Milton Bituca Nascimento | Crítica Milton Bituca Nascimento | Crítica

Milton Bituca Nascimento | Crítica

Um testemunho do poder transformador da arte e da capacidade de um homem de tocar o mundo com sua voz e sua alma.
Divulgação

O documentário Milton Bituca Nascimento, dirigido por Flavia Moraes e escrito em parceria com Marcélo Ferla, é uma obra que se propõe a mergulhar nas camadas profundas de um dos maiores nomes da música popular brasileira, um artista cuja voz e composições transcendem barreiras geográficas, temporais e culturais. Milton Nascimento, ou simplesmente Bituca, como é carinhosamente chamado, é um daqueles raros talentos que conseguem, com aparente simplicidade, tocar o cerne da alma humana. O filme não se contenta em apenas celebrar a grandiosidade do ídolo, mas busca explorar a conexão espiritual e emocional que sua música estabeleceu com milhões de pessoas ao redor do mundo. A escolha entre brasileiros e estrangeiros, para depor sobre o impacto de sua obra, já indica o alcance universal de sua arte. Cada depoimento é uma peça de um mosaico que revela como Bituca se tornou um farol não apenas para a música, mas para a cultura e a identidade de um povo.

Milton Bituca Nascimento | Crítica

A narrativa do documentário se concentra nos dois anos de gravações que culminaram na última apresentação de Milton no estádio Mineirão, em Belo Horizonte, cidade que sempre foi um ponto central em sua vida e obra. Esse momento é tratado com a reverência que merece, quase como um ritual de passagem, uma despedida simbólica de um artista que, mesmo com a saúde debilitada, continua a emanar uma energia magnética. A direção de Flavia Moraes captura com sensibilidade a dualidade desse momento: a celebração de uma carreira brilhante e a melancolia de um ciclo que se encerra. A câmera parece dançar ao ritmo das canções, alternando entre planos amplos que mostram a magnitude do evento e closes íntimos que revelam a emoção estampada no rosto de Bituca e de seus fãs. É impossível não se emocionar ao ver o artista, já fragilizado, mas ainda assim imponente, entregando-se completamente à música que o consagrou.

Um dos grandes trunfos do documentário é a forma como ele utiliza a discografia de Milton Nascimento não apenas como trilha sonora, mas como um fio condutor que guia a narrativa. Cada música escolhida é um capítulo à parte, uma janela para um momento específico de sua carreira ou para uma emoção que ele soube traduzir como poucos. Suas canções são contextualizados pelas histórias por trás de sua criação e pelos depoimentos de quem foi tocado por elas. A música de Milton é tratada como um personagem central, quase como se tivesse vida própria, capaz de evocar memórias, inspirar reflexões e unir pessoas de diferentes gerações e origens. É uma prova do poder atemporal de sua arte, que continua a ressoar com a mesma intensidade décadas após seu lançamento.

A narração de Fernanda Montenegro, com sua voz grave e carregada de emoção, é um acerto magistral. Ela não apenas conduz o espectador pela trajetória de Milton, mas também empresta um tom poético e introspectivo ao documentário. Suas palavras parecem ecoar a própria musicalidade de Bituca, criando uma harmonia entre imagem, som e narrativa. No entanto, é preciso destacar que a estrutura do filme, embora rica em conteúdo, pode causar certa confusão em alguns momentos. Flavia Moraes opta por uma abordagem não linear, avançando e retrocedendo no tempo de forma aparentemente desorganizada. Essa escolha estilística, embora possa ser vista como uma tentativa de refletir a complexidade e a multiplicidade da carreira de Milton, acaba por dispersar um pouco a atenção do espectador, especialmente daqueles menos familiarizados com sua trajetória. Ainda assim, é um risco que vale a pena, pois reforça a ideia de que a arte de Milton Nascimento não pode ser contida em uma narrativa linear ou simplista.

Ver personalidades como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Mano Brown e Criolo falando sobre Milton é um verdadeiro deleite, não apenas pelo peso desses nomes, mas pela forma como cada um deles consegue capturar uma faceta diferente do artista. Chico Buarque fala da delicadeza e da profundidade de suas letras, Caetano Veloso destaca sua capacidade de unir o regional e o universal, enquanto Mano Brown e Criolo ressaltam a importância de Milton como um ícone negro em um país que ainda luta para reconhecer e valorizar sua herança afrodescendente. Esses depoimentos não apenas enriquecem o documentário, mas também servem como um lembrete do impacto multifacetado de Milton Nascimento, que transcende gêneros, gerações e fronteiras.

Por fim, Milton Bituca Nascimento é uma homenagem mais do que justa a um artista que, apesar de sua imensa contribuição para a cultura brasileira, ainda não recebeu o reconhecimento que merece em seu próprio país. Enquanto no exterior Milton é reverenciado quase como uma entidade, no Brasil ele permanece, para muitos, uma figura distante, conhecida apenas por aqueles que cresceram ouvindo suas canções ou por entusiastas da música popular. O documentário, embora não consiga capturar toda a magnitude do artista, cumpre o papel essencial de jogar luz sobre sua obra e sua importância, servindo como um convite para que novas gerações descubram e se encantem com a música de Milton Nascimento. É um filme que, assim como as canções de Bituca, deixa uma marca profunda e duradoura, um testemunho do poder transformador da arte e da capacidade de um homem de tocar o mundo com sua voz e sua alma.

Com distribuição da Gullane+, Milton Bituca Nascimento chega amanhã nos cinemas.


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BOM

É um filme que, assim como as canções de Bituca, deixa uma marca profunda e duradoura, um testemunho do poder transformador da arte e da capacidade de um homem de tocar o mundo com sua voz e sua alma.