O Bom Professor | Crítica O Bom Professor | Crítica

O Bom Professor | Crítica

Promete, mas não entrega tudo o que pode
Divulgação/Kazak Productions – Frakas Productions

O Bom Professor, o novo drama francês escrito e dirigido por Teddy Lussi-Modeste, é um filme que chega às telas com a promessa de mergulhar em águas turbulentas e delicadas, explorando temas como a relação entre professor e aluno, a fragilidade da reputação e os perigos dos julgamentos precipitados. Inspirado em uma história real vivida pelo próprio Lussi-Modeste, o longa tenta capturar a complexidade de uma acusação que pode destruir vidas, mas, infelizmente, não consegue aprofundar-se tanto quanto o assunto merece. A comparação com A Caça, o aclamado filme dinamarquês estrelado por Mads Mikkelsen, é inevitável, mas enquanto o filme de Thomas Vinterberg mergulha de cabeça nas nuances psicológicas e sociais de sua trama, O Bom Professor fica na superfície, contentando-se com uma narrativa que, embora competente, não ousa ir além do óbvio.

A trama acompanha Julien, interpretado por François Civil, um professor jovem, dedicado e idealista, que busca criar um vínculo genuíno com seus alunos em um colégio marcado por tensões sociais e culturais. Julien é o tipo de educador que se preocupa verdadeiramente com o bem-estar de seus estudantes, dedicando atenção especial àqueles que parecem mais frágeis ou à margem do grupo, como a tímida Leslie. No entanto, essa dedicação é mal interpretada por alguns alunos, que começam a tecer suspeitas sobre as intenções do professor. O que começa como um boato inocente rapidamente se transforma em uma acusação grave de assédio, colocando Julien e Leslie no centro de uma tempestade que nenhum dos dois sabe como enfrentar. A escola, que deveria ser um espaço de aprendizado e acolhimento, torna-se um campo minado, onde olhares de reprovação, sussurros nos corredores e a pressão por uma solução rápida criam um clima de tensão quase insuportável.

Teddy Lussi-Modeste, que também assina o roteiro, demonstra uma direção segura e competente, transformando o ambiente escolar em uma espécie de tribunal informal, onde Julien é julgado não apenas por seus pares, mas por toda a comunidade. A câmera muitas vezes se fixa nos olhares de desconfiança dos alunos e professores, criando uma atmosfera claustrofóbica que reflete o estado mental do protagonista. No entanto, o filme perde a oportunidade de explorar questões mais profundas, como a homossexualidade de Julien, que poderia adicionar camadas interessantes à narrativa, mas acaba sendo tratada de forma superficial. Em um país como a França, onde as tensões sociais, étnicas e culturais são tão presentes, a história poderia ter se beneficiado de uma abordagem mais ousada, que questionasse não apenas a dinâmica entre professor e aluno, mas também as estruturas de poder e preconceito que permeiam a sociedade.

François Civil, no papel de Julien, é um dos grandes trunfos do filme. O ator consegue transmitir com maestria a angústia, a frustração e o desespero de um homem que vê sua vida desmoronar diante de acusações que ele não sabe como combater. Cada cena em que Julien está em sala de aula, tentando manter a compostura enquanto sente o peso dos olhares de desconfiança, é carregada de uma tensão palpável. Civil nos faz sentir a pressão que seu personagem enfrenta, e é impossível não se solidarizar com ele, mesmo quando a narrativa falha em explorar plenamente suas motivações e conflitos internos. O ambiente escolar, que deveria ser um espaço de crescimento e aprendizado, transforma-se em um caldeirão prestes a explodir, e Civil captura perfeitamente essa sensação de estar sempre à beira do abismo.

O Bom Professor é, em muitos aspectos, um filme que aborda um tema relevante e necessário, mas que acaba ficando aquém do seu potencial. A história de Julien e Leslie poderia ser uma reflexão poderosa sobre os perigos dos julgamentos precipitados, a fragilidade da reputação e as complexidades das relações humanas. No entanto, o filme parece contentar-se em seguir um caminho mais seguro, evitando mergulhar em questões mais espinhosas e controversas. Ainda assim, é uma obra que consegue manter o espectador engajado, graças à atuação convincente de François Civil e à atmosfera de tensão criada por Lussi-Modeste. Para quem aprecia dramas que exploram as nuances da condição humana, O Bom Professor pode não ser uma obra-prima, mas é, sem dúvida, um filme que vale a pena ser visto e discutido.

Com distribuição no Brasil da Mares Filmes, O Bom Professor chega amanhã nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Niterói, Brasília e Salvador.

2.5