Crítica | Estou Pensando em Acabar com Tudo Crítica | Estou Pensando em Acabar com Tudo

Estou Pensando em Acabar com Tudo, de Charlie Kaufman | Crítica |

Reprodução/Netflix
Estou Pensando em Acabar com Tudo
Reprodução/Netflix

Estou Pensando em Acabar com Tudo, novo filme da Netflix, está dando muito o que falar. Afinal, diversos espectadores estão reclamando sobre o filme ser confuso, enfadonho. Porém, o filme escrito e dirigido por Charlie Kaufman, dos elogiados Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, Quero Ser John Malkovich, Adaptação e Anomalisa, não é complicado quando você mata a charada de sua narrativa.

 [CRÍTICA CONTÉM SPOILERS]

Estou Pensando em Acabar com Tudo nada mais é do que uma alegoria sobre relacionamento nocivo. Seguindo uma narrativa não-linear, Charlie Kaufman entra na mente da jovem Lucy, vivida de forma brilhante por Jessie Buckley, que no primeiro diálogo demonstra insatisfação com o relacionamento de pouco tempo com Jake, vivido por Jesse Plemons. Visando agradar o namorado, ela aceitar viajar para a fazenda da família dele e conhecer seus pais. Contudo, ela precisa voltar no dia seguinte para a cidade e entregar um trabalho.

Inspirado no livro de Iain Reid, publicado em 2016, o longa mostra as consequências quando Lucy ficou presa na rotina do relacionamento tóxico com Jake. Por muitas vezes, ela pensa em dar o ponto final. Mas sempre é interrompida. O tempo se torna seu pior inimigo, já que a personagem questiona sobre o tempo que está na fazenda ou sobre o tempo que convive com o namorado. Ou seja, ela está enclausurada em um círculo vicioso, sem saída.

Por isso, Charlie Kaufman optou por usar uma narrativa não-linear. Embora possa parecer confuso no início, ele quis demonstrar que Lucy está presa nesse relacionamento nada saudável, enquanto observa sua vida passar. O grande exemplo são os pais de Jake, que jamais são chamados pelo nome. Na verdade, eles são Lucy e Jake no futuro. Eles são a representação dos dois juntos, velhos e infelizes. Por não ter determinação, Lucy acaba não se reconhecendo mais e, por isso, vê os personagens de Toni Collette e David Thewlis como os pais de Jake, sendo que na verdade não são.

“Estou Pensando em Acabar com Tudo” é citado por diversas vezes por Lucy. Contudo, ela jamais consegue tomar a iniciativa. Quando Uma Mulher sobre Influência, longa de 1976, é citado algumas vezes por Lucy, temos um dos motivos por ela não terminar seu relacionamento com Jake. O medo. Lucy está mais preocupada em agradar os outros, em deixar seus parceiros felizes, mas esquece ela vem em primeiro lugar.

O final do filme apresenta uma ótima sequência com a Lucy jovem ao lado da figura do seu primeiro namorado. Tudo é leve, bonito, artístico, como um balé performado por ela e o companheiro. O filme deixa uma pista de que houve uma tragédia e que Jake está envolvido.

Durante o filme, Lucy recebe uma ligação misteriosa. “Tá na hora da resposta”, ela escuta. Ninguém sabe de quem é a voz, somente ela. Pois é seu medo materializado e dando um clique para que ela se liberte dessas correntes.

Estou Pensando em Acabar com Tudo é um filme complexo, mas que vale por demais quando você compreende o objetivo de Charlie Kaufman. Existem relaciomanentos que nos engrandecem, que nos impulsionam. Mas, existem aqueles que podem nos deixar confusos e parados quando o tempo está passando. Lucy era uma jovem que transmitia brilho, mas estagnou e não viu que estava perdendo um mundo caloroso lá fora. A neve incessante na fazenda dos pais de Jake simboliza sua vida. Fria, parada e melancólica.

Um filme que tem muito a dizer sob o olhar de Lucy.

4

Ótimo

Estou Pensando em Acabar com Tudo é um filme complexo, mas que vale por demais quando você compreende o objetivo de Charlie Kaufman.