O Grande Golpe do Leste O Grande Golpe do Leste

O Grande Golpe do Leste | Crítica

Divulgação

O Grande Golpe do Leste, novo filme escrito e dirigido por Natja Brunckhorst, conhecida por protagonizar o filme Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída, conta a história de uma família comunista na Alemanha Oriental do início dos anos 1990 que vive em um conjunto habitacional nos arredores de Halberstadt, um local que parece ter sido construído para as famílias de operários industriais. Naquela época, nos meses entre a queda do Muro de Berlim e a unificação, os alemães orientais viviam em um limbo, sem saber exatamente para onde estavam indo e tendo dificuldade em se conformar com a ideia do capitalismo. 

Maren (Sandra Hüller) e seu marido Robert (Max Riemelt) percebem que o governo anda passando com vários caminhões pelo local onde moram. O tio de Robert, Markowski (Peter Kurth), é um descontente segurança estadual, que trabalha no depósito subterrâneo onde o governo da Alemanha Oriental vinha despejando sacos de Marco alemão-oriental obsoletos, por não ter capacidade para queimá-los. O casal convence ele a levá-los até lá para descobrir do que se tratava. Volker (Ronald Zehrfeld), com quem Maren tem uma história afetiva, reaparece em suas vidas e acaba entrando nessa junto com o casal. Por achar que o dinheiro não valia mais nada, o segurança deixa que eles levem uma grande quantidade embora.

Essa parte da história é verdadeira, assim como o fato de que muitas notas foram roubadas antes que as restantes fossem finalmente incineradas em 2002. Mas o roteiro de Brunckhorst aprimora os prazos para permitir que Maren e seus companheiros saiam com maços de notas da Alemanha Oriental quando ainda havia uma brevíssima oportunidade de gastá-las. Antes que o filme tenha um momento para digerir essa nova exploração do comunismo versus capitalismo e como uma comunidade criada com base em valores socialistas reage quando riquezas repentinas chegam, outro ponto da trama é lançado aos planos após a chegada do prazo de três dias, que os obriga a encontrar uma nova maneira de gastar o dinheiro.

Primeiro, o golpe gira em torno da compra discreta de itens de consumo, como micro-ondas, de vendedores porta a porta que ainda aceitam o dinheiro antigo e a distribuição desses itens ou (presumivelmente) a revenda. Depois, eles passam a buscar burocratas estatais domiciliados no exterior, afinal eles têm liberdade para trocar dinheiro após o prazo estabelecido para os outros cidadãos. Há também um ponto da trama improvável sobre usar o dinheiro para revitalizar a antiga fábrica em benefício da comunidade – para que o público do filme entenda que os personagens não são apenas gananciosos.

A rebelião liderada por Maren, Robert e Volker segue um tom cômico apropriado que é imediatamente estabelecido pela trilha sonora composta por Hannah Von Hübbenet e Amaury Laurent Bernier. Porém, esse tipo de comédia leve sempre se beneficia de ser relativamente compacto e o fato de o filme durar quase duas horas serve como um alerta. Apesar da abertura lúdica e divertida, o filme rapidamente perde o foco tanto da trama quanto dos temas. A segunda metade até consegue ampliar o elemento satírico da história quando o que está acontecendo é descoberto e se torna necessário prender as autoridades e trazer altos funcionários a bordo, permitindo que também se aproveitem da situação. Só que em alguns momentos isso faz com que pareça que a trama se tornou excessivamente extensa. O triângulo amoroso sem graça introduzido entre os três protagonistas também acrescenta pouco à narrativa geral.

Os dois personagens masculinos não são ruins, mas o roteiro um pouco improvável enfraquece suas motivações e ações – parece impossível que Robert não tenha notado nada entre Maren e Volker, seja no passado ou no presente. Hüller, em particular, transmite o brilho quase travesso sob exaustão e preocupação. Ela entrega muito do coração do filme, que fala muito sobre medos e sonhos muito humanos, todos os quais parecem sem raízes enquanto um país, sistema econômico e visão de mundo desmoronam.

O Grande Golpe do Leste não sabe exatamente se quer ser um filme de assalto ou um filme de romance, ele simplesmente não consegue entregar uma mistura perfeita dos gêneros, o que faz com que não seja tão memorável quanto tinha potencial para ser.  Ainda assim, é uma viagem divertida com um olhar peculiar e terno sobre uma oportunidade incomum aproveitada por uma comunidade para melhorar de vida com um futuro desconhecido pela frente.

O Grande Golpe do Leste chega aos cinemas brasileiros em 12 de junho, com distribuição da Synapse Distribution.

3

Bom

O Grande Golpe do Leste mergulha de forma divertida na vida de pessoas simples que aproveitam uma oportunidade incomum para melhorar a vida de todos ao seu redor, enquanto tentam entender os novos rumos de suas vidas por conta das enormes mudanças políticas do período.