Spencer | Crítica Spencer | Crítica

Spencer | Crítica

Divulgação/Neon

Spencer é o mais novo drama de Pablo Larraín sobre uma mulher em cativeiro por jaulas sociais e como ela busca se livrar dessa jaula e fugir. Impossível não se lembrar do ótimo Jackie e da performance de Natalie Portman como a primeira-dama dos Estados Unidos no longa de 2016. Spencer tem muito de Jackie, ou seja, mulheres que se sentem presas e sufocadas, apesar das mansões e do luxo que usufruem. São duas figuras que por fora representam símbolos de beleza e glamour, mas no fundo escondem uma dor profunda e silenciosa.

Spencer | Crítica
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Spencer é descrito logo no início do filme como “uma fábula de uma verdadeira tragédia”, utilizando de metáforas o último feriado de Natal da princesa Diana (Kristen Stewart) antes do divórcio com o Príncipe Charles (Jack Farthing). Diana não está feliz. Seu emocional está por um fio com a descoberta da traição por parte do marido. Mas, seu sofrimento não vale de nada para a realeza britânica, que exige da princesa de Gales um comportamento conservador e maquiado de boas aparências para a mídia que está sempre circulando pelos arredores do local.

Pablo Larraín faz de Spencer um longa minucioso. É necessário prestar atenção nos sinais que o filme entrega logo no início quando acompanhamos Diana perdida para encontrar o caminho da mansão real. Quando se dá conta, ela observa que se perdeu na área onde cresceu na infância. Um símbolo de como ela está perdendo suas raízes por decidir se dedicar à uma vida que foge de sua realidade.

A interpretação impressionante de Kristen Stewart mostra uma Diana em frangalhos psicologicamente. Isso fica evidente com as visões que a princesa tem de Ana Bolena (Amy Manson), a ex-esposa de Henrique VIII que foi decapitada para que seu marido pudesse se casar com sua amante. Mais uma indicação de Larraín sobre a vida que Diana está seguindo. Pressionada e observada de dentro e fora da propriedade britânica, Diana precisa encontrar uma forma de sair e se salvar.

Será necessário ter um conhecimento mínimo para captar todo o drama vivido por Diana. Na realeza britânica, pouco se sabia da vida privada da família real. O casamento de Charles e Diana se tornaram um grande evento público, e a vida da princesa de Gales se tornou um livro aberto para o mundo. Isso fez com que sua vida pública e privada se tornassem uma só. Tudo isso dá uma dimensão no drama de Diana. Desde a troca de olhares com a Rainha Elizabeth e sua insatisfação pela vida controlada dos filhos William (Jack Nielen) e Harry (Freddie Spry). Tudo para seguir uma tradição e costume pra lá de ultrapassado.

O roteiro de Steven Knight (Peaky Blinders, Locke) faz uma crítica pontual sobre o comportamento da realeza britânica, que prefere preservar e manter sua imagem polida para a mídia, escondendo para debaixo do tapete a sujeira que para eles não é tão importante. A aparência e bons costumes falam mais alto.

A atuação de Kristen Stewart é fantástica. Sua interpretação de Diana não é movida por longos diálogos, com a atriz americana caprichando no sotaque britânico. Basta alguns minutos para perceber que estamos diante de uma grande performance. Kristen chama atenção pelo olhar, sua feição e os trejeitos que lembram a jovem princesa. Mas sua atuação não deve ser visto como algo replicado. A atriz está dando a sua visão para uma mulher em um intenso conflito emocional. Diante da desconfiança sobre sua escalação em Spencer, Kristen Stewart entrega uma das grandes atuações da temporada. Não à toa que no ano de 2021 a atriz foi indicada e conquistou diversos prêmios por sua atuação.

Por fim, Spencer é um conto de fadas trágico inspirado na vida de uma mulher que jamais foi capaz de aproveitar seus dias fora da jaula social da realeza britânica. O final do longa deixa um nó garganta, pois o olhar esperançoso de Diana não passou de um sonho.

5

EXCELENTE

Spencer é um conto de fadas trágico inspirado na vida de uma mulher que jamais foi capaz de aproveitar seus dias fora da jaula social da realeza britânica. O final do longa deixa um nó garganta, pois o olhar esperançoso de Diana não passou de um sonho.