Quase trinta anos separam Um Maluco no Golfe de sua inesperada sequência, e nesse intervalo, o longa de 1996 conquistou um lugar especial na memória afetiva de toda uma geração. Embora não tenha sido um estouro de bilheteria, o filme se tornou um verdadeiro fenômeno cult com o advento do home video e as incontáveis reprises na “Sessão da Tarde”, marcando uma era em que Adam Sandler ainda era uma promessa do humor desajeitado, ingênuo e cativante. Agora, em Um Maluco no Golfe 2, a Netflix – que tem abrigado boa parte das recentes empreitadas do comediante – aposta na força da nostalgia para reconectar fãs antigos com um Happy Gilmore envelhecido, mas não menos escrachado.
A sequência, dirigida por Kyle Newacheck e roteirizada em parceria entre Tim Herlihy e o próprio Sandler, é um exercício de resgate emocional que se beneficia enormemente da memória afetiva do público. Sandler retorna ao papel com a mesma entrega de sempre, trazendo consigo algumas das figuras clássicas de seu “Sandlerverse”, como Ben Stiller e Steve Buscemi. É uma reunião entre amigos que transborda conforto, mas também carrega o risco do apego excessivo ao passado. O roteiro, consciente disso, se equilibra entre a reverência e a reinvenção, jogando com piadas autorreferenciais, como a hilária provocação ao personagem de Haley Joel Osment, que interpreta um rival de Adam Sandler no filme.
Um Maluco no Golfe 2 tem um pouco de drama. A história de Happy lidando com a perda de sua esposa, Virginia (vivida mais uma vez por Julie Bowen), acrescenta camadas inesperadas ao protagonista, que agora é pai de cinco filhos e um homem quebrado emocionalmente. Há aqui um aceno ao amadurecimento – ainda que estilizado à la Sandler – e isso traz um novo tipo de empatia ao personagem. O coração do filme, no entanto, reside na relação com sua filha Vienna (interpretada por Sunny Sandler, filha real do ator), que reacende nele uma fagulha de propósito. A partir daí, o filme mergulha em uma jornada de redenção embalada por tacos de golfe, rivalidades esportivas e coreografias de balé, tudo amarrado com a leveza que se espera de uma comédia Sandleriana.
O novo antagonista, Frank Manatee (Benny Safdie), funciona como uma sátira aos novos tempos: um magnata sedento por modernizar o golfe e transformá-lo num espetáculo de redes sociais e reality shows. Ele encarna uma ameaça não apenas ao legado de Gilmore, mas à própria essência do esporte como metáfora para a tradição e o esforço pessoal. A crítica à era do streaming e da viralização digital é sutil, mas presente, oferecendo um subtexto relevante num filme que, à primeira vista, parece ser só mais uma continuação tardia.
Mas talvez o maior trunfo do longa esteja em seus coadjuvantes. A presença inesperada de Margaret Qualley como uma excêntrica jogadora de golfe e a performance surpreendente de Bad Bunny como Oscar, o novo ajudante de Happy Gilmore, adicionam frescor e irreverência. O rapper porto-riquenho, especialmente, rouba a cena em vários momentos, demonstrando timing cômico e carisma que transcendem o mero cameo. É curioso observar como Sandler, mesmo sendo o centro do projeto, se sente à vontade em dividir o brilho – uma atitude que reflete maturidade artística e segurança criativa.
Visualmente, Um Maluco no Golfe 2 segue o padrão das comédias da Happy Madison: funcional, sem grandes ousadias, mas com uma direção que abraça o exagero e o pastelão. A trilha sonora fazendo a ponte entre gerações, enquanto a edição aposta em cortes secos e ritmo ágil, mantendo o espectador sempre um passo à frente do próximo riso.
No fim das contas, Um Maluco no Golfe 2 é uma celebração daquilo que Adam Sandler representa para o público – a comédia de coração aberto, a família como núcleo emocional, e a ideia de que rir, mesmo das tragédias da vida, ainda é o melhor remédio. Não é um filme perfeito – e nem pretende ser –, mas é honesto, divertido e, acima de tudo, feito com carinho por quem entende o valor de suas próprias raízes. Para os fãs, é um reencontro. Para os novos, uma porta de entrada curiosa para o universo de Sandler. E para todos, uma tacada certeira de bom humor.
BOM
Um Maluco no Golfe 2 é uma celebração daquilo que Adam Sandler representa para o público – a comédia de coração aberto, a família como núcleo emocional, e a ideia de que rir, mesmo das tragédias da vida, ainda é o melhor remédio.