Fora de Mim, o filme original do Disney+ baseado no romance Out of My Mind de Sharon M. Draper, chegou à plataforma em 22 de novembro sem grande alarde ou campanha promocional. Uma verdadeira pena, pois se trata de uma obra cinematográfica que, longe de ser apenas mais um título no catálogo do streaming, é uma pérola escondida que merece ser descoberta e celebrada. O filme é uma mistura delicada e poderosa de diversão, emoção e profundidade, trazendo uma mensagem urgente sobre inclusão, respeito e amor, especialmente para pessoas com condições especiais. É um daqueles raros filmes que consegue entreter enquanto educa, tocando o coração do espectador sem cair em clichês ou manipulações emocionais baratas. E, em um mundo onde a representatividade ainda é um tema urgente, Fora de Mim se destaca por sua abordagem autêntica e necessária.
Um dos aspectos mais impactantes de Fora de Mim é a escolha da atriz Phoebe-Ray Taylor para interpretar Melody Brooks, a protagonista do filme. Phoebe-Ray, assim como sua personagem, tem paralisia cerebral, e sua presença no longa é um marco significativo para a representação de pessoas com deficiência no cinema. Infelizmente, ainda é raro ver atores e atrizes com condições especiais interpretando papéis que refletem suas próprias experiências. A indústria cinematográfica, em grande parte, ainda prefere recorrer a atores sem deficiência para interpretar personagens com deficiência, o que acaba perpetuando estereótipos e excluindo vozes que precisam ser ouvidas. Phoebe-Ray Taylor não só quebra essa barreira, como também entrega uma performance carismática, sensível e cheia de nuances, provando que talento e autenticidade podem (e devem) andar de mãos dadas.
A história de Fora de Mim gira em torno de Melody Brooks, uma menina do sexto ano que, apesar de sua paralisia cerebral e de ser não-verbal, possui uma mente brilhante e cheia de ideias. No entanto, suas limitações físicas e a falta de acessibilidade em sua escola e comunidade fazem com que ela seja constantemente subestimada e excluída. A virada na vida de Melody começa quando uma jovem professora (Courtney Taylor) percebe o potencial inexplorado da aluna e a ajuda a integrar o ensino regular. A partir daí, Melody começa a mostrar ao mundo que, apesar de suas limitações, ela tem muito a contribuir.
A diretora Amber Sealey, conhecida por trabalhos como Ted Bundy: A Confissão Final, traz uma abordagem realista e sensível ao filme. Ela não cai na tentação de romantizar ou dramatizar excessivamente a vida de Melody, optando por mostrar as dificuldades e os desafios enfrentados por pessoas com deficiência de forma honesta e respeitosa. Sealey consegue capturar a essência da infância de Melody, destacando que, apesar de suas limitações, ela é uma criança como qualquer outra, com sonhos, frustrações e uma vontade imensa de ser entendida e aceita. A direção de Sealey é discreta, mas eficaz, permitindo que a história e os personagens brilhem por conta própria, enquanto ela cuida para que o filme nunca perca seu tom humanista e inclusivo.
Um dos elementos mais interessantes de Fora de Mim é a narração de Jennifer Aniston, que dá voz aos pensamentos e sentimentos de Melody. Aniston, conhecida mundialmente por seu papel como Rachel em Friends, empresta sua voz carismática e cheia de personalidade para a protagonista, criando um contraste emocionante entre a Melody silenciosa do mundo exterior e a Melody eloquente e cheia de opiniões que habita seu mundo interior. A escolha de Aniston para esse papel não é apenas uma homenagem ao amor de Melody pela personagem Rachel, mas também uma forma de conectar o público com a protagonista de maneira mais íntima e profunda. Através da narração, entendemos que Melody não quer ser tratada com pena ou compaixão excessiva; ela quer ser vista como uma pessoa completa, com algo importante a dizer.
Um dos momentos mais emocionantes do filme ocorre quando Melody, através de um aparelho de tecnologia assistiva, consegue finalmente se expressar com suas próprias palavras. A cena é um marco não apenas na narrativa, mas também no discurso do filme sobre a importância de dar voz a quem muitas vezes é silenciado. A frase dita por Melody – “Não importa qual é a minha voz. O que importa é que eu tenho algo a dizer” – ressoa como um mantra ao longo de todo o filme, encapsulando a mensagem central da obra: todos, independentemente de suas limitações, têm algo valioso a contribuir, e é dever da sociedade garantir que essas vozes sejam ouvidas. A tecnologia assistiva, nesse contexto, não é apenas uma ferramenta, mas um símbolo de liberdade e empoderamento.
O final de Fora de Mim é tão emocionante quanto esperançoso, deixando o espectador com uma mensagem poderosa sobre a importância da inclusão e da empatia. Melody, interpretada de forma brilhante por Phoebe-Ray Taylor, consegue finalmente mostrar ao mundo o seu valor, não através de grandes gestos ou conquistas extraordinárias, mas simplesmente por existir e ser quem ela é. O filme não oferece respostas fáceis ou soluções mágicas para os desafios enfrentados por pessoas com deficiência, mas nos convida a refletir sobre como podemos, individual e coletivamente, contribuir para um mundo mais justo e inclusivo. Phoebe-Ray Taylor, em sua estreia no cinema, entrega uma performance que merece ser lembrada e celebrada, e é impossível não torcer para que ela tenha muitas outras oportunidades no futuro.
Fora de Mim se destaca como um filme necessário e transformador. Ele não apenas conta uma história emocionante e inspiradora, mas também abre espaço para conversas importantes sobre diversidade, equidade e inclusão. O Disney+ poderia ter dado mais visibilidade a essa obra, mas cabe a nós, espectadores, garantir que ela não passe despercebida. Fora de Mim é um lembrete poderoso de que todos nós temos algo a dizer, e que é nosso dever garantir que ninguém fique de fora.
EXCELENTE
O Disney+ poderia ter dado mais visibilidade a essa obra, mas cabe a nós, espectadores, garantir que ela não passe despercebida. Fora de Mim é um lembrete poderoso de que todos nós temos algo a dizer, e que é nosso dever garantir que ninguém fique de fora.