Lançado em meio ao auge da pandemia, The Old Guard (2020) surpreendeu ao se tornar um dos grandes acertos da Netflix em sua estratégia de blockbusters originais. Um filme de ação com estética de graphic novel, um elenco afiado e uma protagonista magnética como Charlize Theron fizeram com que o longa rapidamente conquistasse o público. Não demorou para que uma sequência fosse confirmada, o que gerou expectativa por parte dos fãs. No entanto, o tempo passou, o hype esfriou e o lançamento de The Old Guard 2 chega agora, em julho de 2025, após um longo hiato, refilmagens e uma troca sutil de bastidores — sinalizações claras de que algo no projeto saiu dos trilhos.
Logo nos primeiros minutos de projeção, The Old Guard 2 escancara sua fragilidade. A montagem é abrupta, as cenas de ação — antes um ponto forte do primeiro filme — agora parecem genéricas, mal coreografadas, quase burocráticas. O roteiro se mostra raso, preocupado não com a construção narrativa deste capítulo, mas em plantar sementes para um eventual terceiro filme. A consequência é imediata: a história perde força, os personagens se tornam figuras deslocadas e o espectador tem a sensação de estar vendo uma longa introdução para algo que ainda não aconteceu. É uma abordagem narrativa que mina o próprio filme enquanto obra autônoma.
Charlize Theron segue impecável no papel de Andy, a guerreira imortal atormentada por séculos de batalhas e perdas. Sua presença é magnética, sua entrega é visceral, e seu carisma é suficiente para carregar o longa nas costas. Ao seu lado, a presença de Uma Thurman como a antagonista prometia ser um dos grandes atrativos desta continuação, mas a atriz é subaproveitada em uma vilã que carece de densidade e motivação. Há potencial na construção dessa nova ameaça, mas a direção de Victoria Mahoney não consegue equilibrar a grandiosidade do universo com a intimidade dos conflitos pessoais. Fica tudo no rascunho.
A trama gira novamente em torno da missão do grupo de imortais de proteger a humanidade, mas desta vez com uma ameaça mais difusa, quase simbólica. O retorno de Quynh (Ngô Thanh Vân), uma figura do passado de Andy, surge como um trunfo dramático, trazendo camadas interessantes à protagonista. No entanto, sua aparição parece mais uma estratégia de “setup” para o terceiro filme do que um elemento essencial para a progressão deste segundo capítulo. Quynh está aqui, mas não “acontece”. Sua presença reverbera mais como promessa do que como realização.
A direção de Victoria Mahoney teve um processo conturbado. A primeira versão do longa não agradou aos executivos da Netflix, o que resultou em refilmagens e uma tentativa de corrigir o curso da história. O resultado é um filme com identidade fragmentada, que parece uma colagem de ideias — algumas boas, outras inacabadas. Há momentos em que o espectador sente que está assistindo a pedaços de um filme maior, montados às pressas para cumprir uma obrigação contratual. A coesão narrativa, a evolução dos personagens e o ritmo são comprometidos por essa tentativa desesperada de salvar o inevitável.
Ao final, The Old Guard 2 se revela uma continuação fraca, sem o frescor ou a densidade emocional do original. Funciona quase como um interlúdio, um filme-pontilhado entre dois capítulos de uma trilogia que ainda não se justificou como franquia. Charlize Theron, com seu brilho habitual, é o grande respiro de uma obra que se perde na própria ambição e em um planejamento que coloca o “franchise” acima do cinema. Se houver mesmo um terceiro filme, será preciso mais do que bons nomes no elenco: será preciso resgatar o coração da história — ou essa guarda antiga corre o risco de cair no esquecimento.
REGULAR
The Old Guard 2 se revela uma continuação fraca, sem o frescor ou a densidade emocional do original. Funciona quase como um interlúdio, um filme-pontilhado entre dois capítulos de uma trilogia que ainda não se justificou como franquia.