Os Radley | Crítica Os Radley | Crítica

Os Radley | Crítica

Longa tenta se equilibrar entre humor e drama, mas o faz de maneira hesitante
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Os Radley, dirigido por Euros Lyn, surge como mais uma tentativa de revitalizar a mitologia dos vampiros sob uma nova perspectiva, desta vez explorando a abstinência ao sangue como metáfora para repressões e conflitos internos. Baseado no livro homônimo de Matt Haig, o longa tenta se equilibrar entre humor e drama, mas o faz de maneira hesitante, sem jamais mergulhar de fato nas possibilidades narrativas e emocionais que o material de origem proporciona. É uma obra que, embora conte com um elenco talentoso e premissas intrigantes, tropeça em sua execução e acaba se revelando menos impactante do que poderia ser.

Os Radley | Crítica

A história segue os Radley, uma família inglesa aparentemente comum, composta por Helen (Kelly Macdonald) e Peter (Damian Lewis), além de seus dois filhos adolescentes. Vivem em uma casa tranquila, têm empregos respeitáveis e participam de eventos sociais como qualquer outra família da vizinhança. No entanto, por trás da fachada perfeita, há um segredo cuidadosamente guardado: eles são vampiros. Mais do que isso, são vampiros “abstêmios”, que decidiram reprimir sua natureza e viver sem consumir sangue humano. Seus filhos desconhecem sua verdadeira identidade até que um evento traumático os força a encarar a verdade – e a reavaliar tudo o que sabem sobre si mesmos e sobre o mundo ao seu redor.

A ideia de vampiros que renunciam ao sangue já foi explorada anteriormente em diversas obras, desde os clássicos românticos de Anne Rice até os vampiros brilhantes da Saga Crepúsculo, mas Os Radley busca um ângulo entre a sátira e o drama. A trama se desenrola entre pequenas doses de humor ácido e um drama familiar que poderia ter sido mais impactante, caso o roteiro de Talitha Stevenson fosse mais afiado. Os diálogos, que deveriam reforçar a tensão entre a repressão dos desejos naturais e a tentativa de viver uma vida normal, soam insossos, e a construção dos personagens parece superficial, sem camadas que os tornem verdadeiramente memoráveis.

Ainda assim, o elenco carrega boa parte do peso da narrativa. Kelly Macdonald entrega uma performance sensível, capaz de transmitir as dúvidas e os dilemas internos de Helen com um olhar ou um gesto contido. Damian Lewis, por sua vez, se permite mais exageros, especialmente ao interpretar uma versão gêmea de seu personagem, e seu carisma inegável ajuda a dar alguma vitalidade ao filme. Os jovens Harry Baxendale e Bo Bragason também são promissores, mas seus personagens carecem de desenvolvimento, tornando suas reações aos acontecimentos um tanto previsíveis.

A direção de Euros Lyn, conhecido pelo sucesso de Heartstopper, tenta equilibrar a leveza de uma comédia britânica com elementos de fantasia, mas o resultado é uma obra que parece hesitante demais para abraçar qualquer um dos gêneros completamente. Visualmente, o filme não arrisca muito, mantendo uma fotografia limpa e convencional, sem grande criatividade na construção da atmosfera vampírica. E é justamente essa falta de ousadia que torna Os Radley uma experiência morna: a premissa sugere um universo rico e intrigante, mas a execução se limita ao básico, sem explorar de fato o impacto psicológico ou social da escolha dos protagonistas em negar sua própria natureza.

No final das contas, Os Radley não é um desastre, mas também não é uma obra memorável. Seu humor funciona apenas de maneira esporádica, o drama carece de profundidade e a mitologia vampírica é apenas um pano de fundo que nunca se torna realmente fascinante. O elenco talentoso impede que o filme seja completamente esquecível, mas a sensação que fica ao término da projeção é de que havia potencial para algo muito maior e mais instigante. Uma adaptação que, como seus protagonistas, parece hesitante demais para abraçar sua própria essência.

Com distribuição da Paris Filmes, o longa está em cartaz nos cinemas.

2.5

REGULAR

Os Radley não é um desastre, mas também não é uma obra memorável. Seu humor funciona apenas de maneira esporádica, o drama carece de profundidade e a mitologia vampírica é apenas um pano de fundo que nunca se torna realmente fascinante.