Faça Ela Voltar | Após Fale Comigo, novo filme consagra os irmãos Phillipou no terror

Após o sucesso de Fale Comigo a dupla de diretores Danny e Michael Philippou, em mais uma parceria com a A24, encabeçam mais uma história de possessão demoníaca. Em Faça Ela Voltar eles trabalham esse sub-gênero do terror em paralelo com questões sociais e dores pessoais. 

Após a morte do pai, os irmãos Andy, um garoto com o passado problemático prestes a completar 18 anos, e Piper, sua irmã mais nova com deficiência visual, são enviados para um lar adotivo onde dividem a casa com Laura, a nova tutora das crianças, e Oliver, um garoto misterioso que é mantido em reclusão pela tutora. 

Diferente de Fale Comigo que mescla os filmes adolescentes com o terror e é repleto de cenas mais leves e até mesmo cômicas, Faça Ela Voltar investe em uma atmosfera tensa logo nos primeiros minutos. Ao contrário de muitos filmes que tratam de possessões demoníacas e pessoas desajustadas, onde o espectador descobre o que está acontecendo ao mesmo tempo que os personagens, os irmãos Philippou invertem esse lugar comum e nos mostra em primeira mão o que está acontecendo naquela casa, claro que eles deixam espaço para algumas novas surpresas ao longo da trama. 

Mostrar ao espectador o que está acontecendo antes que os personagens descubram é uma escolha narrativa acertada e que serve como impulsionador do clima de tensão que é instaurado, e faz com que fiquemos aflitos esperando que os personagens descubram a situação e superem ela. 

Apesar do suspense e da tensão psicológica serem os principais condutores do filme, pelo menos da primeira metade, o gore e cenas mais explícitas não ficam de lado. A dupla de diretores não economizou nas cenas de horror corporal, possessões e outros momentos macabros e perturbadores. 

No entanto, o filme não se prende apenas em ser uma história de possessão, Faça Ela Voltar é muito mais que isso. Como já é característico das produções de terror da A24 e, agora, dos irmãos, o filme trabalha com questões sociais e dores pessoais que geram muito mais medo e aflição do que qualquer criatura sobrenatural poderia fazer.

Para trabalhar com essas temáticas e a fusão de gêneros de forma excepcional, contar com um elenco talentoso era essencial e, felizmente, essa missão foi concluída por cada um deles. 

Começando pela dupla de irmãos, o jovem Billy Barratt, que aos 18 anos já conta com um Emmy Internacional [vencido aos 13 anos de idade] entrega uma performance emocionante ao ter que, desde cedo, se colocar em uma posição de maturidade para cuidar da irmã mais nova. A estreante Sora Wong é quem dá vida a jovem Piper, apesar desse ser seu primeiro papel, a atriz consegue entregar uma atuação que capta muito bem a mudança que sua personagem passa ao longo do filme, desde o luto, a incerteza e o amadurecimento para enfrentar a situação que foi colocada. 

Jonah Wren Phillips, é o recluso Oliver, com apenas 12 anos de idade ele é, sem dúvidas, o maior destaque desse filme. Sendo responsável pela maioria das cenas mais fortes e perturbadoras, o jovem ator consegue expressar com maestria as nuances de seu personagem. Por fim, Sally Hawkins, conhecida por A Forma Da Água, é Laura a tutora das crianças que está tentando lidar com a morte de sua filha, Cathy. Em sua atuação, Sally consegue tornar palpável a dor, a angústia, a culpa e a raiva de ter perdido sua filha quando ainda era criança e como ela precisa encontrar formas para tentar suprir a falta que a filha faz. 

Faça Ela Voltar instaura um clima opressor logo em seus primeiros minutos em tela e essa sensação se intensifica ao decorrer da obra e é complementada por um drama que torna o filme ainda mais assombroso. Muito além do terror gráfico, esse é um filme sobre luto e sobre como deixamos nosso bem-estar de lado para cuidar daqueles que amamos. Se em Fale Comigo o mundo ficou interessado no que os irmãos Phillipou poderiam criar, em Faça Ela Voltar eles consagram seu nome na história do terror.