Originalmente The Batman seria estrelado, escrito e dirigido por Ben Affleck, que quando contratado para estrelar BvS e Liga da Justiça, havia sido prometido pela Warner um filme com sua visão do Homem-Morcego. Por falar em visão, o Cavaleiro das Trevas ao longo dos anos ganhou diversas produções em todas as mídias, fazendo do herói um ícone da cultura pop. Nos cinemas, a partir do filme de 1989 de Tim Burton, passou-se a dar um tom mais sério e sombrio para o herói, com exceção das versões de Joel Schumacher. Fato é que nenhum diretor foi capaz de aproveitar o melhor do personagem nos quadrinhos. Bruce Wayne é um homem amargurado e atormentado pela morte dos pais, que acredita como Batman ser capaz de fazer a diferença. Para isso, decide resolver todos os crimes de Gotham com a ajuda de Jim Gordon.
Matt Reeves é o primeiro diretor que decidiu não se preocupar em deixar sua assinatura em The Batman. O ótimo cineasta entrega uma produção que pega os melhores arcos do vigilante de Gotham e potencializa em uma incrível história sobre investigação envolvendo o Cavaleiro das Trevas. Os leitores de quadrinhos vão notar as referências a Batman Ano Um, Um Longo Dia das Bruxas, Batman Ego, entre tantos outras histórias que exploram o Batman noir e detetive. Reeves também reverencia filmes como Seven, Zodíaco e Todos os Homens do Presidente. São 3h de um filme que se preocupa com a narrativa sobre investigação indo para caminhos surpreendentes. E, pela primeira vez, é um filme com Batman sendo o centro das atenções. Algo que outros atores como Michael Keaton e Val Kilmer já reclamaram. Os vilões de Gotham sempre roubam a cena e o Batman é deixado de lado. Desta vez não. É um filme que constrói de forma efetiva a presença de um vigilante em fase inicial de carreira.
Na trama, nos dois anos em que protegeu as ruas como Batman (Robert Pattinson), provocando medo no coração dos criminosos, Bruce Wayne mergulhou nas sombras de Gotham City. Quando um assassino mira a elite de Gotham com uma série de maquinações sádicas, um rastro de pistas enigmáticas leva Batman, o Maior Detetive do Mundo, a investigar o submundo da cidade, onde encontra personagens como Selina Kyle, a Mulher-Gato (Zoë Kravitz), Oswald Cobblepot, conhecido como Pinguim (Colin Farrell), Carmine Falcone (John Turturro) e Edward Nashton, também conhecido como Charada (Paul Dano). À medida que surgem evidências e as ações do criminoso apontam para uma direção mais clara, Batman precisa forjar novas relações, desmascarar o culpado e trazer justiça a Gotham City, há tanto tempo atormentada pelo abuso de poder e pela corrupção.
Em um filme com 3 horas de duração, além de um bom roteiro, é necessário a força de um grande elenco. E fazia muito tempo que não via um elenco com cada ator bem escalado para o papel. Começando pelo protagonista Robert Pattinson, inicialmente massacrado por desconhecerem sua carreira em ascensão. Como Bruce Wayne ele encarna um jovem que escondeu o luto para dar lugar a vingança. Ele acredita que vestindo o capuz será capaz de limpar todo o crime de Gotham City. Há dois momentos impactantes que fazem ele se tocar sobre seu luto e a forma de lidar com isso. Como Batman, é a melhor versão do herói. Ele atua nas sombras, usa bem seus equipamentos e seu combate visa imobilizar o adversário o mais rápido possível. Para quem jogou os games de Arkham vai notar algumas referências calorosas. Porém, o que faz desse Batman diferente das outras adaptações é seu olhar detetivesco. É um filme com menos ação e pirotecnia para uma história mais densa e séria. É o Batman investigando os crimes do Charada, fazendo jus à fama de maior detetive dos quadrinhos.
Zoë Kravitz entrega uma incrível Mulher-Gato. Há momentos que ela e Pattinson são os protagonistas, com uma história muito bem explorada sobre seu passado. Colin Farrell é uma grata surpresa no papel do vilão Pinguim. Irreconhecível com toda a maquiagem, o ator entrega uma visão nunca vista do antagonista. E por falar em visão nunca antes vista está Paul Dano como Charada. Ele até lembra o Charada dos games Arkham, com todos os enigmas espalhados pela cidade esperando serem desvendados. Contudo, entra a referência de Matt Reeves a filmes como Seven e Zodíaco, fazendo do Charada um temido e assustador serial killer. E Paul Dano entra no hall de grandes atuações de vilões de quadrinhos.
John Turturro tem uma participação enxuta, mas faz de Carmine Falcone um mafioso perigoso e respeitado com poucas palavras. Jeffrey Wright entrega uma ótima performance como Jim Gordon, com sua participação efetiva em toda a narrativa junto a Batman. O personagem mais deslocado foi o Alfred de Andy Serkis. O mordomo tem pouca participação, podendo ser justificado pela pouca interação entre ele e Bruce Wayne. Ainda não existe a famosa parceria entre dois, com Bruce nem o enxergando como alguém da família. Mas, uma cena faz questão de criar o início de um elo familiar entre os dois e essa relação tende a crescer nos próximos filmes.
Na parte técnica, Batman entrega um visual incrível. Começando por Gotham, que aqui ganha mais vida. Ao mesmo tempo que ela está encantadora, a cidade também é aterrorizante pela onda de crimes. Toda a cidade possui uma arquitetura gótica, misturando o novo e antigo. Assim, é o palco perfeito para um thriller sobre crime.
Michael Giacchino se mostra um dos grandes compositores da atualidade. Depois da ótima trilha de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, ele entrega um impecável trabalho sonoro em The Batman. Com as devidas proporções, seu tema para o filme se equipara ao de Danny Elfman na versão de Tim Burton. Será um forte concorrente para as premiações de 2023.
The Batman é uma ruptura de todos os filmes já apresentados do herói. Um filme centra sua atenção no desenvolvimento do personagem e trabalha de forma efetiva a moralidade na relação entre Bruce Wayne e Batman. Depois da trilogia de Christopher Nolan, um filme que finalmente faz jus ao legado do Homem-Morcego.
EXCELENTE
The Batman é uma ruptura de todos os filmes já apresentados do herói. Um filme centra sua atenção no desenvolvimento do personagem e trabalha de forma efetiva a moralidade na relação entre Bruce Wayne e Batman. Depois da trilogia de Christopher Nolan, um filme que finalmente faz jus ao legado do Homem-Morcego.