Kasa Branca, dirigido e escrito por Luciano Vidigal, emerge como uma das joias mais impactantes do cinema nacional em 2024. Carregado de emoção, autenticidade e uma narrativa visceral, o filme conquistou o Festival do Rio, recebendo os prêmios de Melhor Direção, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Fotografia e Melhor Trilha Sonora. Após uma jornada por diversos festivais, a aguardada estreia nas telonas finalmente oferece ao público uma experiência cinematográfica marcante, capaz de ecoar nos corações e mentes de seus espectadores.
Inspirado em uma história real, o longa mergulha profundamente na vida de Dé (Big Jaum), um jovem da periferia de Chatuba, que, diante das adversidades da vida, encontra refúgio na convivência com sua avó, Dona Almerinda (Teca Pereira). Diagnosticada com Alzheimer e com os dias contados, Dona Almerinda torna-se a âncora emocional de Dé. Ele, por sua vez, conta com o apoio incondicional de seus amigos Adrianim (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco), formando um trio que luta contra as duras realidades sociais enquanto busca aproveitar ao máximo os últimos momentos ao lado da avó. É nesta relação que o filme encontra sua alma: um equilíbrio delicado entre a crueza da vida e a força dos laços que a tornam suportável.
À primeira vista, Kasa Branca pode parecer mais um drama que explora a realidade negra e periférica no Brasil, mas o roteiro de Vidigal vai além, revelando camadas de sensibilidade que poucas obras conseguem alcançar. Não é apenas sobre dor e luta; é também sobre esperança, amor e a forma como a amizade se torna um pilar essencial para a sobrevivência. Dé, Adrianim e Martins não são apenas sobreviventes; eles são sonhadores, e sua luta não é apenas para resistir, mas para viver, amar e criar memórias que transcendem o peso de sua realidade. Vidigal, com uma direção íntima e empática, captura a essência da juventude em suas múltiplas facetas: a vulnerabilidade, a resiliência e a força que surge em meio à adversidade.
O elenco é um espetáculo à parte, e a decisão de Vidigal de dar protagonismo a jovens talentos negros é um ato não apenas artístico, mas político e social. Big Jaum, Ramon Francisco e Diego Francisco entregam performances arrebatadoras, construídas com uma verdade que só pode vir de quem compreende profundamente a realidade de seus personagens. Eles não apenas atuam; eles vivem cada cena, fazendo com que cada emoção pareça palpável para o público.
Além disso, o filme traz um elenco de apoio que enriquece ainda mais a narrativa, com nomes como Babu Santana, Roberta Rodrigues, Otavio Muller e Guti Fraga, que acrescentam camadas de profundidade ao mundo construído por Vidigal. A estreia do rapper L7nnon e do DJ Zullu como atores também é um ponto interessante, adicionando autenticidade à atmosfera urbana e musical do filme.
A direção de fotografia, premiada com razão, transforma as ruas de Chatuba em personagens por si só. Cada enquadramento, cada jogo de luz e sombra, captura tanto a dureza quanto a beleza resiliente da periferia. A trilha sonora, por sua vez, é uma extensão emocional da narrativa, misturando elementos da cultura urbana com composições que intensificam os momentos de maior carga emocional.
Kasa Branca não é apenas um filme; é um manifesto visual e emocional sobre uma realidade que muitos preferem ignorar. É um lembrete de que, mesmo nas condições mais adversas, a humanidade encontra formas de florescer. Luciano Vidigal entrega uma obra que transcende o entretenimento, convidando o público a olhar para uma realidade próxima, mas frequentemente invisibilizada. Encantador, emocionante e profundamente relevante, o longa não só reafirma a força do cinema nacional, mas também o seu papel como espelho e voz de um país multifacetado.
Kasa Branca estreia no dia 30 de janeiro nos cinemas.
EXCELENTE
Kasa Branca é um lembrete de que, mesmo nas condições mais adversas, a humanidade encontra formas de florescer. Luciano Vidigal entrega uma obra que transcende o entretenimento, convidando o público a olhar para uma realidade próxima, mas frequentemente invisibilizada. Encantador, emocionante e profundamente relevante, o longa não só reafirma a força do cinema nacional, mas também o seu papel como espelho e voz de um país multifacetado.