurdamente talentoso, mas fica apenas nisso, se tornando mais um filme simplório que falha em trazer uma discussão mais profunda em um tema que tem muita relevância no país e que precisava ser tratado com devida importância.