Se há um território onde a Netflix se sente plenamente confortável é o dos romances açucarados, daqueles que derretem o coração como um chocolate ao sol. São histórias que aquecem, emocionam e, principalmente, abraçam o espectador com a doçura de um amor idealizado, quase sempre embalado por belas paisagens e trilhas que insistem em tocar nossos sentimentos mais profundos. Nesse nicho cuidadosamente cultivado, a plataforma encontrou em Sofia Carson sua musa moderna — uma atriz que transita com facilidade entre a delicadeza e a força emocional, entregando personagens cativantes que conquistam de imediato. Em títulos como Continência ao Amor e A Lista da Minha Vida, Carson já havia provado seu magnetismo. Até mesmo no simpático Feel the Beat, onde o romance não é o eixo, seu carisma brilhou. Agora, em Meu Ano em Oxford, ela retorna mais madura, mais intensa, e com sua atuação mais completa até aqui.
Inspirado no romance de Julia Whelan, Meu Ano em Oxford segue a clássica estrutura de um conto de amor com toques dramáticos, mas se destaca pela forma com que equilibra emoção e introspecção. A história gira em torno de Anna De La Vega, uma jovem nova-iorquina ambiciosa e disciplinada, que finalmente vê o sonho de estudar em Oxford se concretizar. A princípio, sua missão é clara: focar nos estudos e alavancar sua carreira acadêmica. Mas o destino, sempre travesso em tramas românticas, coloca em seu caminho Jamie Davenport, um professor de literatura charmoso e intelectualmente instigante. Interpretado com vulnerabilidade e magnetismo por Corey Mylchreest (conhecido por Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton), Jamie representa tanto a tentação quanto o desafio emocional que Anna tenta evitar. A relação que começa como algo casual logo se transforma num envolvimento profundo, que é gradualmente ameaçado por um segredo devastador escondido por ele — uma virada que muda o rumo da narrativa e leva o espectador a um mergulho emocional inesperado.
O que torna Meu Ano em Oxford uma experiência mais marcante do que se poderia prever é a direção de Iain Morris. Conhecido por trabalhos cômicos, Morris mostra um domínio surpreendente sobre o drama romântico, conduzindo a história com ritmo sensível e um olhar atento para as nuances emocionais dos protagonistas. A química entre Carson e Mylchreest é palpável desde os primeiros diálogos afiados até os olhares silenciosos mais adiante, entregando uma relação que, embora apoiada em clichês, soa verdadeira e comovente. A estrutura narrativa — que começa com provocações espirituosas e evolui para uma história de amor intensa — segue a cartilha do gênero, mas é executada com tanto cuidado que o espectador se permite ser fisgado sem resistência.
A adaptação, no entanto, opta por mudanças significativas em relação ao livro original, especialmente no terceiro ato. Enquanto a obra de Whelan mantém um tom mais contido, o longa aposta em uma carga dramática elevada, que evoca inevitavelmente o universo emocional de autores como John Green. Essa escolha pode dividir opiniões: há quem veja excesso e há quem encontre aí o verdadeiro coração do filme. O certo é que Meu Ano em Oxford toca em temas universais — a efemeridade da vida, o medo da perda, o valor de viver o presente — e os faz ressoar através de diálogos embalados por poesia e reflexões literárias, que pontuam o roteiro assinado por Allison Burnett e Melissa Osborne com delicadeza e propósito.
Tecnicamente, o filme é um deleite visual. A fotografia aproveita ao máximo os cenários da Universidade de Oxford, entregando imagens que combinam história e melancolia, reforçando a aura romântica e clássica que envolve o casal protagonista. A trilha sonora, ainda que cafona em alguns momentos, cumpre bem seu papel emocional: é daquelas que gritam o que os personagens ainda não disseram, e que talvez por isso funcione tão bem — porque neste tipo de romance, o excesso também tem sua beleza. É tudo uma questão de entrega: quem se entrega à proposta do filme, se permite emocionar.
Ao final, Meu Ano em Oxford é mais do que apenas mais um romance da Netflix. É um testemunho da evolução artística de Sofia Carson, que se firma de vez como um nome forte dentro do catálogo da plataforma. Sua atuação aqui é comovente, segura e cheia de camadas, e sua parceria com Mylchreest eleva o longa a um patamar que talvez não estivesse no roteiro original. É aquele tipo de romance que te faz sorrir, chorar, sonhar. E se, ao terminar, você sentir aquele vazio leve no peito — como quem acabou de voltar de um lugar onde se foi feliz —, então o filme cumpriu exatamente o que se propôs.
BOM
É aquele tipo de romance que te faz sorrir, chorar, sonhar. E se, ao terminar, você sentir aquele vazio leve no peito — como quem acabou de voltar de um lugar onde se foi feliz —, então o filme cumpriu exatamente o que se propôs.